Singular

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Singularidade

Capítulo Único.

“Permita-se, á sua total singularidade...”

- Vantuilo Gonçalves

XXX

Novamente eu o vi passar próximo de mim. 

Eu não sabia ao certo o que fazer, como pode algo assim acontecer... Eu sempre sei o que fazer, contudo dessa vez, eu não tenho ideia de como agir. Essa incerteza me mata, aff. Eu estava no aguardo do tempo passar, o que eram 500 anos aguardando minha nova mestra? O tempo sempre fora algo relativo para mim, já haviam se passado 100 anos desde o meu nascimento e eu ainda aparentava ter um pouco mais de 17 anos, então o tempo era algo singular para mim. 

Eu o olhei em sua tranquilidade de sempre, a forma como ficava sentado na beira do rio me passava essa sensação, tranquilidade. Porque eu tinha que ter me interessado por ele? 

Os olhos verdes cruzaram com os meus e logo tratei de desviar o olhar, era sempre assim, ele parecia saber quando eu o olhava e sempre me flagrava, e claro, eu sempre fingia que era coincidência. Haviam outros youkais naquele lugar simples, um pequeno vilarejo de humanos. Alguns mais antigos outros recém-acolhidos como ele, e havia eu. 

Eu era o youkai que aguardava o tempo passar no mesmo lugar... Já haviam se passado 50 anos desde que ela se fora, o que eram mais 450? Algumas garotas se aproximaram dele, eu as vi passando sorridentes e cochichando, era assim quase todos os dias, eu sentia o cheiro de desejo vindo dessas humanas atiradas... 

Mas também quem não cederia a elas? Todas eram belas e singulares em sua beleza. Os olhos de Aka eram coloridos, o corpo de Yuuwa era chamativo e cheio de curvas, Kim era a de pele de porcelana e Mika tinha o cabelo mais bonito dentre elas, com certeza alguma o agradaria. 

— Vamos passear conosco hoje, Yukio? — escutar o nome dele, fez com que me arrepiasse. Eu sempre me levantava naquele momento, nunca ficava para ver o que acontecia, mas hoje eu não iria sair.

Eu estava cansado de fugir. 

O céu estava lindo naquela tarde, eu gostava de ficar olhando a vista dali, mas ao que parece eu não era o único. A maioria das vezes Yukio estava aqui também, todavia nunca sozinho. Eu ficava o observando, o jeito tímido de conversar, a pele clara, os olhos verdes, os fios negros, a forma como sorria, como fechava os olhos... Tudo nele era único aos meus olhos... Desde quando eu havia me apaixonado assim? 

O vento soprou bagunçando meu cabelo, fechei os olhos aceitando de bom grado aquela caricia. Eu nunca iria me aproximar dele, talvez eu devesse me afastar um pouco desse lugar, quem sabe assim eu o esqueceria? Abri os olhos levemente, Yukio estava sentado no lugar de sempre próximo ao rio, e a trupe o cercava, suspirei cansado. Levantei-me batendo a grama da roupa, estava na hora de me retirar. 

Nossos olhares se cruzaram novamente, para mim era como se o tempo tivesse parado naquele segundo. Naquela troca de olhares.

Virei-me e dei como encerrado nosso 'papo'. Ao longe escutei ele perguntando algo para uma das meninas e apenas sua resposta "Takeo". Ele queria saber meu nome? Por quê? Deixei esse pensamento de lado e segui para o poço come ossos, como Shippou me dissera. Foi ali que Kagome voltou para a sua era e me deixou aqui, mas nossa ligação estava intacta, eu me sentia puro e era isso o que importava no fim, eu era ligado a ela. 

Sentei-me apoiado ao poço. Fechei meus olhos e me deixei divagar, por um instante me deixei imaginar como seria ficar com Yukio, beijá-lo, tocá-lo... Ver seu sorriso só para mim, assim como toda sua atenção, vê-lo em sua singularidade, em sua rotina e suas manias, aprender cada uma delas, aceitar as que não suporto e amar as que aprecio... Decorar cada parte de seu corpo, seu sorriso, seu cheiro... 

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