Ana prendeu o bolo de dinheiro com um elástico e enfiou na mochila. Em seguida, pegou outra parcela, enrolou e enfiou na meia, calçando a bota em seguida. O restante repousava no bolso fundo de seu moletom. Taelor ainda estava ao telefone, argumentando com a mãe sobre como estava bem e ela não precisava se preocupar.
- Eu vou dormir na casa da Ana hoje.
Ana ergueu a cabeça para ela, arqueando as sobrancelhas. Era a mentira mais esfarrapada do mundo, e provavelmente a polícia já deveria estar vasculhando a casa, se os vizinhos atentos fossem eficientes. Em que tipo de merda ela havia colocado Taelor? E como ela mesma resolveria o que estava pela frente?
- Você é louca? - sussurrou, se levantando. - Minha casa tá destruída, Taelor, e você não tem a mínima...
- Ok, mãe. - Tae ignorou a amiga, revirando os olhos como se a mãe pudesse vê-la pelo telefone. - Sim, eu trouxe casaco... É, eu trouxe a escova... Ta bom. Sério. Tá, mãe...
Ana passou a mão pelos cabelos exasperada. Olhou para trás, para o banco de onde havia sacado o dinheiro - aquela poupança tão preciosa -, que estava prestes a fechar. A avenida da Universidade estava pouco movimentada àquela hora da noite, e uma chuva fina começava a cair, temperando a cidade e mesclando as tonalidades das sombras.
Taelor desligou o celular, caminhando até Ana, e ajeitou o cachecol peludo absurdamente rosa. Mas a amiga ainda olhava irritadiça para a rua, os cabelos sendo levados pelo vento, mal parecendo ser abalada pelo frio.
- Não pode vir comigo, Tae. - disse, severamente.
- Ana Foster. - A loira levou as mãos à cintura, olhando para ela com o nariz vermelho de frio. - Você é minha melhor amiga vinda de um lugar estranho com bichos medonhos, minha irmã. Não posso te deixar ir sozinha pras Terras Altas.
Ana puxou o mapa dobrado do bolso, marcas de caneta indicando lugares ao norte.
Ponte de Orchy; Loch Leven; Mallaig; Glen Brittle. Lugares longe, milenares, em que nunca pudera estar. Talvez existisse um portal, qualquer coisa que pudesse levá-la magicamente até Deraia... Se a informação estivesse correta; se pudesse confiar na letra da tia no rodapé, a tinta gasta pelo tempo.
- Pelo contrário. - ela passou o dedo na pequena foto dos pais, presa por um clipe. - Você deveria ficar aqui e não ter nada a ver com isso. Deveria ficar com a sua mãe e o seu irmão, porque agora eu tenho um alvo nas minhas costas.
Como se eu fosse realmente alguém muito importante em um livro de fantasia. Ela riu com desdém, mas sabia que era verdade. Sem Richard e seus feitiços, sem Lola e seus enigmas. Pela primeira vez naquela noite, ela notou o frio e estremeceu.
Sinceramente, ela não fazia muita ideia do que estava prestes a fazer.
Taelor olhou para a rua, e Ana acompanhou de esguelha a amiga suspirar, vapor contra a garoa gélida.
- Sempre achei que iríamos viver uma aventura. - ela disse, calmamente. - É uma pena Michael e Thalia não estarem aqui.
- Eu sei. - Ana a encarou, estalando os dedos. - Mas não esse tipo de aventura.
Taelor então lhe disse, como se explicasse algo a uma criança:
- Ta decidido, Ana. Eu vou com você e não há nada que possa fazer.
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Aurora | Adhara: Deraia - Livro I
Fantasía🏅#1 no concurso Aventuras Literárias 🏅#1 em Capa no concurso Raposa de Ouro Uma história sobre sonhos, reinos mágicos e autoconhecimento. Para Ana Foster, cujo horizonte não se limita à antiga cidade onde vive, todos temos nosso legado. Nossa hist...