𝔙𝔦𝔫𝔱𝔢 𝔒𝔦𝔱𝔬

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Lady Cassandra encontrava-se de pé diante do grande salão, paralisada como uma rocha diante da cena a sua frente.

Um illyriano de longos cabelos negros ajoelhado, com as asas completamente destroçadas e o rosto manchado em tons de púrpura e marrom, provavelmente devido as pancadas que havia recebido de seu parceiro. Amin posicionava uma lâmina contra a garganta do féerico, que esbravejava entre as mãos de Benjamin. E ainda assim, quando o macho finalmente ergueu a voz em uma ameaça, esta saiu tão fria e calma que todo o corpo de Cassandra congelou em terror.

" - Irá nos contar os planos de seu mestre, ou arrancarei dente por dente, membro por membro, até não sobrar mais nada que possam cremar. Entendeu? "

E quando os guerreiros arrastaram o prisioneiro para o calabouço, a metamorfa decidiu por se manter ali, pelo bem de seu estômago e de sua sanidade. Havia uma linha que ela sabia, que uma vez que a cruzasse não teria como retornar. E esse monstro, Cassandra manteria trancado até que fosse a hora de libertá-lo. E que os deuses tivessem piedade de quem estivesse em seu caminho quando isso acontecesse.

O sultão permanecia com uma expressão de serenidade em seu rosto, tamborilando vez ou outra os dedos bronzeados em seu próprio trono, enquanto a rainha, encontrava-se imóvel a frente dos vitrais coloridos do grande palácio, observando sua corte a milhas de distância em silêncio. A ausência de quaisquer que fossem os cantos dos pássaros, tornava-se ainda mais imensa naquele grande palácio. Quanto mais os dias passavam-se, parecia que a apreensão tomava conta de cada féerico e feiticeiro daquele ambiente. Até mesmo o capitão andava de um lado ao outro, tão tenso quanto uma corda esticada. Faziam dias, desde que a metamorfa decidira por tornar-se uma espiã, espreitando-se entre vielas e becos em busca de quaisquer informações, não importasse o preço. E ela sabia, mais que qualquer um, porque Adara decidira dar aquele baile. E somente a idéia de uma despedida daquela forma, fazia seu estômago se revirar em desgosto.

Duas noites após a ameaça de Devlon durante a reunião, a féerica havia se esgueirado do seus aposentos, saltando entre telhados de barro e pedra, até tendas de tecidos desgastados pelo tempo. Encontrava-se sentada entre barris de vinho, girando uma das lâminas em suas mãos quando tomou a forma de sua senhora. A transformação era rápida, silenciosa. Em segundos, o tom da pele havia acendido ainda mais, os cabelos alongando e dando espaço aos seios sobressaltados, os lábios carnudos que agora exibiam um sorriso malicioso pro assassino a sua frente.

O macho a sua frente era definitivamente, um feiticeiro. A pele bronzeada era coberta por tecidos escuros e grossos, e ela não precisava de muito pra saber o quanto de armas havia por baixo daqueles tecidos. O capuz cobria parte do cabelo, embora o mesmo caísse em tranças longas e escuras sob o peito do macho de olhos azuis, que agora se curvava em uma reverência silenciosa. " - Faz muito tempo, majestade. "

Cassandra sorriu, embora não se preocupasse em agradecer quando se levantou e seguiu rumo ao esconderijo, sendo seguida pela presença silenciosa a suas costas. O lugar era sujo, em todos os sentidos possíveis que conseguiria descrever. O armazém abandonado era adornado por teias de aranha e lustres de cristais e ouro, e as janelas eram cobertas por cortinas de veludo vermelho, completamente rasgado e amassado. No centro do ambiente, uma mesa de madeira antiga jazia ali, coberta por luminárias de bronze enquanto os machos e fêmeas preenchiam o ambiente. Alguns, seguravam em suas mãos alguns pergaminhos e mapas, enquanto outros, conversavam entre si. Poucos féericos permaneciam em silêncio. E ela optou por não observar a parede repleta de armas. Fossem para campo de batalha, ou instrumentos de tortura. Ela preferia não saber. Passou uma boa parte do tempo analisando, como fizera semanas e meses antes. Como benjamin fizera, espionando aquele ambiente. O feiticeiro agora posicionava-se em uma poltrona de couro, afiando algumas lâminas junto a uma fêmea féerica sentada no chão a sua volta. E ambos sabiam, que um olhar cruzado seria o suficiente para atrair desconfiança o bastante para que cortassem suas gargantas em um único movimento.

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑾𝒊𝒏𝒅 𝒂𝒏𝒅 𝑺𝒂𝒏𝒅Onde histórias criam vida. Descubra agora