CAPÍTULO 29

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É possível que esse seja o pior hematoma que eu já vi na vida.

Abri os olhos devagar.

Estava deitada de bruços em um emaranhado de lençóis retorcidos, e cada nó ali me lembrava dos nossos corpos se entrelaçando sobre eles a noite toda.

Tive um flashback súbito de uma das mãos dela ao lado do meu rosto, agarrando os lençóis de algodão com ferocidade, enquanto ia baixando o corpo lentamente para dentro do meu, em um ritmo tão aflitivamente lento que me empurrou pelo precipício da lascívia e do desejo para um mundo de sensações ainda não descobertas.

– Essa não é a saudação matinal mais romântica que eu já ouvi na vida – resmunguei, sonolenta, contra o travesseiro.

Macarena estava de lado, apoiada no cotovelo, olhando fixamente para o meu corpo de bruços. Ela se abaixou, afastou meu cabelo para o lado e beijou a pele sensível da minha nuca.

– Tem razão. Desculpe. Bom dia.

Sua voz era um ronronado sedutor quando ela deslizou os lábios para sussurrar no meu ouvido: – Ontem à noite... você e eu... a sensação foi... não existem palavras.

Era uma façanha e tanto, a de roubar a uma escritora a capacidade de formar uma frase coerente.

Sorri contra o travesseiro de plumas.

– Bem melhor – murmurei, em tom de aprovação. – Ainda assim, que hematoma medonho!

O travesseiro engoliu minha risada.

Os lábios de Macarena se lançaram a uma atividade bem mais interessante do que a fala, seguindo a curva da minha coluna com um rastro de beijos suaves como plumas e parando apenas no limite da pele sensível e machucada. Delicadamente, ela beijou o ferimento – e sua língua deu início a uma reação em cadeia muito natural dentro de mim.

– Melhorou? – perguntou ela, os lábios encostados na minha pele.

Respondi com um pequeno gemido, e esse som a encorajou. Com todo o cuidado, ela me fez virar. Vi o desejo se reacender nos olhos cristalinos que percorriam meu corpo, detendo-se na elevação dos seios e então passando pela cintura até as pernas, que já começavam a se afastar.

– Então, dói em algum outro lugar? – provocou, com a voz baixa e sensual.

– Talvez outras partes precisem da sua atenção – murmurei rouco.

– Vou ver o que posso fazer – prometeu ela, baixando a cabeça.

O quarto mergulhou em silêncio, a não ser pelos sons irregulares da nossa respiração.

Muito tempo se passou até que nós duas fôssemos novamente capazes de falar.

Devo ter cochilado, pois a luz matinal que entrava pela janela mudara sua rota e estava passando por cima da cama quando tornei a abrir os olhos. Minha cabeça estava sobre o peito de Macarena e seus dedos percorriam as mechas do meu cabelo lentamente, girando-as e enroscando-as de maneira a me manter presa a ela, como se houvesse qualquer risco de eu querer estar em outro lugar. Aconcheguei-me ainda mais à curva do seu corpo, sentindo as batidas fortes e constantes do seu coração sob a cabeça e o calor das suas pernas enroscadas as minhas.

Eu devia ter sabido que um momento de satisfação tão completa e absoluta era perfeito demais para durar.

Macarena inclinou a cabeça e beijou minha testa.

– Correndo o risco de ser acusada novamente de ser pouco romântica, posso dizer apenas que estou simplesmente faminta?

Naquele momento, ocorreu-me que havia muito tempo que não fazíamos nada de tão prosaico quanto comer. Como se pensar em comida o tivesse acordado de um cochilo, meu estômago concordou ruidosamente.

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