O quarto está escuro como a mente e o coração de Changkyun.
Após uma tempestade de miserável lamentação e depois de finalmente conseguir lidar de maneira coerente com todas as lembranças, é Kihyun quem o traz de volta, ironicamente. Changkyun finge que o vê escorado no batente da porta até o momento em que sua mente passa a achar que a imagem é real - mas não é, seu coração palpita em discordância, ignorado por ser insensato e vadio. Kihyun sorri de maneira fraca, preocupado com o estado do outro, com a perturbação em suas memórias, com o ar acalentado pela dor e pelo abandono. Jooheon ainda aparece, mas Jooheon agora também tem um soulmate, um cara gentil e adorável, com quem Changkyun se deu bem no primeiro café da manhã que tomaram juntos para que pudessem ser apresentados um ao outro. Hyunwoo é seu nome, tão bonito quanto o sorriso que ele lhe deu.
— Você tem a mim — Kihyun diz e sua voz soa tristonha, porque Changkyun parece esquecer-se de que são almas gêmeas, afinal. Ele sobe na cama e engatinha até ficar sobre o garoto, vendo-o fechar os olhos. — Ei, não. Olhe para mim, Changkyun.
Ele o faz e sabe o que vem em seguida. Um beijo que ele sente apenas na recordação, mas que ainda é tão forte que o faz suspirar quando termina e lhe arranca lágrimas por desejar tanto ter esse contato de volta, algo impossível e que o destrói sempre que reflete sobre isso. Kihyun fica ali até que o garoto consiga controlar o choro, até que ele adormece, e um pouco mais, até que o corpo do mais novo fique tão frio que ele pareça estar também morto, mas é apenas resultado de ter esquecido de se cobrir com o edredom numa madrugada fria.
Nos sonhos, eles estão juntos, caminhando lado a lado porque o subconsciente de Changkyun é tolo a ponto de ter esperanças de que, um dia, tais cenas serão reais. No sonho ele encara os olhos bonitos de Kihyun e vê dentro deles todas as cores do mundo, movendo-se e molhando a tudo, e seu coração bate apressado em vermelho, azul, roxo e amarelo; Kihyun sorri e Changkyun inunda-se da melhor pessoa que ele já conheceu e eles se beijam e sentem a química explodindo em verde, rosa, laranja e lilás. São todos toques inesquecíveis gravados minuciosamente.
Mas Changkyun acorda e o que vê é cinza, branco, preto e marrom.
As únicas mensagens que recebe são de um novo cliente à procura de revisão para um manuscrito. Talvez seja disso que ele precise, trabalho, algo em que se concentrar, focar-se. Responde com positividade, embora esteja cercado por todo o oposto disso, mas esconde bem durante o primeiro encontro. Acertos são feitos, arquivos são trocados e Changkyun mete a cara em uma obra de ao menos quatrocentas páginas, verificando erros, corrigindo-os, ligando para saber a real intenção de uma sentença em particular. Isso lhe toma algumas horas no dia, suficientes para detê-lo defronte pensamentos intrusos.
E o Kihyun de sua mente o assiste pacientemente, sentado no sofá da sala com as mãos no colo e os pés descalços.
Mas é o fechamento que lhe causa um transtorno há muito evitado e, assim que agradece pela oportunidade e sorri para o cliente já muito satisfeito com o trabalho empregado em seu livro, Changkyun repara em quem o observa de uma mesa distante. A carranca retorna, obrigando-o a encerrar a reunião informal com uma desculpa qualquer.
Por que diabos Minhyuk está sozinho ele não sabe, mas tem certeza de que será seguido assim que se levantar da mesa para ir embora. Despede-se cedo demais da pessoa que o acompanha, já sem nenhum laço profissional ou de demais aspectos, e acena para os táxis que não param. Um complô do destino, da vida zombeteira e cruel.
Ele não precisa se virar para saber quem é que lhe segura pelo pulso, porque os dedos finos e compridos de Minhyuk são lembranças claras como Kihyun por inteiro o é. E a pele gelada também, causando um tremor muito mais forte do que a repulsa que Changkyun quer criar e não consegue.
— Como você está? — Minhyuk pergunta e é o bastante para que Changkyun se iluda.
Eles conversam durante o trajeto até o apartamento do mais novo, coisas banais e sem importância, palavras que não serão lembradas, frases feitas, silêncio constrangedor. Changkyun não sabe por que permite que Minhyuk entre consigo, nem entende o que o mais velho pretende com a visita. Talvez não seja nada. Talvez seja apenas hábito.
Precisa ser apenas isso.
Mas não é.
Antes que Minhyuk comece com suas falas e atitudes egoístas, Changkyun o corta, o expulsa com calma, o repele como pode, com cautela e sua pouca convicção.
Não parece ser o bastante, porque Minhyuk está mais atraente do que nunca e o magnetismo entre eles é sempre muito potente.
Não há distância segura.
Minhyuk segura suas mãos com delicadeza, infeliz porque sabe que está errado e que ainda não consegue se corrigir. Talvez nunca consiga. O toque, por mais inocente e bem intencionado que seja, causa um furor no corpo de Changkyun, como se ele estivesse prestes a ter uma overdose, e isso o impele a livrar-se de seu hyung, ambos consternados com a situação.
Changkyun apoia-se na parede e sente o beijo que Minhyuk lhe rouba assim que se aproxima num impulso, olhos fechados com força para evitar a aura turva e azulada do outro, o que lhe causa faíscas internas que se transformam rapidamente num incêndio quando seus corpos se colam um ao outro, um encaixe tão bem feito que o faz subir depressa, tão sedento pela companhia, tão embaraçoso quanto pedir a plenos pulmões para que Minhyuk o rasgue como um demônio punindo um pecador.
Dói. Dói porque eles não podem continuar e porque Minhyuk tem que voltar para Hyungwon. Changkyun faz menção de impedi-lo, mas seus braços não se movem e ele permanece estático mesmo depois que o mais velho deixa o apartamento.
Ele tem raiva, mas o membro entre suas pernas lateja. Fecha os olhos deixando-se levar e imagina Kihyun aproximando-se, encarando-o com curiosidade.
— Quer minha ajuda? — seu soulmate pergunta, mas não espera por uma resposta. Chega muito perto e logo o envolve entre seus dedos, apoiando o queixo no ombro de Changkyun enquanto o movimenta e o aniquila, mostrando que ainda é capaz de atordoá-lo mesmo sendo apenas uma miragem.
Os dedos melados são seus e Changkyun arfa aliviado, mas é humilhante tocar-se quando deveria livrar-se das sensações causadas por Minhyuk de outra forma. É desrespeitoso para com Kihyun e ele não se surpreende quando um novo bibelô é encontrado em cacos.
Ele só respira porque tem certeza de que, diante de tudo, Kihyun não o quer mais a seu lado. Ele precisa ficar vivo para sofrer por todos os erros e desvios. Apenas o Kihyun presente em suas lembranças não tem vergonha do que Changkyun se tornou. Apenas o Kihyun de suas memórias o aceita independentemente de suas atitudes.
Porque nem o próprio Changkyun o faz, odiando cada centímetro de si.
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Toxic Relationship | ChangHyuk
FanficChangkyun perdeu seu soulmate de forma trágica e traumática, mas encontrou conforto nos braços de Minhyuk. Porém, o que começou como um relacionamento doce acabou se tornando uma parceria intensa e destrutiva. {ChangHyuk | JooKyun | ChangKi | soulma...