Único

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― Você não gosta da neve, Yuu-tan?

O receptor daquela pergunta deu de ombros em resposta e ajeitou o gorrinho nada discreto sobre os fios negros e curtos enquanto caminhava. Estavam começando a incomodar desde a última vez em que os cortou, talvez fosse hora de passar no cabelereiro e cortá-los bem rente à cabeça, aí sim demorariam a séculos para voltar ao tamanho original.

Os lábios fartos não tardaram a se curvar em um sorriso idiota ao se imaginar daquela forma, suas fãs não aprovariam aquele penteado novo e absurdo, talvez nem mesmo ele.

― Eu não gosto do inverno… É frio demais, não existem roupas felizes, ficamos presos em casa e não tem momiji[1] e muito menos matsurissss. ― A forma como o guitarrista falava, gesticulando sem parar e deixando as falas carregadas com o seu sotaque do interior faziam o outro rir. E lhe fazer rir era algo que Aoi sabia fazer e muito bem quando estava consigo, aquele homem jamais deixara seu lado infantil e bobo ir embora. ―  Eh? Do que está rindo? Eu não sou nenhum comediante…

― Gomen! ― O outro homem se desculpou, ainda aos risos. ― É que você é sempre engraçado e não tem como não achar graça das coisas que diz. Devia tentar a carreira de comediante, Yuu-tan.

O moreno apenas negou com a cabeça e voltou a enfiar as mãos nos bolsos da jaqueta escura que vestia, o guitarrista usava um suéter e mais quatro camisetas grossas por baixo, fora o cachecol. E sim, ele odiava o inverno, de todas as quatro estações, lidar com neve e tudo o que ela trazia de ruim era um saco.

As ruas estavam movimentadas, mas ninguém parecia reconhecer ou se importar - caso tivessem visto - com a presença de dois músicos de uma das maiores bandas de visual kei. E daquela forma estava de bom tamanho, era uma noite especial para todos e os dois queriam passá-la tranquilamente.

No entanto, qualquer um que fosse mais atento reconheceria à distância o par de all stars vermelhos e floridos que o guitarrista ganhou isso era impossível negar.

Ele  odiava o inverno, mas gostava do Natal e achava uma pena que duas coisas que gostava e desgostava fossem tão interligadas, mas tudo parecia mudar e qualquer reclamação ia embora quando estava com Kai.

Aoi havia passado por uma série de relacionamentos desastrosos, tanto com homens quanto mulheres. Alguns eram duradouros, outros nem tanto… A rotina de gravações, sessão de fotos, viagens e shows faziam com que qualquer relacionamento que ele viesse a ter fosse pelo ralo, seus companheiros não eram tão compreensivos e por isso sempre dizia que “era alérgico ao amor”.

E foi no fim de um desses relacionamentos que ele começou a ver o baterista radiante com outros olhos. No início, o Shiroyama pensava que era apenas algo sexual, pois vivia reparando em Kai um pouco mais que o normal e qualquer um que fosse esperto e observador o suficiente sabia que o baterista era a definição da palavra gostoso e só fazia a sua vontade de levá-lo para cama aumentar... O moreno sabia disso porque já tinha visto “prévias” quando se trocavam em conjunto por aí. E então a sua obsessão começou.

Aoi não era lá um cara extremamente extrovertido e dentro da banda ele de longe era o que menos interagia com os outros membros, o jeito tímido do guitarrista não incomodava em nada os outros, que já haviam se acostumado com tal durante dezesseis longos anos. O mais próximo de si era Uruha e sim por questões profissionais, afinal ambos eram os guitarristas e precisavam sempre estar discutindo sobre idéias para as futuras composições ou qualquer coisa relacionada à guitarra. Não passava muito disso.

No entanto, Aoi foi começando a se aproximar um pouco mais do baterista e isso realmente lhe fez bem, Kai era alguém mais divertido do que esperava e com o tempo que passavam juntos - falando na maior parte besteiras - fez com que um sentimento já conhecido tomasse conta de si. E esse sentimento foi sendo alimentado e alimentado até que ele não tivesse escolha a não ser assumir que estava malditamente apaixonado pelo companheiro de banda.

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