Capítulo 1 - O Amante

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Ele acordou gritando, como acordava desde então, sentou se nas peles tentando se acalmar. O corpo encharcado pelo suor apesar do frio cruel. O batimento acelerado do seu coração. "Não, por favor, não" – ele repetia a si mesmo e a quem estivesse ouvindo. Passou as costas da mão rápido –com vergonha- para se livrar das lágrimas. Mas a realidade o devorou.

Se fechasse os olhos de novo, ele a veria como da ultima vez, e o que o perseguia a cada noite. Aquele último olhar dela. Nada era pior. O jovem se levantou, pegou um pano e bateu num reservatório de agua, quebrando a camada de gelo e conseguindo ainda molhar o tecido. Limpou as mãos até conseguir tirar o sangue que via nelas.

Ele não se recordava quando tinha partido Além da Muralha, se havia passado semanas, ou meses. A noite era eterna. As nevascas puniam a todos, não se podia mudar o acampamento com a mesma facilidade que antes. Não havia nada além da pouca caça, e a caça não se fazia tarefa pratica. Fome. Ele perdera muito do seu peso, ao olhar ao seu entorno percebia que não era o único, nem o pior. Ele passou a comer menos, passando sua ração a outros. Tormund o repreendeu "Você alimenta quem já está morto; nós alimentamos quem terá mais chance de sobreviver e caçar".

A neve se acumulava, fofa e mortal. Sentia seu corpo sempre úmido. Nunca tinha visto um frio tão implacável, era uma doce criança de verão. Tinha perdido 2 dedos do pé e 1 da mão. A única salvação era atravessar a Westeros de novo; ou estariam todos condenados. Parte do povo já havia criticado a ideia de voltar a uma terra que nunca tinha sido generosa a eles e em pleno inverno.

Jon Snow cumpriu suas funções diárias com o grupo e voltou a sua barraca, ouvira aquele choro que o angustiava e tentara ignorar. Sabia que estava apenas na sua cabeça, não havia bebês ali. O rugir do vento balançava seu casebre sem tréguas, e havia murmúrios de conversas não tão distantes. Ele vivia mais recluso, sozinho.

O Povo Livre ainda lembrava-se da amazona na fera de fogo que viera destruiu o maior inimigo. A líder de povos tão livres quanto eles; que no pouco que conseguiram se comunicar era a Rainha das Mil Vitórias, espantosas vitorias de povos que escolheram ser seus. Eles não entendiam como alguém podia mata-la em sua confiança, mesmo ou ainda mais, sendo Jon. "Um homem pode possuir uma mulher ou um homem pode possuir uma faca, mas nenhum homem pode possuir ambas. Toda garota pequena aprende isso de sua mãe"... As palavras de Ygritte vieram com o vento. A confiança tinha sido quebrada.

Ele tentava costurar algumas peles para melhorar seu casaco, mastigava uma carne seca. O hidromel lhe fazia companhia. Algumas mulheres quiseram tê-lo desde que rumaram juntos. Não podia ter ninguém. O Esposo de Ursas lhe disse que onde estavam não lhe alcançavam sentenças sulistas, Jon tentou explicar que não era isso. Mas como explicar que ninguém era ela? O amigo nunca entendera o que o Stark fizera "Ela desceu dos céus por você; por mim; não foi? Ela era sua; por que você destruiu com tudo mais uma vez?" Jon não sabia responder.

A 1ª vez que ele fora para o extremo norte, e vestira negro, tinha a cabeça cheia de ideias tão românticas sobre a Patrulha que Sansa ou Bran de Princesas e Cavaleiros. A realidade o abateu nos primeiros dias; a raiva de seu pa... seu tio por ter permitido que ele fosse para esta vala moral do Reino. Seu tio Benjen tentara lhe alertar ainda em Winterfall, mas com sua jovem cabeça achando que era alguém não o ouviu. Talvez fosse isso, quisera ser alguém; alguém além do bastardo de Ned Stark. Não podia ir a Porto Real com este tanto quanto ficar com Lady Catelyn no Norte.

Algum dia tinha tido um lar? Algum dia tinha tido uma família? Não tinha tanta certeza.

A última vez que vira os Starks em sua despedida, eles tinham murmurado que talvez fosse melhor esta volta; ao menos não seria executado, que fora um lugar que Jon tinha encontrado dias gloriosos. Um sentimento antigo, novamente seu destino era a margem, sem opção real. Os legítimos Starks a sua frente. Era levado ao lugar que já tinha sido traído a morte, que jurou nunca mais retornar. Sua vigília já havia terminado. Era amargo; não havia mais conhecidos ou amigos seus, ele era o assassino. Era parte da escoria da Muralha que um dia tinha desprezado.

A Senhora da Boa MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora