Desesperada

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Jade Varguezes.


O sol finalmente apareceu. A primavera estava chegando. Não estava nem muito calor e nem muito frio, estava agradável. O cheiro da terra molhada estava começando a se dissipar.

Me aconcheguei mais em minha cama, olhando para o teto. Já havia se passado oito dias desde as mensagens e ele não havia respondido, o que não me deixava surpresa, embora lá no fundo eu ainda esperava.

Não queria ir sozinha para o encontro. Suspeitava da minha insegurança. Possivelmente eu só estava querendo me apoiar em alguém, não estava a procura de um amor, querida, eu já tinha um amor, o qual se chamava comida. Que horror!

Levantei-me correndo para o andar de baixo, como sempre, a fome me dominava. Marie estava preparando algo no fogo quando me notou na porta da cozinha.

— Querida. – disse animada, abrindo o forno, tirando um bolo de chocolate e o colocando na mesa.

— Acho que é por isso que eu estou tão grande. — a senhora riu. — A culpa é toda sua. — apontei para ela, tentando parecer o mais séria possível.

— Culpada. – levantou as mãos. — Eu faço um bolo maravilhoso. — colocou um prato com uma fatia generosa de bolo. — Deixa a dieta pro ano que vem. – brincou colocando a colher em cima do balcão.

— Sabe, esse bolo está muito bom.

— A Senhorita Hazel ligou hoje mais cedo, disse que era importante.

— Hazel acordada antes do meio dia?

— Por isso deve ser importante. – deu uma risadinha. Marie trabalha para minha família há muito tempo, tanto que já a considero parte da família. Quando meu pai morreu e minha mãe enlouqueceu, ela quem cuidou da gente como se fossemos suas filhas. — Jade! — levantei o rosto. — Não vai ligar para sua irmã?

— Não. Meu único dia de folga, portanto, sem dramas de Hazel até às oito da noite. — retirou o prato usado por mim da minha frente. — Caso ela ligar, por favor, diga que estou dormindo. — corri pra sala colocando um filme qualquer na televisão, me deitei e desbloqueei o celular e logo me deparei com um email de Maddie Lindymen.

"Olá Jade, aqui é a Madison, sua antiga colega de escola. Lembra? Claro que sim haha. Enfim, preciso que confirme sua presença logo, estamos loucos para rever você. Jackson e eu estávamos relembrando alguns momentos da do colégio, bons tempos, não?

Até logo, Jadezinha."

Bons tempos? Aquela garota só sabia me humilhar todos os dias. Bons tempos para ela que sempre foi a rainha da escola. Quando completei quinze anos de idade, pedi que me colocassem em uma escola de verdade, papai foi totalmente contra, disse que estudar em casa era mais seguro, já mamãe achou a ideia maravilhosa, pedimos juntas e papai acabou cedendo. Naquela época, já era bem evidente o peso acima do recomendado na minha idade, contudo, isso nunca foi um problema, quem faria mal a uma criança? Entretanto, os insultos vieram daqueles que eu menos esperava, aqueles que não eram nem melhores e nem piores do que eu. Eram apenas adolescentes revoltados com o meu peso. No começo, eram apenas insultos e risadinhas, mas com o passar dos meses foi piorando para empurrões e agressões, entendia que eu precisava me defender, sempre fazia um planinho e um discurso, porem quando todos chegavam em cima de mim, tudo o que eu conseguia fazer era chorar e pedir para que parassem, eles nunca me escutavam. Até que chegou um dia no qual eu realmente senti vergonha de mim, não conseguia falar com os meus pais, afinal, o que eles poderiam fazer? Reclamar e só piorar as coisas? Os anos se passaram e eu nunca entendi o porquê de me odiarem tanto. O que eu havia feito para receber tanto ódio? Era gorda demais? Diferente?

Sempre achei que o problema estava comigo, alguma coisa estava errada, então tentei diversas dietas para melhorar o meu físico, mas tudo o que eu conseguia fazer era me machucar mais. Não conseguia parar de comer, na minha casa ninguém se importava, papai pedia para Marie sempre fazer um bolo e sempre tinha algo que eu amava na geladeira. Comecei a me privar de comer e fazer coisas que eu amava, comecei a parar de ir as festas com minha família, me afastei de todos e logo percebi que estava me perdendo em meio de tantos insultos. Notei tal coisa tarde demais, o problema não estava comigo. O problema estava em quem precisava colocar o outro para baixo para se sentir melhor.

O problema estava nas pessoas que humilhavam o outro para se mostrar, como se isso fosse algo de se impressionar.

— Está surda? — levei um susto ao ver Hazel em minha frente.

— Você não sabe bater na porta?

— Eu bati umas trinta vezes. — disse me encarando com a feição séria. Marie chegou com o computador o entregando para minha irmã. — Obrigada. — sorriu e se sentou ao meu lado. — Me explica o motivo de você ter um celular se não atende as ligações?

— É o meu dia de folga, quero ficar longe de você. – falei. Ela murmurou algo enquanto mexia no notebook.

— O que é tão importante que acordou Hazel Varguezes antes do meio dia?

— Matthew respondeu, e marcou o encontro. — nesse momento peguei o computador de suas mãos. — Você nem lembra o nome do site, por Deus. — o pegou de minhas mãos. — Você tem menos de uma hora para se arrumar, se eu fosse você, já estaria no banho.

— Como você me avisa isso só agora? Meu Deus! – corri para o meu quarto, tirando o pijama enquanto ia ao chuveiro.

— Vai com que roupa? — perguntou.

— Com aquela calça jeans. — gritei de volta.

— Doce ilusão. — gritou enquanto ria. — Anda logo.

— Já estou saindo. — bufei colocando a toalha para secar os meus cabeços. — Odeio me arrumar rápido, espero que valha a pena.

— Você não lembra das fotos dele? A idade chega pra todos. — debochou enquanto eu me sentava na cadeira e ela arrumava o meu cabelo.

— Está toda piadista hoje, porque não vira palhaça? – não respondeu. O barulho do secador era irritante, assim como aquele bafo quente que me fazia suar. Hazel fez a maquiagem e fez um rabo de cavalo em meus cabelos, me trouxe um vestido preto que eu nem sabia que tinha.

— Veste rápido, você tem vinte minutos para chegar no restaurante. — peguei o vestido de sua mão, fui até o closet colocando uma calcinha e um shortinho, logo colocando o vestido que deixava meus seios desejáveis e minha bunda maior.

— Vem logo. — abri o closet e ela sorriu.

— Meu Deus! Coloque esses sapatos, anda.

— Nada disso, esse sapato me machuca.

— Para de fazer esse bico e ande logo. — bufei me sentando na cama e colocando os malditos sapatos. — Uma pulseira e pronto. — sorriu batendo palmas.

— Pronto, como estou? — perguntei, passando minhas mãos pelo vestido um pouco adstrito em meu corpo.

— Linda! Agora ande, vou te mandar o endereço. — e me empurrou pra porta.

— Espere! leve isso, vai que fica frio. — ela jogou a jaqueta branca em minhas mão e eu sorri. Dei tchau para Marie indo em direção a garagem e no mesmo instante meu celular apitou mostrando o nome do restaurante. Não era tão longe.

Cheguei no local deixando as chaves com o manobrista. Abaxei o meu vestido e dei um sorriso entrando no local, uma mulher me parou e então sorriu.

— Nome, por favor. — pediu.

— Jade Varguezes.

— Oh, Senhor Pressman está a sua espera. Fique a vontade e bom apetite — sorriu educadamente. Não consegui reconhecer ninguém nesse lugar. Meu Deus, ele é branco e louro, mas só? Não é possível. É isso, vou embora, que humilhação, Jesus! Eu devia estar parecendo uma desesperada por homem, é isso.

— Jade Varguezes. — uma voz rouca me chamou a atenção, virei com tudo. O homem deu um sorriso, me olhando de cima a baixo. — Matthew Pressman. — chegou mais perto esticando a mão. — É um prazer conhecê-la. — Jesus.

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