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O PONTEIRO DO RELÓGIO cronometrava os segundos, tiquetaqueando sem parar

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O PONTEIRO DO RELÓGIO cronometrava os segundos, tiquetaqueando sem parar. Ele estava pendurado na parede atrás do balcão, ao lado da imensa estante de vidro. Leila roía as unhas, ansiosa, fitando o ponteiro como se, assim, pudesse fazê-lo girar mais rápido. Leila, Kai e Lino deslizaram pela porta e o sino anunciou a entrada.

Leila não conseguiu esconder a surpresa. A loja estava bem diferente do que se lembrava, os vários lírios coloridos e peônias brancas quase faziam parecer que aquela era, de fato, uma floricultura comum.

As cores alegres eram a oposição perfeita do semblante mórbido que pairava sobre o rosto da velha na última visita. A mulher não era sempre aterrorizante; embora fosse impossível não sentir um arrepio ao encarar as expressões enrugadas e bochechas fundas. Existiam também ocasiões em que ela conseguia manter o bom-humor emoldurado no rosto.

Kai girou a cabeça para os lados ao cruzar a porta e espiou atrás do balcão. Flores e mais flores. No canto direito, uma melodia suave dos anos setenta saía do pequeno rádio analógico. Era a primeira vez que Kai visitava a loja fontiniana, mas, definitivamente, não imaginava que encontraria um Párshy em uma floricultura.

O estabelecimento cheirava a terra molhada e hortelã. Ele exalou um suspiro impaciente e ameaçou avançar até o balcão. Mas hesitou. A música havia parado de tocar. O rádio estava desligado.

— Estamos no lugar certo? — perguntou ele, torcendo o cenho.

Lino levantou o braço esquerdo na altura do peitoral do outro, interrompendo o amigo e tomou a frente. Caminhou até a bancada e tocou a campainha de mesa. O estalo agudo ecoou duas vezes. Três. Quatro. Quando Lino esticou a mão para bater pela quinta vez no sino prateado, a figura branca, angulosa e sinistra da velha Tea surgiu em sua frente, como se despontando das sombras abaixo, segurando firme seu pulso antes que pudesse finalizar a tarefa.

O cabelo era fino como uma linha de nylon e estava puxado para trás em um coque apertado, fios tão claros quanto o gelo do ártico, assim como toda a extensão de seu corpo. Pálida. Cinzenta. Vazia. Palavras que podiam ser usadas para descrevê-la.

Era como olhar para um fantasma.

— Não é educado fazer isso, meu jovem. — a voz da Párshy preencheu a loja, os olhos brancos intimidadores encarando-o. Lino sentiu um arrepio percorrer a espinha, espalhando curtos espasmos por seu corpo. — A paciência é realmente uma virtude para poucos, não é mesmo?

Tea exibiu um sorriso afiado, Leila se encolheu. Sentiu como se uma corrente de ar frio tivesse atravessado a loja, a corrente eletrizante eriçando todos os pelos. Era um sentimento sombrio. Mas a porta estava fechada, assim como as janelas.

Leila procurou pelos outros, ansiosa. Queria que tivesse um jeito de se comunicar, de fazê-los sentir a vibração que ela estava sentindo. De avisar... Mas talvez não fosse nada. Talvez estivesse apenas com medo.

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