Prólogo

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"Medo corta mais fundo que espadas...
O homem que teme perder já perdeu"



Ninguém sabia muito ao certo quando os maltrapilhos começaram a chegar; vinham de todos os lados nesta encruzilhada, ocupando as margens da Estrada do Rei -e outras- por uma chance de sobreviver e mais segurança. Velhos que se arrastavam, crianças que choravam de fome, aleijados das batalhas, homens e mulheres sem muita esperança. Carregavam o pouco que tinham, no desalento e imundice, muitos morriam brigando por aquelas misérias. Assim também ficou conhecido aquele lugar: Estalagem da Miséria.

Diziam que um dia o prédio já tinha recebido duas cabeças coroadas (Imaginem!); mas a medida que as guerras avançavam e trocavam seus donos, e o Reino caia no caos; a estalagem não designava mais apenas o lugar original, e sim o cortiço que foi se espalhando em torno. Sem lei. Sem moral. Sem paz (Animais! Animais!).

A neve se acumulava. O vento gelado e implacável. Diariamente, eram jogados numa vala –não muito longe dali- os que sucumbiram à intempérie (ou que fosse), não antes de roubarem lhes os casacos e peles (se os tivessem). O inverno seria tão longo como o ultimo verão; todos sabiam, e o desespero lhes sufocava a alma. Como iriam aguentar? Muitos vagavam e invadiam o que achavam no caminho a procura de comida e qualquer coisa. Quebraram o que podiam, levavam o que dava. Ninguém sabia muito bem quem eram agora os senhores das terras, ou mesmo quem estava sentado no Trono de Ferro (a maioria se recusava a acreditar na historia que corria que o trono não mais existia e fora queimado por um dragão!).

- Estes bastardos nortenhos esfomeados continuam a vir para o sul; não queriam seu Reino?! Roubam o pouco que temos e os senhores daqui não fazem nada... Alguns cobres por cada cabeça! Faço mesmo de graça...- dizia um soldado sem orelha tomando uma cerveja aguada que não matava sua sede. Tinha sede.

- Castigo porque deixaram um aleijado nortenho no trono! Um homem que não fode, nunca teve mulher...como pode ser Rei?! Bran o Donzela! – e o ferreiro cuspiu no chão uma gosma amarela que comia e quase foram os poucos dentes que tinha junto para mostrar o desgosto.

- Não, dizem que fodia a irmã; por isso lhe deu metade do Reino! – riu a prostituta que vira muito na vida sentada no colo de outro naquela aglomeração no pátio da estalagem.

- Isso era a Rainha Vermelha! Não era? Antes de explodir Porto Real de vez; deixou carvão como tinha prometido a maldita Leoa; matou toda sua família para ser Rainha... – indignou-se uma velha aia limpando a orelha com a barra da saia.

- Não fale bobagens, sua velha! –e lhe deu um tapa na cabeça- Rainha Cersei nos protegeu da vadia Targaryen! Foi o demônio alado que queimou tudo todos sabem! Os Targaryens que se deitam com irmãos, abominação! – o caçador calvo carregava uma cicatriz na cara e muito ódio dentro de si.

- E agora quem fala bobagem, seu chupa pau Lannister?! – disse a senhora ao se levantar e enfiar uma faca na mesa com o único braço bom que tinha- ...A Rainha Prateada ia passar anos lutando pelos Reinos para depois queimar a capital erguida pela família dela? Quantos invernos você tem? Na época dos Dragões não passávamos fome assim. Essa estrada aí, a agua que chega, os Targaryens!.... Mas o Duende! Ele a traiu e de novo é Mão! Malditos Leões! Sempre mandando.

- Pelos 7! – levantou-se o homem com a cicatriz- A vadia Targaryen fodia todas as noites com aqueles selvagens dela –e alguns se bezenram- Sim, os mesmos que agora sangram os reinos em nome dela.... Ela não respeitava a Fé! Nenhuma fé! Banhava se com o sangue de inocentes para continuar seduzindo os homens a fazer o que quisesse! – gritou- Mas o Estranho a levou por nossa sorte.

- O Estranho.. – falou o ferreiro- ... Teremos mais um ano dele...- olhou para o que lhe cercava e viu o soldado a seu lado tremer mais- Não sei com quem as Rainhas fodem... Mas dizem que nem o Governo aguentou o cheiro de morte, merda e dragão na Cidade das Cinzas... Isso ou estão se borrando pelos levantes nas províncias.

- Eles impediram a Rainha Louca de destruir o restante dos Reinos; erraram em não abater a besta dela que sobrou.... – o homem em pé, pegou o resto de queijo duro e saiu.

- Eu a vi... A Rainha... Aquela com o monstro dela... – a outra mulher falou- ...Cruzou 6 vezes o céu, e 2 vezes parou aqui durante as guerras. Os Targaryens são perigosos, não são? Ela pediu para ouvir as mulheres, e depois as crianças... Ela me deu 1 veado de prata e comida... Mas não se pode confiar num Dragão, não é?

O caçador agora caçava uma outra presa afastando se em direção as florestas, pois nos tempos de guerra e depois deles um pedaço de queijo duro é uma fortuna. Ele atraiu a atenção de uma jovem com a sua; não era bonita, nem mal podia dizer que era já era mulher, mais ossos que carne; mas era o que se tinha para hoje. Ele agora lhe puxada pelo braço e cabelos, a puta que resistia.

Uma sombra cruzou sua atenção, algo gélido lhe cortou o instinto. Morte. Mas logo a frente viu uma figura feminina em capa e capuz negro, que movia os quadris em direção a um bosque logo ali; e ignorou seus instintos primários. Largou a menina que puxava e com um sorriso perseguiu um premio maior. Os dias eram poucas horas gris.

Ao perder a figura que seguia para as arvores, sentiu como se fosse observado, sentiu medo, sentiu como se cada fantasma seu lhe apunhalasse o corpo. Tremeu. Já não tinha tanta certeza de onde ia, e quando viu estava embrenhado no bosque. Corvos voaram. Um barulho. Puxou seu punhal; mas a palavra estrangeira que não compreendeu viu seu carrasco. Um grito de pavor nasceu em sua garganta e se espalhou pelo ar. Morreu ardendo.

O corpo foi achado apenas no dia seguinte. Queimado. Irreconhecível. Cheirando carne assada. Tinha dragão de ouro onde antes havia olhos. E todos já sabiam: a vingança Targaryen cobrava mais um. Uns diziam ter visto o Terror Negro, outros que era impossível; que eram os partidários da Rainha Louca vingando-a. Outros diziam que era apenas a Senhora que já assombrava a região há anos. Não, afirmavam outros, era a própria Rainha das Cinzas.

Mas enquanto aquela tinha um coração de pedra; esta não tinha coração algum.

A Senhora da Boa MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora