Ofegante, sinto meu corpo desabar.
Viva! Ela está viva!
— Isso é impossível! — digo, sem fôlego.
Tenho menos de um minuto para me recompor para a próxima perturbação.
O Sol aparece por dentre as nuvens cinzentas, nem um pouco acolhedor, como deveria ser. Graças à sua luz pálida, não tenho dificuldades de encontrar as cinco formas que alcançam as margens da extensão verde que me tem perturbado tanto nos últimos dias.
Grandes formas, esbeltas e altas, de cores escuras e corpos distorcidos em sua pose de observação autoritária, passando-me a imagem de poder, confiança e instinto sendo usado ao máximo por esses caçadores ferozes. Os ruídos que emitem são baixos, pela distância, mas não tenho empecilhos em escutar os rosnados que soam. Claros e audíveis mesmo com os vários metros que nos separam, escuto-os com plenitude. Pergunto-me se, após os mais recentes episódios que ocorrem no belíssimo — e claramente perigoso — panorama que tenho, deveria pedir para mudar de quarto.
Eu nunca tive a oportunidade — e agradeço por isso — de ver um lobo fora das páginas de rasgados, empoeirados e velhos livros de história e caça em Aliança, em cujas ilustrações os animais e plantas não são nem de perto vivos, nítidos e reais como os percebo de onde estão. Apesar de reconhecer os estragos que eles podem fazer, tive a sorte de nunca me deparar diretamente com um.Poucos artistas poderiam retratar tal vivacidade. E, sem nunca tê-los visto de fato, hoje tenho a chance de ver cinco.
Os quatro que ocupam as pontas parecem prontos para a batalha, rodeando um líder calmo e imóvel, que observa os arredores com o mesmo ar altivo, ou algo perto de arrogante, que Samuel tem quando está entre aqueles que o respeitam.
Puxo o ar para dentro de meus pulmões, meus olhos alargando-se até ficarem tão abertos que lágrimas começam a se acumular nos cantos.
Não pode ser.
As dobradiças da porta emitem um gemido surdo quando esta é aberta.
— Oi —, Frida adentra o quarto com uma Penny saltitante. — Olhe quem encontramos no caminho.
Meu salto deixa as três figuras que agora ocupam o cômodo agitadas.
Chiara dá um passo adiante, conhecendo-me como conhece, sem hesitar em chegar perto de mim. Penny, que se prostrava em frente à porta, desloca-se para o lado de Frida, revelando uma garota desconhecida que adentra o quarto em silêncio, não interrompendo nossa conversa.
— O que foi? — Chia chama minha atenção, sua voz suave evidenciando uma nota aguda de preocupação. — Nori, qual é o problema?
Abro a boca, mas nenhuma explicação se faz necessária.
Em conjunto, todas nós nos dirigimos para a janela, apertada demais para tantos olhos curiosos, onde podemos ver um vulto se distanciando e os outros quatro seres, grupo no qual se inclui o alfa, avançando pelos arredores do muro de vegetação.
— Mas que coisa...?! — Frida exclama, inclinando-se sobre mim.
A desconhecida solta uma palavra impronunciável pela qual sua mãe teria lhe dado um safanão, e vira-se com brusquidão, correndo pela porta.
— O que é aquilo?
— Que coisas são aquelas?
Penny e Chia perguntam ao mesmo tempo.
O lobo que, eu deduzo, é o líder tem certo destaque por seus pelos mais escuros. Então, não temos dificuldades em ver quando ele para, sendo imitado pelos outros animais, inclina-se e lança o focinho, farejando, na direção do prédio.
Em nossa direção.
— Aquilo é um problema.
Apenas aquiesço para a resposta de Frida.
Em silêncio, pergunto-me como tenho tanta certeza de que uma nova etapa nesta aventura está para começar.
************************************
Não se esqueça de clicar na estrelinha!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Artefatos de Sangue
Paranormal"Eu nunca quis ser parte disso. Nunca quis fazer parte dessa guerra. Nunca quis ter que escolher um lado. Mas, por eles, e por mim, eu finalmente queria tentar". Embarque nessa aventura, afogue-se nessa história enigmática e envolva-se num mundo de...