Capítulo 1 - Até o final do ano

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Quando as férias acabam a gente sempre sente aquele misto de "Que saudades que eu estava do colégio" com "Misericórdia, que preguiça".

E assim eu estava me sentindo naquela volta às aulas do meio do ano. A aula de português estava prestes a começar e sentei no meu lugar.

Estávamos no último ano do colégio, mas tínhamos praticamente lugares marcados. Eu sentava no canto direito da sala, na terceira carteira. Na minha frente sentava Michelle, minha melhor amiga e na primeira fileira sentava Isabela, uma colega que tinha problemas de visão e não enxergava bem o quadro quando ficava no meio ou no fundo da sala.

Peguei meu estojo e meu caderno. Michelle chegou, sentando na carteira em frente à minha e virou para trás.

- E aí? Fez o quê nas férias?

- Nada demais. - dei de ombros, enquanto abria meu caderno na última página, onde eu costumava fazer meus desenhos.

- Duvido. Seu pai sempre inventa coisas legais para vocês fazerem. Foram na Praia da Barra? Viajou para Terê de novo? - Michelle perguntava animada.

Sim, meu pai sempre planejava diversas programas para eu e meus irmãos nos divertimos durante as férias. Uma vez meu pai descobriu um camping no Recreio dos Bandeirantes para passarmos um fim de semana e eu convidei Michelle para ir conosco. Eu nunca imaginei que algum dia acamparíamos como os americanos faziam. Foi simplesmente incrível.

Eram três crianças com tédio em casa durante as férias, meu pai sempre gostou de planejar passatempos com a gente, mas passou a se esforçar mais depois que minha mãe simplesmente desistiu de fazer parte da família e voltou para o Ceará cuidar da minha avó.

- Ficar em casa jogando Uno com meus irmãos conta como interessante?

- É, não conta. - O rosto de Michelle murchou com minha resposta.

- Então curtiu as férias, porque eu sei que você ama Uno. - uma voz surgiu da cadeira de trás. Ao me virar, dei de cara com André sorrindo para mim.

- Não por duas semanas. Eu já conhecia todas as jogadas dos meus irmãos. Nós não aguentávamos mais olhar para a cara um do outro.

- André, você tem que fazer outras coisas nas suas férias além de ficar assistindo mil vezes os três episódios de Star Wars. Você vai quebrar seu videocassete. - Michelle colocou os pés em cima da cadeira, colando os joelhos no peito. Ela estava indignada por André nunca pôr os pés fora de casa.  

- Para de jogar praga no meu videocassete. - André apontou para ela.

É, eu ficava no meio deste fogo cruzado.

E estes eram os meus amigos. Eu conheço André desde que tínhamos cinco anos de idade e sempre fomos próximos, mas nos últimos anos nossa amizade cresceu ainda mais. Ele mora perto de mim, então quando comecei a ficar independente e ir embora sozinha, sem meus pais, ele sempre me fazia companhia. Nós falávamos sobre o nosso dia, sobre os professores, sobre os boatos do colégio, isso em si já é assunto pra dar e render.

Michele já me contou que achava que André dava em cima de mim. Eu achei que era loucura dela, mas com o tempo fui percebendo alguns gestos de André que não eram tão comuns para amigos. Apesar de sermos um trio, ele sempre se oferecia para carregar a minha mochila, nunca a de Michele. Como ele senta atrás de mim sempre fica mexendo no meu cabelo. Gosta de andar durante o recreio com os braços em meus ombros... Uma vez a tia da cantina achou que éramos namorados, quando nos viu assim.

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⏰ Última atualização: Jun 28 ⏰

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