É possível que esse seja o pior hematoma que eu já vi na vida.
Abri os olhos devagar.
Estava deitada de bruços em um emaranhado de lençóis retorcidos, e cada nó ali me lembrava dos nossos corpos se entrelaçando sobre eles a noite toda.
Tive um flashback súbito de uma das mãos dela ao lado do meu rosto, agarrando os lençóis de algodão com ferocidade, enquanto ia baixando o corpo lentamente para dentro do meu, em um ritmo tão aflitivamente lento que me empurrou pelo precipício da lascívia e do desejo para um mundo de sensações ainda não descobertas.
– Essa não é a saudação matinal mais romântica que eu já ouvi na vida – resmunguei, sonolenta, contra o travesseiro.
Macarena estava de lado, apoiada no cotovelo, olhando fixamente para o meu corpo de bruços. Ela se abaixou, afastou meu cabelo para o lado e beijou a pele sensível da minha nuca.
– Tem razão. Desculpe. Bom dia.
Sua voz era um ronronado sedutor quando ela deslizou os lábios para sussurrar no meu ouvido: – Ontem à noite... você e eu... a sensação foi... não existem palavras.
Era uma façanha e tanto, a de roubar a uma escritora a capacidade de formar uma frase coerente.
Sorri contra o travesseiro de plumas.
– Bem melhor – murmurei, em tom de aprovação. – Ainda assim, que hematoma medonho!
O travesseiro engoliu minha risada.
Os lábios de Macarena se lançaram a uma atividade bem mais interessante do que a fala, seguindo a curva da minha coluna com um rastro de beijos suaves como plumas e parando apenas no limite da pele sensível e machucada. Delicadamente, ela beijou o ferimento – e sua língua deu início a uma reação em cadeia muito natural dentro de mim.
– Melhorou? – perguntou ela, os lábios encostados na minha pele.
Respondi com um pequeno gemido, e esse som a encorajou. Com todo o cuidado, ela me fez virar. Vi o desejo se reacender nos olhos cristalinos que percorriam meu corpo, detendo-se na elevação dos seios e então passando pela cintura até as pernas, que já começavam a se afastar.
– Então, dói em algum outro lugar? – provocou, com a voz baixa e sensual.
– Talvez outras partes precisem da sua atenção – murmurei rouco.
– Vou ver o que posso fazer – prometeu ela, baixando a cabeça.
O quarto mergulhou em silêncio, a não ser pelos sons irregulares da nossa respiração.
Muito tempo se passou até que nós duas fôssemos novamente capazes de falar.
Devo ter cochilado, pois a luz matinal que entrava pela janela mudara sua rota e estava passando por cima da cama quando tornei a abrir os olhos. Minha cabeça estava sobre o peito de Macarena e seus dedos percorriam as mechas do meu cabelo lentamente, girando-as e enroscando-as de maneira a me manter presa a ela, como se houvesse qualquer risco de eu querer estar em outro lugar. Aconcheguei-me ainda mais à curva do seu corpo, sentindo as batidas fortes e constantes do seu coração sob a cabeça e o calor das suas pernas enroscadas as minhas.
Eu devia ter sabido que um momento de satisfação tão completa e absoluta era perfeito demais para durar.
Macarena inclinou a cabeça e beijou minha testa.
– Correndo o risco de ser acusada novamente de ser pouco romântica, posso dizer apenas que estou simplesmente faminta?
Naquele momento, ocorreu-me que havia muito tempo que não fazíamos nada de tão prosaico quanto comer. Como se pensar em comida o tivesse acordado de um cochilo, meu estômago concordou ruidosamente.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Nossa História
FanfictionBárbara está prestes a se casar com Gonzalo, seu namorado por muito tempo. Ela não poderia estar mais empolgada. De repente... tudo muda. Ela é salva por uma estranha. Abalada, decide adiar o casamento. Nesse meio-tempo, Bárbara descobre segredo...