Capítulo 18 - Parte Dois

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Ofegante, sinto meu corpo desabar.

Viva! Ela está viva!

— Isso é impossível! — digo, sem fôlego.

Tenho menos de um minuto para me recompor para a próxima perturbação.

O Sol aparece por dentre as nuvens cinzentas, nem um pouco acolhedor, como deveria ser. Graças à sua luz pálida, não tenho dificuldades de encontrar as cinco formas que alcançam as margens da extensão verde que me tem perturbado tanto nos últimos dias.

Grandes formas, esbeltas e altas, de cores escuras e corpos distorcidos em sua pose de observação autoritária, passando-me a imagem de poder, confiança e instinto sendo usado ao máximo por esses caçadores ferozes. Os ruídos que emitem são baixos, pela distância, mas não tenho empecilhos em escutar os rosnados que soam. Claros e audíveis mesmo com os vários metros que nos separam, escuto-os com plenitude. Pergunto-me se, após os mais recentes episódios que ocorrem no belíssimo — e claramente perigoso — panorama que tenho, deveria pedir para mudar de quarto.

Eu nunca tive a oportunidade — e agradeço por isso — de ver um lobo fora das páginas de rasgados, empoeirados e velhos livros de história e caça em Aliança, em cujas ilustrações os animais e plantas não são nem de perto vivos, nítidos e reais como os percebo de onde estão. Apesar de reconhecer os estragos que eles podem fazer, tive a sorte de nunca me deparar diretamente com um.Poucos artistas poderiam retratar tal vivacidade. E, sem nunca tê-los visto de fato, hoje tenho a chance de ver cinco.

Os quatro que ocupam as pontas parecem prontos para a batalha, rodeando um líder calmo e imóvel, que observa os arredores com o mesmo ar altivo, ou algo perto de arrogante, que Samuel tem quando está entre aqueles que o respeitam.

Puxo o ar para dentro de meus pulmões, meus olhos alargando-se até ficarem tão abertos que lágrimas começam a se acumular nos cantos.

Não pode ser.

As dobradiças da porta emitem um gemido surdo quando esta é aberta.

— Oi —, Frida adentra o quarto com uma Penny saltitante. — Olhe quem encontramos no caminho.

Meu salto deixa as três figuras que agora ocupam o cômodo agitadas.

Chiara dá um passo adiante, conhecendo-me como conhece, sem hesitar em chegar perto de mim. Penny, que se prostrava em frente à porta, desloca-se para o lado de Frida, revelando uma garota desconhecida que adentra o quarto em silêncio, não interrompendo nossa conversa.

— O que foi? — Chia chama minha atenção, sua voz suave evidenciando uma nota aguda de preocupação. — Nori, qual é o problema?

Abro a boca, mas nenhuma explicação se faz necessária.

Em conjunto, todas nós nos dirigimos para a janela, apertada demais para tantos olhos curiosos, onde podemos ver um vulto se distanciando e os outros quatro seres, grupo no qual se inclui o alfa, avançando pelos arredores do muro de vegetação.

— Mas que coisa...?! — Frida exclama, inclinando-se sobre mim.

A desconhecida solta uma palavra impronunciável pela qual sua mãe teria lhe dado um safanão, e vira-se com brusquidão, correndo pela porta.

— O que é aquilo?

— Que coisas são aquelas?

Penny e Chia perguntam ao mesmo tempo.

O lobo que, eu deduzo, é o líder tem certo destaque por seus pelos mais escuros. Então, não temos dificuldades em ver quando ele para, sendo imitado pelos outros animais, inclina-se e lança o focinho, farejando, na direção do prédio.

Em nossa direção.

— Aquilo é um problema.

Apenas aquiesço para a resposta de Frida.

Em silêncio, pergunto-me como tenho tanta certeza de que uma nova etapa nesta aventura está para começar.

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