Narração - Aspen

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São cinco da manhã. A insônia me persegue a dias, passei o resto da semana estressado e preocupado. Não recebi um recado da Mell e já sinto que algo de ruim aconteceu. Às vezes penso que ela pode estar feliz assim, mas já vivemos muito... Não! Eu vou lutar por ela custa o que custar.

Decido sair paga uma corrida. Calço rapidamente os tênis e fecho a porta atrás de mim. A praia estava calma, algumas pessoas dormindo na areia e outras correndo. Sigo o meu caminho e as indagações começam a vir. Como Laurene me encontrou? Eu sei que ela é morta de apaixonada por mim ainda, isso explicaria o beijo inusitado que recebi. Mas foi tudo armado,

Não aguento isso! Preciso descobrir a verdade.

Volto pra casa e rapidamente entro no banheiro. O banho é rápido e aproveito para me olhar no espelho, os olhos estavam com aparência cansada, como se não dormisse a meses. Pelo menos o meu corpo continuava o mesmo, meus músculos definidos. Do que isso importa se não tenho o amor da minha vida comigo?

Aspen apaixonado?

Sim! Se não estivesse, não iria mover céus e terra agora.

***

Peguei o Hummer e dirigi em direção ao quiosque cabana da lua na praia. Era um dos poucos lugares que eu gostava de ir.

- Aspen?

Me viro e vejo Caio parado perto da mesa onde sentei. Ele estava vestindo um uniforme com um avental e segurava uma bandeja.

- Oi Caio. Desde quando trabalha aqui?

- E aí cara, a pouco tempo. Com as férias de verão aí, eu não quis ficar parado, quero comprar uma moto. Mas e você,  um milagre aparecer aqui sozinho.

- Cara, tu não imagina o que aconteceu.

Contei tudo. Tudo o que tinha acontecido desde o jogo de futebol, a fuga da Mell para Aspen. Caio ouviu com muita atenção e perplexo.

- Laurene está na cidade, e te beijou do nada?

Afirmei.

- Irmão, que enrascada, se precisar de algo pode contar comigo.

- Vou falar com ela. Pedir para que me encontre aqui hoje.

- Vou ficar por perto. Preciso trabalhar, grite se precisar de algo.

Concordei e peguei meu celular. Procurei na agenda o número dela e liguei. Chamou uma, duas, três vezes. Quando achei que a ligação iria cair, ela atende.

- Aspen, que bom falar com você, sentiu saudades?

- Venha me encontrar no quiosque cabana da lua, agora.

- Amo esse tom sexy. Estou indo meu amor.

Encarei as ondas batendo na praia ao longe. O mar estava calmo, o que não impediu os poucos surfistas estivessem em cima da prancha. Não lembro qual foi a última vez que peguei uma onda, ou participei de um campeonato. Talvez quando essa bagunça toda passar, eu volte a ser o que era. Quem diria que tentar uma vida nova em outro lugar daria tanto trabalho. No primeiro dia de aula, passei despercebido, isso até me virem na praia pegando ondas; no dia seguinte, até mesmo Priscila, que era a garota mais popular da escola veio me convidar para uma festa em sua casa. Não fui. Como se isso fosse motivo para ela parar de correr atrás de mim.

A primeira vez que a beijei foi na última festa na casa dela. Quando roubamos uma fita ridícula para aliviar o pescoço de Pedro. Pedro. Agora ele está com a minha garota e eu sei que tem algo rolando lá. Claro que tem, ela está chateada comigo, terminou comigo sem me deixar explicar. Mas eu vou a ter de volta se ela me quiser. Se ela tiver com Pedro, e estiver feliz, abrirei mão dela. O importante é a sua felicidade. Dane-se a minha, dane-se minha dor.


***

Pedi um suco de laranja com uma dose de vodka dentro. Já se passaram trinta minutos quando liguei para Laurene.

Atrasada.

Provavelmente deve estar me fazendo de otário. Pego o celular novamente e quando abro em seu número de novo, ela entra dando um enorme sorriso.

- Meu amor.

- Corta essa.

- Nossa, o que aconteceu?

- Precisamos conversar. Sente-se.

Ela senta de frente para mim. Pelo menos para isso ela teve consciência.

- Me conte meu amor, o que houve?

- Como sabia que eu estava aqui?

- Aspen, temos amigos em comum.

- Marcos te contou? Eu te conheço Laurene, o que você está armando?

- Se me conhece mesmo, saberia que eu não estou armando nada.

Ela não vai falar nada. Preciso fazer com que ela confie em mim para se abrir. Droga, sinto nojo do que estou prestes a fazer.

- Caio, trás um suco de morango, por favor. - Do um sorriso para Laurene que me olha com surpresa. - E o seu preferido ainda?

- Eu sei o que está tentando fazer. Não vai funcionar.

- O que acha que eu estou tentando fazer ao te pedir um suco?

Ela me encara, tentando, sem sucesso, me desmascarar. Então me dá um sorriso.

- Sim, ainda é o meu preferido.

A conversa foi fluindo, perguntei tudo, fingindo interesse. Um dos maiores talentos dela, era que ela conversava muito, e não dava a mínima para isso, e nem se importava. Ficamos lá cerca de uma hora, até eu me dispor a leva-lá para casa. Fico repetindo para mim mesmo que eu preciso fazer com o que ela confie em mim. Mulher sabe proteger seus segredos, mas darei um jeito de entrar fundo.


***

Ela estava hospedada em um hotel perto da praia. Estacionei na porta e a olhei.

- Eu sei que ainda me ama Aspen. Um dia ainda seremos felizes

Fico em silêncio, apenas a encarando.

- Boa noite Laurene.

Falo e ela sai carro se dirigindo a porta. Ela olha para trás antes de entrar e me da um sorriso.

Não vou aguentar ficar um minuto a mais perto dela, ela não me disse nada de interessante hoje. Mas eu sei quem vai conseguir. Pego meu celular e ligo.

- Alô, Bernardo? Preciso de sua ajuda.

Voltei mais gostosa do que nuncaOnde histórias criam vida. Descubra agora