"Querido Edgar,
Lembra quando tínhamos doze anos? Era verão de 2012, Ano Novo. Você morava naquela casa na esquina, da qual eu já não lembro a cor. Era amarela? Branca? Isso já não importa.
Tinha um parquinho a uma quadra das nossas casas, onde nós sempre íamos brincar. Essa era uma das vantagens de sermos amigos de infância: você sempre me convidava para ir lá. Ficávamos sobre aquele ipê alto, deitados sob a grama. Eu tinha alergia, mas você sempre me emprestava seu casaco. Você era tão cavalheiro!
Voltando ao fim de 2012. Nossas famílias estavam fazendo uma pequena comemoração na nossa praça, assistindo aos fogos. Nós estávamos deitados na grama como sempre, quando uma estrela cadente cruzou o céu. Você me olhou animado, falando que eu precisava fazer um pedido. E eu fiz. Quando perguntei o que você pediu, você falou que havia deixado esse direito para mim, e que se você também fizesse um, a estrela não atenderia nenhum de nós dois.
Como eu disse, você era um grande cavalheiro.
Acontece que os anos passaram. Já não éramos mais crianças. Você se mudou, indo para o outro lado da cidade. Isso não foi um problema, afinal, nós ainda nos víamos na escola. Mas então você mudou de cidade. Começo de 2018. Faculdade.
Eu preciso que você entenda. Eu fiquei feliz quando você passou na Federal. Muito feliz. Você lembra o quanto quando comemoramos juntos naquela festa que sua mãe preparou. Nada daquilo foi falso. Nem nosso beijo.
Quer dizer, você estava absurdamente alcoolizado e fora de si. Eu deveria ter te afastado no primeiro contato. Mas não o fiz. O porquê? Porque eu o amo.
Eu pedi àquela estrela para que nunca nos afastasse. Naquele tempo eu já o amava, mas não do modo como faço agora. Agora eu o amo no sentido literal da palavra. E é por isso que eu te deixei ir. É por isso que quando eu te abracei naquele aeroporto, eu te deixei ir para São Paulo, ao invés de te segurar para sempre como era a minha vontade. Porque quem ama abre mão.
Eu sei que você nem ao menos lembra do beijo. Sei que possivelmente está namorando aquela moça que te acompanhou nessa última festa de fim de ano. Sei que com o tempo irá me esquecer. Mas isso não importa, desde que você seja feliz, porque parte da minha felicidade depende da sua.
Você deve estar nesse momento no avião, provavelmente ao lado da sua namorada. Deve estar se perguntando o porquê disso agora. Eu sei que a próxima vez que você voltar para a nossa antiga cidade será na Páscoa, se não tiver muito trabalho da faculdade. Isso é tempo suficiente para esquecer essa carta.
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Dei Teu Nome a Uma Estrela
Short StoryUma carta. Isso seria o bastante para demonstrar seu amor e conquistar seu destinatário?