Bohemian Rhapsody

202 31 76
                                    


A terça-feira chegou e junto com ela o sol escaldante no céu. A ideia do mais novo foi justamente se encontrar na entrada do prédio que já haviam se visto antes. O rapaz deixou claro ao mais velho que havia dito para as funcionárias do abrigo sobre sua companhia, mas que ele não devia se mostrar demais e muito menos aparecer lá com suas roupas chiques.

Por isso, Saint se vestiu para sair na rua, pela primeira vez em muito tempo, com roupas comuns. Por alguma razão, era libertador. Ser apenas um morador pacato de cidade grande era incrível para ele, já que há anos era incapaz de não ser identificado. Desde que voltou para sua terra natal até concluir seus planos, ele teria muito o que fazer.

No momento que se olhou no espelho, seu coração acelerou com a própria visão. Será que, passando os anos, sua vida se tornaria tão comum que ele poderia sair sem se preocupar com quem o veria ou qual deveria ser seu próximo passo ou todas as suas preocupações que o atormentaram até o presente estariam fixos em sua vida?

Assim que desceu e chegou ao térreo, foi recepcionado pela mesma moça de terno que havia o recebido quando se mudou. A mesma havia o auxiliado com a mudança dos móveis e estava agora acenando para o homem atrás do seu grande e majestoso balcão dourado. Saint iria apenas passar por ela, mas ela lhe dirigiu a palavra.

— Bom dia, Khun Saint. A pessoa que lhe aguarda já desceu. — O jovem assentiu, se perguntando de onde.

— Como assim desceu? — No momento que a jovem iria responder, a figura franzina de Perth passou por entre as portas em vidro com películas escuras e a mulher apontou para o garoto com as suas duas mãos.

— P'Saint, por Buda. Você não sabe olhar no relógio na krub? — Segurando o braço alheio, o mais novo, com suas roupas e comportamento habitual o puxava. — Obrigado, Fern.

— Fern? Alguém dá esse nome para um filho? — O mais velho se perguntava em alto e bom tom enquanto era arrastado pelo outro.

— Primeiro que é uma mulher. Segundo, é só o apelido dela. O nome é Baifern. — Saint olhou torto para o garoto assim que o mesmo o largou na porta de uma BMW preta, fitando-o severamente.

— Como você sabe o nome da recepcionista do meu prédio? — Ele entrou no carro sem nem pedir licença ao dono do veículo. Os detalhes escuros nos bancos vermelhos do outro quase cativaram o jovem alvo. Mas ele voltou a se recordar do caso anterior. — Ela é uma das suas namoradas?

— Francamente, senhor Suppapong. Quem você acha que sou? Ela só é... Conhecida. — Não querendo revelar realmente como a conhecia, o dono do carro apenas tentou desviar do assunto enquanto suava frio com as perguntas do outro. Como reagiria se soubesse? Provavelmente iria subir pelas paredes.

— Tudo bem, se você diz. — O mais velho não estava convencido, mas isso não o impediria de voltar a fingir que não se importava.

Passando por algum local que o mais velho não foi capaz de captar qual no momento, Perth sentiu calafrios em sua espinha e, inconscientemente, tornou seu rosto escuro. O cinza em seus olhos era quase tempestuoso. E como uma pessoa observadora que sempre foi, Saint notou isso.

— O que aconteceu? — Focado na estrada, o mais novo, que aparentemente era mais rico do que Saint havia pensado, não desviou seu olhar.

— Não é nada demais. — Mentindo, o olhar nublado se entregava profundamente. O ebúrneo não precisava ser muito inteligente para reparar na inveracidade daquelas palavras.

— Não minta. Me diga. — Era um descaso preocupado. Aquele olhar, Saint teve a impressão de já ter o visto antes. Se não era o mesmo, com certeza era muito similar.

Miríade [PAUSADA] Onde histórias criam vida. Descubra agora