Capítulo 2 - Um homem no Bar

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- Me vê uma dose de Whisky. – O homem pede, com a voz rouca.

- Não temos. Só cachaça e Licor. – Responde Juvenço entregando a garrafa vazia para Candê, que prontamente a leva para dentro da cozinha e volta com uma vassoura de palha.

- É... Perdão interromper, mas a cachaça acabou. – Diz sutilmente Candê, olhando para seu patrão, que devolve com um olhar não tão sutil.

- Então que seja o Licor, também mel e gengibre, antes que eu enfie uma peixeira na minha garganta. – Resmungou o homem, ao sentar no balcão, antes que Juvenço servisse meio copo de Licor e uma banda de gengibre com mel.

- E qual é mesmo o seu nome?

- Eu não disse... Perdão. Sou Justino Justos.

- E o que faz para essas bandas? Perdoa meter o bico, mas aposto que é uma bela dama, ou to errado? – Juvenço ri, enquanto cutuca o braço do homem com o cotovelo.

- Na verdade... – Afasta o braço do alcance de Juvenço, com um falso sorrido de canto de boca. – Na verdade, estou a trabalho.

- Trabalho? Nessas terras? O senhor não tem cara de quem trabalha na roça.

- E não trabalho.

- Então o que o senhor faz? Caixeiro-viajante? Vendedor de ouro? Ou talvez...

- Acho que deveria se concentrar mais em encher o copo dos seus clientes, do que adivinhar a sua ocupação. Senhor... – Juvenço! – Grita ao fundo, Candê.

"E senhor seria?" são as ultimas palavras do homem antes de perder parcialmente a sanidade. Não que ele tenha ficado louco, mas somente não era resistente ao álcool, principalmente ao de Juvenço, que em poucos copos derrubava até os mais fortes dos cangaceiros. Dizem, aliás, que na noite anterior da morte do maior grupo de cangaço, eles beberam no bar de Juvenço.

- Ahhh! A revolução de 30, meu querido estado fez parte daquilo. Eu nunca gostei de café com leite, mas o que veio a acontecer com meu chefe...

Ele andava de um lado para o outro do bar. Aflito, pensativo... Colocava a mão em sua cabeça e ininterruptamente sussurrava: "Não sei se digo ou pergunto... Preciso ter certeza..." – Certeza do que hômi?- Perguntou Juvenço se aproximando, parcialmente assustado.

- Sabe quando, tudo tinha que ter ocorrido por um propósito maior? Mesmo a morte de um homem, por motivos fúteis, deu o estopim para o inicio de uma coisa grande. E por isso que me pergunto, sempre e sem parar, se devo ou não devo. Pois um passo em falso, mesmo que minúsculo que seja o detalhe, pode alterar toda a história.

- Acho que o sinhô bebeu demais. – Disputa o copo com o Justus, Juvenço.

- Você não entende. Dê-me, me dê! Solte esse copo!

- Você já bebeu muito! Largue! – Disputa ainda mais ferozmente Justus e Juvenço.

Talvez vocês não saibam, mas desde o principio havia conflitos e guerras. Mesmo na época em que havia pequenas tribos, Caim matou Abel, por ciúmes, a arma? Uma pedra pontuda, um osso talvez? A verdade é que, não importa qual foi, e sim que ele foi morto. Essa é uma das histórias em que o processo não é o foco, mas sim a consequência. Mas, na idade média, houve o desejo incessante de acabar com a morte, não me refiro a prolongar a vida, mas sim de nunca morrer. O Elixir da vida foi um dos focos principais dos alquimistas, que em varias tentativas fúteis, acabaram encontrando outra coisa, a pólvora. Essa sim é uma história em que o processo é mais valioso que o fim, já que como vós bem sabem, não há um elixir da vida. É irônico como a intenção inicial aniquilar a morte, deu fim na invenção daquilo que seria a arma para a morte de milhares. E foi com essa mesma invenção que hoje, Justino Justus perfurou a barriga saliente de Juvenço, com três disparos.  

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⏰ Última atualização: Jul 06, 2019 ⏰

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