Capítulo 50

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Evans dormia abraçado ao travesseiro da filha, todas as noites. Mark, já tendo perdido a fé, começava a planejar grupos de procura, pros estados mais próximos de Seattle. Ele acharia Scarlett, pro irmão. Nunca se deu bem com Evans, mas não lhe fazia bem vê-lo ser torturado, pela saudade da filha, da mulher. Só que algo no peito de Evans lhe dizia que Scarlett estava perto.

- Tem que haver algum lugar, um ponto em que não tenhamos procurado. - Insistiu Evans com os irmãos, num dia à tarde, no escritório.
- Onde, por exemplo? Evans, nós viramos Seattle de cabeça pra baixo. Ela não está aqui. - Disse Downey, sério.
- Está! - Insistiu, batendo com a mão na mesa - Downey, você pode não acreditar, mas eu sinto Rosalie. Ela está por perto. Eu sei que está. A busca foi falha.
- Nós avisamos até a policia. Tem gente nossa nas fronteiras de Belltown, Madrona, Beacon Hill, Green Lakes. Até em Port Madison tem gente procurando. Se ela estiver lá, vão encontrar. - Tranqüilizou Mark.
- Ela está aqui. - Insistiu. Era como se a presença de Scarlett fosse notável, como se ele pudesse farejar seu perfume - Eu vou... eu vou sair um pouco. Preciso espairecer. - Downey, Jeremy e Mark assentiram.

Evans caminhou até longe. Em sua cabeça, estavam Scarlett e Rosalie, sentadas na neve, fazendo o boneco de neve. Estiveram tão próximas, e agora poderiam estar em qualquer lugar. Scarlett estava calma, até que o telegrama chegou. Evans pensou nisso enquanto andava sem rumo. Existia uma possibilidade de ela ter partido. E se o telegrama fosse o irmão, avisando que vinha busca-la?
Mas, por outro lado, quem se atreveria a levar os dois? Entretanto, com a ajuda dele, a fuga seria muito mais fácil. Evans estava considerando isso, quando viu um rosto não tão familiar caminhar à uns 50 metros dele. Usava um terno preto, tinha cabelos morenos.

- Hunter. - Murmurou pra si mesmo. Era o primeiro rastro de Scarlett que tinha. Ela ainda está aqui, se motivou enquanto se apressava a alcançar o moreno. - Hunter! - Chamou, ao chegar numa proximidade considerável.

Hunter se virou, respondendo intuitivamente ao seu nome. Evans não lembrava muito de suas expressões, mas eram parecidas com as de Scarlett. O cabelo era do mesmo moreno. Hunter se manteve calmo ao ver quem lhe chamara.

- Evans. - Respondeu, sereno, parando de andar.
- Em nome de Deus, onde ela está? - Perguntou, deixando o desespero transparecer em sua voz.
- Ela quem? - Perguntou, calmo.

O pingo de esperança de Evans desmoronou. Era óbvio. Se Hunter estivesse realmente com Scarlett, não lhe diria.

- Por favor. - Implorou, e por um minuto Hunter sentiu pena dele.
- Eu não sei do que você está falando.
- Scarlett. Onde está?
- Por suposto que deveria estar com você. - Alfinetou.
- Fui um idiota. Ela entendeu tudo errado. Eu não... - Ele hesitou - Não foi minha intenção magoá-la. Eu a amo. - Disse, inutilmente.
- É tarde. - Respondeu, se afastando.
- Não! - Ele o segurou - Pelo menos, me diga. Rosalie. - Pronunciar o nome da filha o machucava - A minha Rose. Ela está bem? Estava resfriada antes de... - Ele não terminou a frase.
- Fique tranqüilo. Ela vai ficar bem. - Encerrou, e com um ultimo olhar, se afastou.
- Espera ai. - Se levantou Mark, quando Evans lhe contou o que acontecerá.
- Se ele sabe da Rosalie, ele está com a Scarlett. - Concluiu Downey.
- E se ele está com a Scarlett, ela ainda está aqui. - Disse Jeremy.

Achar Hunter foi fácil como suspirar. Downey colocou homens de guarda na frente da mansão Johansson. Qualquer movimento do moreno seria seguido.

- Ele encontrou você?! - Perguntou Scarlett, alarmada.
- Na rua. Estava voltando pra casa, e me bati com ele.
- E então?
- Me perguntou de você. Pediu pra que voltasse pra casa. Perguntou de Rosalie. Está abatido, desesperado, Scar.
- Ele provocou isso. - Disse, amarga.
- Ele disse que você entendeu tudo errado, e que não era intenção dele magoar você. - Scarlett riu.
- De boas intenções o inferno está cheio. - Terminou o assunto, indo verificar a filha, que ressonava calmamente.
- Sabe que não vou poder vir muito aqui, agora que estão atrás de mim. - Comentou, observando a irmã.
- Eu sei. - Ela suspirou - Vou tentar dormir um pouco. Eu não sou a única pessoa que chora por aqui. - Ela sorriu, triste.
- Não entendi. - Ele fez uma cara confusa.
- Tem uma mulher, no andar de cima. Chora a madrugada inteira. Não tenho conseguido dormir direito. Não é nada escandaloso, eu só ouço os soluços, mas mesmo assim, me dá agonia. Acho que alguém bate nela, ou prende, não sei. - Deu os ombros, pensativa.

Scarlett só não sabia que a mulher que soluçava no andar de cima, chorava por ter lhe feito bem e por sofrer as consequências disso. Chorava por ter lhe devolvido o sobrinho.

- Como assim, ele terminou com você? - Perguntou Escobar, incrédulo e irritado, enquanto avançava pelo saguão do hotel.
- Terminou. Com todas as letras. Ia voltar pra mulher.
- Ela fugiu antes que ele voltasse. - Jessica ergueu uma sobrancelha, surpresa - Ele está destruindo Seattle por ela. E você, porque não voltou antes?
- Por Deus, Escobar. Eu estava em Londres. - Revirou os olhos.
- E agora, o que vai fazer?
- Serviço de quarto pro quarto da srta. Johansson, um café da manhã básico. - Disse ao atendente, que levou o pedido pra cozinha. Mas foi o suficiente. Os ouvidos de Jessica eram aguçados. Scarlett estava ali.

A noite caiu, calma e serena. O dia seguinte amanheceu igual. Scarlett estava entrando em depressão. Rosalie já não sorria. Evans estava vegetando.

- O que você vai fazer? - Perguntou, andando com ela no corredor. Ele já se informara sobre o andar e o número do quarto de Scarlett.
- Resolver nosso problema. - Respondeu, levando uma caixa consigo. - A morte matou o amor dele por mim, então matará por ela também. - Disse, tranquila e sorridente, enquanto parava na porta do quarto.

Scarlett tinha acabado de dar banho em Rosalie. A menina estava com um vestidinho de renda branca, perfumadinha. Agora Scarlett penteava os cabelos loiros e finos da filha. Foi quando bateram na porta.

- Quem é? - Perguntou, estranhando.
- Serviço de quarto. - Disse, sorrindo. Scarlett não conhecia sua voz.
- Estranho, eu não pedi o café ainda. - Murmurou pra si mesma - Já vou!

Scarlett colocou Rosalie em seu berço. Enquanto isso, Escobar saiu do corredor. A loira abriu a porta tranquilamente. Sua tranqüilidade fugiu ao ver dois olhos grandes, dissimulados, olhando-a.

- Olá, Scarlett. - Disse, sorrindo de canto.
- O que você quer? - Perguntou, sem paciência. A ruína de seu casamento estava ali, parada na sua frente.
- Posso entrar? - Perguntou, sínica.
- Hum... - Fingiu-se de pensativa - Por suposto que não. - Sorriu, e ia fechar a porta.

Scarlett foi fechar a porta, mas Jessica pôs o pé antes. A loira se desequilibrou no gesso, e o tempo que lhe foi gasto pra se equilibrar, foi suficiente para a mulher entrar.

- O que você quer? - Repetiu, agora raivosa.
- Vim conversar. - Sorriu, pondo a caixa de papelão que trazia em cima de uma cadeira.
- Não tenho nada pra falar com você. Saia daqui. - Continuou com a porta aberta.
- Vamos, você não está sendo educada. - Repreendeu, como uma mãe que repreende o filho.

Scarlett partiu pra cima de Jessica, visando puxa-la pra fora. Mas a mulher foi mais rápida, e fechou a mesma. Scarlett foi pra abrir a porta, e Jessica lhe chutou a perna, batendo em algo duro. O chute dela bateu no gesso, e machucou a perna de Scarlett, que cambaleou pro lado, se abaixando, com uma careta de dor, pra segurar a perna.

- Ora, vejam só. Está com a perna quebrada. - Disse, com um sorriso fascinado no rosto. Nesse momento Rosalie gritou, irritada, em seu berço. - Vejamos. A doce, meiga e angelical Rosalie. - Ela deu um passo em direção ao berço, e seu olhar era ódio puro. Rosalie manteve o olhar na mulher. Mas então, Scarlett estava no caminho.
- Se aproxime dela novamente, e eu mando você de volta pro inferno com as minhas mãos. - Rosnou, furiosa.

Scarlett se virou rapidamente, pra carregar Rosalie. Sabia, por Evans, que Jessica odiava a menina. Mas então sentiu uma dor horrível, sufocante, na nuca, e desfaleceu no chão.
Scarlett não sabe, ao certo, quanto tempo passou desmaiada. Só soube que quando sua mente começou a clarear, um flash passou por ela. Rosalie.
Ela se lançou pra frente, mas algo a prendeu pelos braços.

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