Capítulo 2 - Novo

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           Era só o que me faltava, uma confusão bem no meio do acampamento principal. Se os membros estão com tanto tempo livre para gastar por uma qualquer, vou bota-los para trabalhar até suas almas correrem em desespero, isso depois de uma boa surra.

          Saio dos corredores subterrâneos, onde o Conjunto da Região Sudoeste foi construído, e sigo em direção a superfície, rumo ao meu acampamento. Quando chego, vejo o tamanho da multidão, por volta de 90 vagabundos, uns se espancando e outros quase se matando mesmo, além dos muitos aos gritos, em plena discussão. Maioria são os membros de extensão do meu bando, os poucos mais surrados são de outros bandos (vou tratar de envia-los bem empacotados para onde pertencem).

           Dos principais Cûn Gûyllt, estão presentes apenas Daigo, o primeiro integrante depois de mim, e meu braço direito. Mestiço dos humanos, dos grandes lobos e elfos, sua estrutura alta coberta de músculos maciços é o que impede os vadios de se aproximarem de alguém jogado no chão. Outro Cûn no local é Frein, o mais velho e segundo integrante, único curandeiro mestre do bando, anão legítimo. Frein está ajoelhado ao lado de um pequeno corpo, suas feições franzidas, ele está completamente intrigado, e raras foram as vezes nesses anos todos juntos que o vi assim. Além deles, de mim e de um Gagi muito afoito logo atrás, não tem mais nenhum outro. Esses tolos lerdos não prestam nem para controlar o próprio bando, vou precisar de uma boa reunião o quanto antes.

         No meio do pandemônio, já vejo metade do acampamento semidestruído e o tsunami indo direto para cima da minha tenda, é a última gota de paciência. Respiro fundo e solto: 

_PAREM AGORA ESSA MERDA!  _Uma ordem ordem de dominação, como o rugido em voz também.

         No mesmo instante, todos congelam e se calam. Observo com descaso os segundos, enquanto eles se arrepiam com o zumbido que devem estar sentindo, metade desmaia e o resto fica atordoado. Daigo, Frein - que já tinham me visto de longe, e Gagi são os únicos acostumados comigo e foram espertos o bastante para bloquearem com antecedência.

_Excelente! Agora que calaram a boca, alguém me explica que porra tá acontecendo?

_Olha por si só Caz, essa daí aconteceu. Simplesmente surgiu, e começou tudo isso, e ainda está desacordada.

           Daigo me responde acenando com o queixo para o lugar no chão ao lado de Frein, contudo ainda se mantém a postos. Me aproximo do pequeno corpo, descrente dos motivos que gerou tudo aquilo. Até que ponho meus olhos na menina, sinto-os se arregalarem e um suspiro sair involuntário. Fecho o semblante, na tentativa de controlar minha expressão de imediato.

          Perfeita, é só o que consigo pensar para definir o que vejo. Ela é tão perfeita que nem parece estar viva, se seu peito não mexesse com a respiração. Todo seu corpo é esguio e pequeno, mal tem curvas, como o de uma criança que ainda não passou pela puberdade, porém que está próxima. A pele negra, é toda corada e não tem sequer uma marca, risca ou mancha, é como se nunca tivesse tocado em nada antes, nem mesmo ter pego um feixe de sol. Como se tivesse acabado de nascer bem ali.

           Olho para suas feições e lá estão os traços que até o melhor dos pintores ou escultores teria dificuldade em reproduzir. Sobrancelhas grossas e bem desenhadas, cílios longos e cheios e o nariz redondo empinado. Do seu maxilar, testa, nariz, bochechas, cada detalhe é bem marcado, é forte, e ao mesmo tempo de uma suavidade invejável as pétalas das flores. Tanto sua boca, em forma de botão de rosa, quanto seu nariz e bochechas são de um rosado intenso. Todo seu rosto está coberto por suaves sardas, e o que o emoldura é um longo cabelo selvagem de grandes cachos, que vão do cobre escuro ao dourado, brincando com as cores do fogo, na verdade, cada pelo de seu corpo mostra esses tons.

Cinzas - Trilogia Fênix vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora