Recomeçar

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Sanem

Meu sorriso não cabia na boca. Cobri a mesma e abafei um grito, abraçando o homem deitado.

Eu soluçava em seu ombro, dizia quanto eu o amava e que ele nunca mais me desse uma preocupação dessas.

Deslizei os nós dos dedos por seu cabelo e beijei sua testa. Seu rosto não demonstrava emoção alguma.

Ele parecia confuso.

Aziz e uma Doutora adentraram o quarto. O pai Divit parecia não acreditar no que via. Sorriu e calmamente estendeu a mão para que o filho a segurasse.

Can o fez, com os olhos marejados.

— Pai. Pai, o que... – ele retirou a máscara respiratória de si e suspirou profundamente — o que aconteceu?

— Não pense muito, filho – Aziz apertou mais o selar de mãos e agradeceu aos céus — Você está bem?

Can por um tempo pareceu pensar. Franziu o cenho como se a cabeça tivesse doído. Olhou para mim e logo desviou o olhar.

O que estava acontecendo?

— Sr. Can, a previsão era que não acordasse hoje, o que foi uma benção! – Asli, a doutora, fez algumas anotações e entregou a meu namorado um copo d'água — Vocês sofreram um acidente, mas aparentemente, tudo está bem.

— E a parte do cérebro que não...

— Oh, sim – Asli aproximou-se novamente de Can e pediu que o mesmo estirasse a língua, para que ela examinasse. A mesma coisa ouvidos e olhos — Sente-se tonto? Enjoado? Dor em algum lugar?

— Meus braços doem. Um pouco confuso... – Can coçou a nuca e notou um pouco de sangue — E isso.

— Podemos fazer um curativo e em algumas horas de observação, você pode ir embora.

Aziz sorriu para mim. Não pude sorrir de volta. Eu estava quieta e tão confusa quanto Can.

Por que ele não conversava comigo? Por que não olhava para mim? Por que não parecia feliz comigo lá?

— Eu posso ficar mais um pouco? – questionei a Doutora. A mesma assentiu, mas foi cortada por Can.

— Eu gostaria de ficar com meu pai, por favor.

— Filho... – Aziz tocou minha mão e uniu a de meu amor — Vocês passaram por um trauma juntos, não querem conversar?

Can encarou-me, ainda parecendo confuso. Afastou calmamente sua mão da minha e meu coração quebrou. O trauma teria deixado-o tão chocado que nem olhar pra mim faria-o bem?

Minha garganta formava-se um nó. Não queria separar-me dele novamente. Precisávamos um do outro. Agradecer por tudo. Ter um nos braços do outro. Descansar. Desabafar. Rir.

O que tinha de errado nisso?

— Pai, eu – Can encarou-me e forçou um sorriso — não a conheço.

— Muito engraçado, Can – Aziz riu e pediu com um olhar que eu fizesse o mesmo.

Eu gelei. Senti minha respiração descompassada. Minha boca tremeu. Senti-me tonta e segurei-me em uma das cômodas.

Doutora Asli segurou-me rapidamente e tocou meu rosto.

— Está pálida. Vamos levá-la para uma sala. Não parece bem.

A garganta seca. Meus olhos piscavam diversas vezes tentando formar uma imagem nítida. Eu já não sabia para onde estava sendo levada.

— Eu preciso vomitar, por favor.

[...]

Irmã – a voz de Leyla chamava-me ao fundo daquela escuridão. Tentei tocar algo e senti o calor das mãos de minha irmã.

Forcei-me a abrir meus olhos mas sentia-me fraca até mesmo para fazê-lo.

— Can, ele não lembra...

— Sanem, não pense nisso, por favor – o colchão de minha cama afundou. Leyla tocou meu rosto e eu permiti deixar mais lágrimas rolar.

— Não lembra de mim – chorei baixinho, recebendo o abraço de minha irmã, que sussurrava que eu por favor parasse de chorar — Não lembra... Leyla, a parte do cérebro dele que não reagiu... É sobre mim. Ele me esqueceu.

Recuperando-nosOnde histórias criam vida. Descubra agora