4 de junho

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Em um dia quente de quinta-feira, um gato apareceu em minha vida: um ser de pelagem escuro como a noite, magro e frágio, com pequeninos pelos brancos traçados em suas bochechas, tão pequenos que apenas de pertinho poderia encontra-los. E seus olhos.. oh, aqueles olhos. Dois globos amarelos de íris azuladas. Apesar de ser um gato vadio como qualquer gato que aparecia repetinamente por de baixo do potão velho e enferrujado, ele ganhou o meu coração. Não por sua beleza inexplicávelmente perfeita, mas sim por ser um pobre gato a procura de afeto. Isso eu poderia lhe dar, com todo o meu coração. Eu apenas não poderia lhe dar um lar e foi aí que toda a história começou.

Fui acordada naquela manhã bem cedo pela exaltação da minha tia ao encontrar o gatinho preto. Eu não me importei muito, apesar de sentir uma felicidade me atingir lá no fundo. Eu amava gatos, desde que vim a casa da minha vó no interior. Ver todos aqueles gatos espalhados pela antiga padaria - que agora estava coberta de tijolos quebrados, poeira e aranhas peludas - enchiam meus olhos. Até o momento eu havia me amigado com dois gatos carentes, que se roçovam por todos os móveis da casa. Um gato de olhos verdes, ou será que amarelos? De pelagem alaranjada que amava ser acarenciado e com o outro não era muito diferente, apenas tinha olhos grandes olhos verdes e uma pelagem completamente diferente.

Minha tia levou o gato até meu colchão velho e não pude aguentar a vontade de acarencia-lo, mas fui vencida pelo sono e voltei a me enrolar na fina coberta de algodão.

Quando senti que estava preparada para me levantar daquele colchão empueirado, forrado com uma coberta cheirosa e aconchegante, o fiz, andando em passos arrastados até o fundos da casa escutando ao fundo minha tia comentar sobre o gatinho que logo seria um grande marco em minha vida. Ansiosa, fui ao encontro do gato. Olhei ao redor, afim de encontrar ali e logo o vi sair de trás das plantas esverdeadas e bem cuidadas pela minha vó. Não pudi conter um sorriso no rosto e peguei o gatinho em meus braços, sentindo sua pelagem macia em meus dedos. Ele era tão lindo. Eu poderia leva-lo para minha casa e cria-lo com todo amor e cuidado do mundo, se não fosse pelo meu cachorro assassino comedor de lixo. não me levem a mal, mas o meu cachorro é realmente assustador as vezes. Mas, não irei sitar as histórias loucas que já passamos juntos aqui.

Minha vó já berrava reclamando do pobre gato que apenas queria matar sua fome e sede, insistindo que o gato possuía um dono e que não iria aceitar mais gatos em sua casa. Que animais davam muito custo e blá, blá, blá. Eu sabia que o gato não possuía um dono, percebiasse pelo o estado do coitado. E por que caralhos ela reclamava tanto, ela apenas dava o resto da comida e água da torneira para os outros gatos. Não faria diferença mais um gato ali.

Acabou por minha tia o tira-lo pelo mesmo lugar que ele veio e chateada, fui tomar o meu café da manhã pensando em como o gato iria sobreviver com pessoas tão cruéis soltas lá fora. Mas, não é o fim dessa história.

O gato apareceu pela porta da frente e eu tive que aturar a minha vó tagarelando para e para lá. Mas, as escondidas peguei um pouco da ração que sobrava no pote que antes servia para suplementos e coloquei em um copo de plâstico. Tentando disfarçar ao meu máximo, corri até o gato que miava. Um miado manso e entristecente, de apertar o coração.

Abri a porta de vidro com cautela, vendo o gato do outra lado se afastar ao perceber a minha presença no ambiente. Tentei me aproximar, mas ele acabou por descer alguns degraus da escada. Provavelmente estava com medo de mim. Mas eu não desisti. Com cuidado, tentando de alguma forma ser amigável, despejei a ração pelo chão e logo o gatinho começou a comer. Eu sabia que iria conseguir, não era atoa que eu "roubava" algumas coisinhas no mercado da minha vó. Mas, eu IRIA conseguir, se não fosse o pestinha do meu primo, e é claro que eu corri para dar de cacete naquele --.

Minha vó chegou com uma vassoura e botou o gato para correr. Não queria que fosse a última vez que vesse o gato, até porque em poucos minutos eu estaria voltando para minha cidade. Corri as pressas para os fundos, esperando que encontrasse o gato do outro lado da porta, mas nem precisei perder meu tempo para abri-la. Ele tinha acabado de sair por de baixo dela mais uma vez aquele dia.

Eu implorava para minha tia tomar conta do gato, mas ela não poderia sustenta-lo e eu compreendia e eu até ofereci meu dinheiro. Eu disse que pagaria cinco reais de ração toda semana, usaria o dinheiro do meu lanche, já que a preguiça me dominava quando eu pensava em descer todas aquelas escadas apenas para comprar um lanche. Ela não aceitou de qualquer forma. Mandei mensagem para o meu tio, mas ele também não podia, apesar de querer-lo. Eu fiquei triste e não tinha mais escolhas a não ser deixa-lo nas ruas sujas da pequena cidade.

Logo chegou a hora de ir, meu vô queria pegar-lo para o jogar em algum canto onde ele não pudesse mais voltar. Não deixei. Deixei ele em frente ao cemitério onde se encontravam alguns parentes não muito próximos e ele se alojou em baixo do carro da minha tia. " vou joga-lo lá no centro. No mercadinho" dizia ele. E, bom, eu acreditei. Achei que ele iria se adapitar no mercadinho da minha vó, já que os funcionários de lá davam comida para um gato alaranjado bem parecido com o citado anteriormente.

Então, um pouco mais calma, entrei no carro recém concertado e me sentei no banco. Todos se ajeitaram em seus devidos lugares. Eu e o pestinha do meu primo nos bancos de trás, separados por uma porção de ovos encaixotados. E minha tia e minha prima nos bancos da frente e não pareciam estar nenhum pouco abaladas, já que não pensavam em nenhuma das hipóteses que perambulavam em minha cabecinha oca.

Vendo o gatinho preto nos braços do meu avô, eu estava cabisbaixa e completamente dolorida. Mas acabei ficado mais triste ainda quando vi o pobre gatinho ser jogado para a casa da vizinha. Meu vô tinha o jogado para o outro lado do muro sem nenhuma compaixão pelo outro.

Eu acabei não contendo as lágrimas, as despejei tentando disfarçar dos outros que ainda estavam ali. Minha vó veio nós dar um abraço e uma boa viagem e acabou me vendo. E todos viram. Minha tia tentava me consolar de alguma forma, agora desmonstrava estar um pouco triste e talvez arrependida. Minha prima me confortava. Mas, nada iria mudar o que aconteceu com ele. Eu ficava preocupa. E se o cachorro da vizinha o machucasse? E se a vizinha o maltratasse? Eu não saberia. Eu nunca saberia. E passei o resto da viagem assim. E ainda me encontro assim. Pode parecer dramático e sem sentido, mas estamos falando da vida de um filhote.

Mas okay.. Eu espero que esteja bem, gatinho.

04 de julho, 2019.

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⏰ Última atualização: May 31, 2021 ⏰

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O gato de olhos amarelos azuladosOnde histórias criam vida. Descubra agora