Não conhecemos a paz

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Tudo girava.

Eu tentava manter-me em pé, ainda que cambaleasse.

Pessoas miravam-me, outras questionavam-me se eu estava bem.

As vozes abafadas.

Meus olhos cheios d'água.

Como tão rápido?

Por que conosco.

Can.

Onde estava meu amor?

O carro.

Assim que virei-me, notei que estava destruído. Havia um corpo desacordado no motorista.

Can.

Arrastei-me ao seu alcance. Eu precisava tocá-lo. Acordá-lo.

- Can - toquei seu cabelo, minha voz saindo por um fio. As lágrimas rolavam sem que eu percebesse.

Eu estava a beira de um surto.

Gritei seu nome para que ele acordasse.

Repetidas vezes.

Chacoalhei seu corpo sem nenhum cuidado.

- Acorde - eu implorava, aos berros - Can, não! Não. Por favor, não!

Senti braços fortes segurando-me. Eu debatia-me contra aqueles apertos.

- Senhorita, venha conosco.

- Soltem-me - rosnei, empurrando aquelas diversas mãos tocando-me - Soltem-me agora! Eu estou bem!

- Precisamos retirá-lo, senhorita.

Encarei o homem que chamava-me. Amoleci ao ver uma criança com o mesmo. Ela parecia assustada com minhas atitudes.

- Cuidem dele, por favor - as lágrimas voltaram com intensidade.

Ajoelhei-me sem forças no chão, ignorando os cacos de vidro que perfuravam meus joelhos.

Escondi meu rosto com as mãos enquanto tentavam levantar-me.

Senti abraços a minha volta. Uma senhora pedia que eu não olhasse o corpo desacordado de meu namorado sendo levado por uma das ambulâncias.

Um celular fora entregue em minhas mãos e eu levei alguns minutos para lembrar do número de Aziz.

Eu estava desnorteada.

Não tínhamos paz.

[...]

Aziz chorava ao meu lado, enquanto Mihriban abraçava o companheiro.

Inquieta.

Minhas mãos tremiam. Água não descia por minha garganta. Minha boca seca. Meus olhos aguados. Meu coração despedaçado. Pernas trêmulas e ensanguentadas.

- Irmã? - Leyla apareceu ao corredor do hospital, correndo ao meu alcance.

A abracei com força, colocando para fora todo o choro novamente. Chorávamos juntas, nossas lágrimas escorriam pelas roupas.

Emre segurava as mãos de seu pai entre soluços.

Um caos.

Tudo estava mal, de novo.

Recuperando-nosOnde histórias criam vida. Descubra agora