Coffe & Sunflowers - KNJ

114 23 8
                                    

S E G U N D O

E vieram vários outros "amanhãs", cada dia eu me familiarizava com mais alguma flor e tentava uma mínima conversa com MyungHee. Ela gostava muito de amarelo, seus buquês de flores nesse tom sempre eram feitos com ainda mais amor que outros, que ainda sim eram lindos. Eu fui proibido de levar café da manhã para a floricultura, a senhora Choi disse que eu a estava mimando por demasia.

Eu continuava a observar os movimentos e sempre meus olhos recaíam na delicada figura que sorria sussurrando para as flores. Já tinha inquirido a ajumma sobre o porquê da reclusão de Myung, ela sempre se desviava do assunto e me castigava com vasos pesados, eu estava exatamente pagando meus castigo carregando girassóis para lá e para cá durante quase toda a manhã.

Naquela rara oportunidade estávamos apenas eu e a pequena flor de luz — seu nome combinava com sua aura — eu admirava de uma forma que eu não podia controlar. Nos últimos dias meus rabiscos tem a ver com a menina singular que gosta de vestidos com estampas de flores, assim como gosta das plantinhas coloridas e delicadas. Tinha acabado de colocar o último vaso no lugar, estava massageando a coluna que pareceu ranger como metal contra metal sem óleo, estava indo tentar falar com a menina que estava entretida com um vaso.

Caminhei até próximo do balcão apenas para observá-la, ela sussurrava para a semente que acabara de colocar na terra, e massageava a costura da manga esquerda, ela me viu escorado na banca de orquídeas e se escondeu atrás da futura plantinha. Ela ficava fofa mas sabia que não estava confortável e todas as vezes eu sumia da sua vista de forma que eu pudesse vê-la. Eu procurei sobre timidez na internet várias vezes, mas não pareceu com o que a menina passava e eu ainda não tinha conseguido naquelas duas semanas extrair uma só palavra da halmeoni.

Há três dias eu as acompanhei até o ponto de ônibus — mesmo que tenha oferecido carona — carregando as sacolas pesadas, um ajussi perguntou quem eu era e ela disse que era seu mais novo neto, me senti uma criança quando ganha doce, desde então a chamo de halmeoni e esfrego na cara de todo mundo que tenho a avó mais doce de todo o país, mesmo que ela me castigue quase todos os dias, fiz um bico involuntário.

— Hee, querida, como está? — Uma cliente chegou a cumprimentado, e a garota se encolheu mas acenou com a cabeça. — Onde está a sua avó?

Ela murmurou algo e a cliente disse que não havia entendido, Myung se encolheu mais e tentou falar mais alto, ela estava se esforçando, muito. Quando me aproximei sua voz ficou mais audível e ela sorriu orgulhosa, acreditei que era de si mesma, eu amei aquele sorriso e gostaria de vê-lo mais vezes.

— Não sabe mesmo onde ela foi? — A cliente voltou a inquirir e eu esperei pela reação da menina. Ela simplesmente negou com a cabeça. — Ela a deixaria sozinha? Mal consegue se comunicar.

Eu não gostei nem um pouco do tom usado, muito menos da cara de frustração da menina.

— A halmeoni não está, acho que isso já o suficiente. Quer que deixemos recado? — Permiti que minha emoção tomasse conta de mim e provavelmente eu estava com uma expressão sombria. — Alguma encomenda? — Apoiei as mão na cintura e esperei a resposta que não veio, a cliente saiu encolhida e eu nem mesmo me preocupei em pedir desculpas. Encarei a garota ainda encolhida.

— Desculpe, não queria te assustar sei que é sensível. Vou estar lá na estufa se precisar...

— Obrigada. — Eu a olhei no mesmo instante e ela me olhava, era a primeira vez que me encarava enquanto sussurrava comigo.

— Não fiz nada de mais, se precisar é só chamar. — Não entendi o porquê de ter ficado tão encantado, mas ela se esforçar se tornou algo importante para mim, queria sua confiança e já estava passando da hora de eu saber o que a tornava tão especial.

As cores de uma vozOnde histórias criam vida. Descubra agora