Bom negócio

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— Como assim você passou reto?! — perguntou Guilherme. — O trânsito está pesado demais hoje.

— Porque hoje eu é que estou dirigindo. E seu caminho é péssimo — respondeu Marcos.

— Não quando está tudo parado. Olha aqui, tem um acidente embaixo da José Diniz. Vamos chegar atrasado hoje — Guilherme apontou para o aplicativo com GPS. Depois de insistir mais um pouco, Marcos acabou cedendo.

— Tá certo, vou subir a Leporace.

— Não, vá pela João Álvares, é mais rápido — sugeriu Guilherme.

Marcos consentiu, e fizeram a rotatória para ir por aquele caminho.

— Aquela casa ali está a venda? Nunca tinha reparado — comentou Guilherme.

— Já tem mais de um ano acho.

— Enfim, acho que não tinha reparado, porque sou sempre eu que estou no volante quando passamos por aqui.

Guilherme tirou uma foto do contato.

— Por que esse interesse repentino por aquela casa? — perguntou Marcos.

— Não foi por aqui que teve aquele acidente? — Guilherme devolveu a pergunta. — Acho que foi naquela casa.

— Foi exatamente naquela casa.

— Então, quem sabe eu consigo um bom desconto — disse Guilherme.

— Se eu fosse você eu ficaria longe daquele lugar, ele é assombrado.

Guilherme caiu na risada.

— Estou falando sério — afirmou Marcos. — É a segunda família que morre nele. E esta morreu na mesma noite de quando se mudaram. Não lembra, não? Ficaram uma semana só falando disso na TV.

— Lembro vagamente. De qualquer forma, é melhor ainda. Se tem mais de um ano que não conseguem vender, vou jogar o preço lá embaixo.

— Mas que lógica tem você comprar essa casa? Ela é muito grande, ainda mais agora que seu filho vai morar em Campinas. Só pra você e sua mulher?

— E meus cachorros — completou Guilherme.

— Cachorros? Você não tem cachorro.

— Exatamente. Numa casa maior vou poder ter vários.

— Continuo achando sem lógica comprar a casa. Enfim, o dinheiro é seu — disse Marcos.

— Lógica eu uso para opinar. Para investir eu trabalho com dados. Vou conseguir um bom negócio, pode ter certeza. Depois que eu fechar, te chamo pro churrasco de inauguração — convidou-o Guilherme.

— Ok — respondeu Marcos, rindo —, mas só depois de você passar a primeira noite na casa. Continuo achando que é assombrada.

Marcos e Guilherme não trabalhavam exatamente no mesmo lugar. Marcos ficava na Torre Norte, e Guilherme, na Torre Sul, no entanto os edifícios eram do mesmo complexo, assim era conveniente revezarem carona.

A manhã de Guilherme estava completa de reuniões. Assim, ele usou a hora do almoço para negociar o valor da casa, que já estava a um preço não insignificativamente abaixo da média do bairro. Guilherme não era grande conhecedor do mercado imobiliário, porém tinha investimento em todo tipo de coisa. Adorava, por exemplo, as criptomoedas. Então, ofereceu à imobiliária metade do que estavam pedindo. Eles agradeceram o contato, mas informaram que por aquele valor nem iriam continuar a negociação.

No carro, já voltando para suas casas, Marcos perguntou:

— E a casa? Vai continuar com essa ideia?

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