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-Como é a sensação?
-é estranho... no começo todo o corpo dói, uma dor horrível. Depois você não sente mais nada, é como se seu corpo desaparecesse de repente. Então vem o formigamento, as pequenas agulhas perfurando a pele humana. No fim, você se sente mais vivo do que nunca. Sabe o que acontece depois?- o homem balançou a cabeça negativamente - depois vem a fome. Fome porque você acabou de perder todos os fluidos do seu corpo. Quando você se alimenta pela primeira vez...- a morena cravou os quatro dentes pontiagudos e afiados no pescoço do homem, soltou o pescoço e se afastou - o gosto inicial é metálico, então fica doce e quando você engole é como se estivesse bebendo uma taça de absinto. E você só chora em uma ocasião, quando seu Mestre se afasta. Naturalmente isso acontece é claro e eu até credito essa crença de que é entediante passar toda a eternidade ao lado de somente um filho.
-Então... então me faça assim... para não se sentir mais sozinha.- o homem tremia e suava, era segurado pelas mãos frias da moça. Ela gargalhou um pouco. Olhou-o nos olhos com nojo.
-Eu não crio monstros Senhor Peterson, eu os mato.
A morena prensou o crânio do homem com os pés, esmagando-o, sangue jorrou para todo canto e a massa encefálica foi arremessada em pedaços pequenos e cinzentos.
- Que desperdício Vanessa.
- Não me agradou ao paladar. Também não agradaria a você eu suponho. Não, você, Tessy, você tem gosto mais refinado não é? Prefere o sangue nobre, estou errada?
-corretíssima minha querida, como sempre.
Vanessa caminhou tranquilamente pela taberna. Corpos de homens velhos e monstruosos estraçalhados em todas as direções. O vestido preto que a morena usava tinha as rendas cobertas pelo sangue. Ela se aproximou de uma senhora que estava amarrada e tinha um pano em sua boca, tirou a mordaça:
-Onde está a minha filha?- a velha tremia como se estivesse convulsionando.- Onde ela está?- quando os olhos de Vanessa tornaram-se completamente brancos a senhora abriu a boca, gaguejou um pouco.
-No porão.
-A minha criança?- a morena soava incrédula e sarcástica - num porão? Sozinha? Sem comida nem água? Num lugar fétido e frio como essa merda?- ela respirou fundo - eu me pergunto, senhora Brielet, que tipo de monstruosidade faz isso com uma garotinha!- a morena se afastou, colocando-vos novamente a mordaça na velha.- Mary, quero que cuide dessa... dessa senhora. Quero ela viva e com bastante sangue quando eu voltar!
- Sim senhora.- A de cabelo curto disse, curvando-se em uma breve reverência.
- Terry, pode ir colocando o álcool e fazendo os preparativos para a nossa... bela fogueira?
- com todo o prazer, madame.- a ruiva sorriu.
Vanessa percorreu o caminho até as escadas, descendo como se fosse uma águia que plana rápida ao redor de sua presa. Chegou à aquela porta de madeira. Num chute a porta caiu. De fato, na parede do canto mais escuro do porão estava a menina, estava bem mais velha do que Vanessa se lembrava, tinha os cabelos sujos e desgrenhados e as vestes rasgadas, estava acorrentada na parede de pedra. Vanessa correu até a garota, tocando-lhe o rosto com os dedos frios. A menina ergueu os olhos:
- Mamãe!
- Anouk, eu vou tirar você daqui meu amor.- Disse a mulher arrancando as correntes das paredes com as próprias mãos.- Vai ficar tudo bem meu amor, vem, vou te levar pra um lugar mais agradável.
-Mãe... por que suas mãos estão tão geladas? Como quebrou aquela corrente?
- Calma, meu anjinho de asas douradas, eu explico tudo quando isso tiver acabado.
Mãe e filha subiram as escadas, os corpos agora estavam enfileirados, ensopados com vinho. Mary tirou a faca do pescoço da senhora quando viu Vanessa, que se aproximou:
- Certo, senhora Brielet, de quem foi que você comprou a minha menina e como eu acho o desgraçado?
-Dimitry Batlor, o mercador de escravos, ele vai à igreja todos os domingos.
- Igreja? Já tinha ouvido isso? Um demônio dentro da santa igreja?- Vanessa fitou Terry por um momento - Ótimo. Eu o mato lá.- Vanessa foi até a filha, pegando em sua mão e dirigindo-se à porta de saída - queimem tudo, inclusive a velha.
- Sim senhora.- responderam as duas mulheres antes de jogarem as lamparinas no chão.
Os gritos da senhora eram audíveis na rua, o pânico de ser queimado vivo. Vanessa sorria, deleitava-se com aqueles gritos, aquele sangue, aqueles vermes morrendo, a praga sendo extinta. Anouk segurava o braço da mãe com as duas mãos, encolhia os ombros pelo frio e pela confusão de toda aquela bagunça:
- Não tenha mais medo Anouk, seu inferno já acabou.

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