Cela Agrura

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O melhor sono é o sem pesadelo.
Não lembro da última vez que dormi bem
O sono se vai no lento degelo
Acordado, tempo e vida não fluem
Dormindo, não sinto o ferido medo me consumindo

A cama dura e corpo dormente
A mente é a que mais mente, me deixe.
Em vez de teto mofado vejo enferrujadas barras
Lembrando da época que não existia essas amarras
Mais um dia, com falta dessa alegria

Observo entre as barras, vastas montanhas
Sol raro, lembra das boas manhãs
Sinto o calor me abraçar, protegendo do árduo frio
A ilusão se esvai no suspiro, volta aquele ar sombrio
O peso retorna, velha bigorna

Cansei de sempre ouvir a mesma coisa
Essas palavras não voam com a brisa
Sempre as encontro nos meus lençóis, tirando meu descanso
Escrevendo estes versos, tento não chorar, cadê sono?
Por favor pare, peço, antepare

A mais pura intenção destes meus versos
É mostrar meu pranto que à ti é averso
A maior dor causada por ti é ferida incurável
Por favor vá, deixe-me nessa chuva

O tintilitar da faca nas grades
Essa faca abriu feridas muriades
Seu espírito por mais longínquo que esteja, aqui fica
Depois de tudo, alérgico à luz, o que significa?
Por favor esqueça, suma trepeça

Da cela, admiro este firmamento
Tu fostes padre de meu casamento
Forçado, penso em como viver desta doída forma
Escuridão, quero divórcio! Já muito me deforma
Por favor acabe, não mais me cabe

Diz que por ti não tenho sentimento
Não sou, de você escondo ferimentos
Dizem "antes pense, não morda as mãos de quem o criou"
Cansei desta dor, amor confiscado, tu me exilou
Por favor liberte, corpo inerte

Tua visita nunca me surpreende
Ouça-me, você não me compreende
Cale-se, não há quem acredite em tamanhas mentiras
Essas histórias tão sombrias, são para tantos, sátiras
São tão místicas e psicopatas

Saia da cela, me deixe sozinho
Não sei quando esqueci meu caminho
Preciso aprender lidar com erros e arrependimentos
Terminar o que você chama de relacionamento
Não mais suporto, ando para o Porto

Tu me destes as chaves para ir
Porém da cela não posso sumir
Fora daqui, morte será a mais pura piedade
E disso nunca vou me libertar, não importa a idade
Como amarras romper, se as quero ter?

Nessa sinfônica orquestra lírica,
Cantando histórias por mim empíricas
Procuro insaciavelmente minhas memórias eufóricas
Não lembro o quarto que as esqueci, parecem ser tão quiméricas
Esquecimento, curou meu tormento?

Você voltou, para ver minha dor
Cura nas mãos, me abandonou no ardor
Não guardo rancor, coleciono lágrimas confiscadas
Por aquela que me aprisionou, imagens ofuscadas
Fuja novamente, falas que mentem

Me conheceu na minha fútil luta
Mostrou vida fora da dor exausta.
Aceitado você dentro de mim é arrependimento
Falei o que batia no peito, negou meu sentimento
Rogou amor, me afogou em meu sofrimento

Grito para todos, amor não é um jogo
Me deixe amar, somos casal homólogo.
Sofro por tuas mãos, não é atoa que amor rima com dor
Saiam da minha cela! Vivo em meu ritmo desolador
Palavras voam, meus medos não avoam

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⏰ Última atualização: Jul 01, 2019 ⏰

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