CHEGADA

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A ruína é a estrada para a transformação. - Comer, rezar e amar.

London,

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London,

2 de agosto de 2018, 03:30 p.m.

A família Moretti possui fama pelo pacato bairro, visto que tal adjetivo não pode ser atribuído aos membros em questão. A casa com fachada de cores mistas e desconexas fora cenário de eventos memoráveis para os habitantes desde sua chegada ao país — a quarenta anos atrás-, a partir disto estão sempre rendendo os melhores artigos para o jornal semanal local.

Neste momento Alessandra — a filha mais velha desta geração — encontra-se longe do lar. Apesar da distância de algumas horas, para ela Londres aparenta estar a mil anos-luz, em um mundo distante e desconhecido.

Seus olhos nunca haviam se deparado com esta área da cidade, tudo lhe era um sopro de novidade — com ventos indecisos se a amedrontam ou revigoram. Com o auxílio de pessoas que transitam pela calçada, ela consegue estar diante ao prédio vermelho que sua mãe mencionara. A extremidade de seus dedos desenharam o percurso dos números gravados na parede, cessando o contato para secar suas lágrimas com o dorso da mão.

Inesperadamente, a porta se abriu. Curtas madeixas loiras ganharam sua atenção, que logo se voltou aos olhos confusos da desconhecida. A jovem sorriu, esperando deixar a aflição de lado por um instante. Com a voz beirando a embargar, ela se apresenta, surpreendendo-se com a resposta. Ao ouvir seu sobrenome, a garota deu um salto para trás, empalidecendo ainda mais o tom de sua pele.

— Claro, claro que é você. Vocês são tão parecidos, Deus, o rosto é quase o mesmo. — Envergonhada, Alessandra retribui o abraço desajeitado. Sem querer ser indiscreta, contudo, precisando resolver seu problema o mais depressa possível, ela questiona se seria um momento ruim para entrar. — Não! Quer dizer, óbvio que não! Você é mais que bem-vinda. Vem, vamos subir.

— Posso esperar entregar isto, se quiser. — Apontou para os caixotes nas mãos da anfitriã tão amistosa.

— Droga, eu gostaria de deixar isto para lá, mas é realmente importante. — Por cima do ombro da morena, ela consegue avistar a tia caminhando em direção a porta do restaurante, impaciente por seu atraso. — Olha, você é irmã dele então não terá problema em subir sem mim, não é? — Sem esperar ser rebatida, desceu os degraus restantes. — Ótimo, divirtam-se. Adorei te conhecer, trarei o lanche por minha conta.

A atitude a deixou atônita, o nervosismo a embriagou. É preciso somente subir um lance de escada, cerca de quinze degraus. Breno, um de seus irmãos mais novos, não sabe de sua visita, quem dirá de seu pedido de hospedagem temporária.

Ela subiu com ligeireza maior que o esperado. Todavia, ao se deparar com a porta, exitou ao rodar a maçaneta, mas se forçou a fazê-lo. — Esqueceu de algo, querida? — O tom metálico na voz tão marcante em seus familiares fora reconhecido, Breno estava a um cômodo de distância. — Callie, precisa de ajud-Alessandra?

— Oi.

Breno se assemelhou a uma estátua por longos segundos, com respiração quase imperceptível e piscadas espaçadas, o rapaz beirava ao imóvel. Entretanto, quando assimilou a situação, seus movimentos retornaram como se nada atípico estivesse ao seu redor.

Jogando o corpo no sofá, ele lhe lançou um olhar cômico, analisou suas vestimentas pretas, escolhidas para intensificar o teor melancólico. — O que é isto? Estão gravando a versão inter-racial da família Addams? — A jovem suspirou em alívio, sentindo-se acolhida, confortável de maneira que não esperava. Sem permissão, um choro em busca de acalento rasgou seu peito. Breno mordiscou o lábio, olhando-a com simpatia, já supondo o motivo da aparição inesperada — Ela fez de novo?

Em meio a soluços, Alessandra assentiu. — Fez.

Seu irmão se levantou, encerrando a distância, puxando-a para o abraço que tanto precisava, sabia do que se tratava. Viu o espaço vazio próximo à entrada, percebendo a ausência de malas. — Não deixou que trouxesse suas coisas?

— Tenho malas, as deixei na escada para que você pegasse. — O aperto ao seu redor a permitiu sentir o corpo esguio vibrar ao gargalhar. — Estou abalada ainda. Depois de anos consigo uma chance, estava tão feliz que jurei não poder ser afetada por nada. Até que mamãe provou ser capaz do impossível.

— Vá com calma, Mortiça. — Depositou um suave estalar de lábios no centro dos cachos. — Deve continuar alegre, o papel ainda é seu. — Sem conceder crédito as considerações do mais novo, Alessandra as deixou passar despercebidas, cobrindo-as com o som de seus murmúrios raivosos, que apesar de perpetuarem uma vasta gama de reclamações, sempre retomam na hesitação da sanidade de sua progenitora. — É, talvez seja mesmo louca. Não foi atoa que nos deu à luz. Para mim, mamãe é uma força da natureza, não consigo aceitá-la como uma reles mortal. — Afastou-se o bastante para conseguir enxergar o rosto diante de si. — Acha que está melhor o bastante para me contar os detalhes da expulsão? — Apesar do tom provocativo, sua feição é cautelosa.

— Humilhação, surpresa e sarcasmo; é tudo que precisa saber.

Com a tensão atenuada, ela sentiu-se preparada para fazer sua proposta, que fora aceita imediatamente por Breno. Durante a noite ele precisará ter uma conversa com Callie, sua namorada e proprietária do apartamento. Por hora não mencionou este provável empecilho para a irmã, sua mente está processando problemas o bastante. Conhecia por menor o que ela sente, visto que passou pelo mesmo há três anos.

— Sobre o prejuízo que irei dar, prometo pagar no instante em que receber parte do cachê. — Esclareceu, ainda que não fora interrogada sobre. Breno jamais lhe colocaria em tal situação de embaraço. — Minha empresária disse que isso acontecerá pouco depois do início das gravações, me certifiquei assim que… — Virando-se para a lateral oposta, encerrou com uma voz vaga. — Assim que precisei me mudar.

Ele decidiu retornar a pauta em outro instante, ao longo da semana talvez, quando a irmã estivesse menos enfervecida. Por hora, sorriu complacente, ergueu os braços, convidando-a para conhecer o amistoso local que logo chamará de lar.

Diversos elogios foram feitos direcionados ao ambiente, desde a decoração até a brisa que permeia as divisórias. Alessandra admitiu para si mesma que estava encantada com o lugar, e acima de tudo, seu coração fora dissolvido devido a tanto orgulho do irmão. Ele havia seguido seu sonho, se tornado um bom músico. Um excelente profissional, supôs ela ao analisar a última etapa de seu pequeno tour. Com poucas palavras, ela teve de se expressar. Contou a ele parte da alegria que sentia, encarando-o com os olhos estreitos, sorrindo. Esta expressão, o brilho de adoração que a rondava, era a gota d'água  ele necessitava.

— Certo, talvez precisamos conversar.

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2020 ⏰

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