Me dê asas, por favor?

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Existem muitas maneiras de contar uma história: Pelo passado; pelo presente; e finalmente, pelo que você sabe sobre ela. Eu não me importo com nenhuma delas.

Meu nome é Melissa, mas pela maior parte da minha vida fui chamada pelos meus amigos e conhecidos como "Megan Love". Consegui esse apelido no ensino médio, pouco antes de começar o segundo ano. Eu era popular por ser uma garota extrovertida, sem dificuldade de conseguir amizades. Com isso, logo vieram as festas do grêmio estudantil, as quais eu era sempre convidada.

Sempre me diziam que eu era a diversão de todas elas: algumas vezes chegavam a cancelar, quando eu tinha algum compromisso e não podia ir. Pouco depois comecei a ir em festas na casa dos meus amigos, dos meus conhecidos, até de pessoas que eu não conhecia direito, sempre sendo a estrela.

Quando me dei conta, todos estavam batendo na minha porta, me convidando para mais reuniões de estudantes. Eu não reclamava: era assim que eu me sentia amada. Mas não era tão bom quanto parecia: Eu sempre me via na obrigação de estar de bom humor e disposição para qualquer festa; sempre que não tinha como aceitar, eu era obrigada mesmo assim. Quando recusava, a pessoa fazia uma cara de decepção e me insultava, me deixando mal pelo resto do dia. Quando você se acostuma a ser idolatrada pela vida inteira, a rejeição não se torna fácil.

Quando eu tinha entre 8 e 11 anos, meu maior desejo era ter asas e poder voar. Eu sabia que era impossível e é até algo meio idiota se você pensar, mas sabe aquela esperança da infância? Pois é.

Toda vez que eu ia para uma festa ou reunião, pouco menos de uma hora eu já não estava mais sóbria. Os efeitos dos entorpecentes e do álcool eram sempre os mesmos: eu tinha a sensação de estar voando pelo céu, livre como um pássaro. Talvez seja por isso que eu nunca tivesse parado com a farra adolescente, mesmo que eu tente negar que meu antigo sonho ainda estava dentro de mim.

Hoje eu tenho 34 anos. Já fazem 18 anos que isso continua. Na adolescência eu tinha imensos sonhos acadêmicos - todos impossíveis de serem realizados nessa fase da minha vida - tudo porque não consegui largar um simples desejo. Eu precisava parar isso... precisava...

— MELISSA? SAI DO BANHEIRO CARALHO, NÃO É SÓ VOCÊ QUE TEM CU NÃO!

Ah, é. Agora que lembrei que passei os últimos 24 minutos (segundo meu celular) refletindo sobre minha vida, sentada na privada. Obrigada por lembrar da sua maneira mais delicada possível, Anna.

Anna é minha melhor amiga desde a faculdade. Ela sempre esteve festejando comigo, éramos inseparáveis. Ela, diferente de mim, nunca teve nenhum sonho: sua única vontade sempre foi viver a vida como se fosse o último dia. Ela chegava a chamar mais atenção que eu, em inúmeras vezes. E olha que ela só fuma, nunca bebeu nem usou nada.

— EU VOU ARROMBAR ESSA PORRA — Gritou ela, fazendo um escândalo sem tamanho. Não é de hoje que ela faz esse tipo de coisa: basta demorar um pouco mais que o normal pra fazer uma coisa que ela também quer, pra ela quase explodir de stress. Mesmo assim era fácil conviver com ela, no geral.

Me levantei e saí do banheiro. Nem me preocupei em dar descarga, só pra dar uma lição nessa vadia.

— Não sabe esperar? — Respondi com raiva.

— Você sabe que quando a força da natureza chama, não tem ninguém que me segure. — Ela brincou, tentando amenizar a situação ao perceber que eu não havia gostado. Bom saber que eu ainda tenho poder sobre ela. — Ah, e mais uma coisa: Temos uma festa hoje à noite: do Diego.

— Hã? Diego Lopes, da paderia?

— Ahn... não... o Diego zelador do condomínio... — Ela respondeu sem graça. Sim, nos vivíamos em um condomínio super apertado caindo aos pedaços, já que era o único que nosso emprego de meio período suportava.

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⏰ Última atualização: Jul 27, 2019 ⏰

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