I - O Sequestro

13 2 0
                                    

O pneu daquele carro cantava alto, chamando a atenção das pessoas que caminhavam pelas calçadas, as vozes misturadas, altas e agitadas que saiam das suas janelas de vidros abertos eram escutadas por onde passava.
– São os mafiosos, estão vindo cobrar as pessoas pelos postes que fingem ser deles... –
Comentava um senhor, que passava na calçada com sua esposa, que em seguida resmungou:
– Tomara que isso acabe um dia. –
O pneu cantou em uma freada, cinco rapazes desceram do carro, se aproximaram da porta de uma das casas e começaram a bater e apertar a campainha insistentemente.
– Sabemos que tem gente aí, vocês não trabalham nesse horário! –
Pareciam agitados e ansiosos, até que um deles abriu a porta e entrou, seguido dos outros cinco.
Dentro da casa, deram de frente com uma mulher da pele clara, cabelos pretos e longos, que acolhia em seu colo um pequeno de 2 anos de idade, com a mão agarrada à parte de trás a cabeça dele, ela escondia seu rosto contra o ombro, para que não visse nada, enquanto um dos rapazes a indagava:
– Aonde está o dinheiro? –
O marido da moça descia as escadas apressado.
– O que estão fazendo aqui? Vocês não podem entrar assim! Eu não tenho dinheiro! –
– Oh, você não tem? –
Disse ironicamente o que parecia ser o líder daquele grupo, sacando uma arma e a apontando para a testa do homem.
– O dinheiro ou a criança, vamos ver se você não tem dinheiro agora. –
Os olhos do pai se fixaram no nada, paralisado, parecia em flashbacks mentais, estava em choque. Naquele dia ele realmente não havia nem um centavo, pois havia pago suas contas e comprado o berço que tanto queriam para o seu filho. Aqueles marginais não tinham data prevista para virem, vinham quando precisavam de dinheiro, por vezes passavam meses desaparecidos, o que fazia das suas chegadas sempre imprevisíveis. Quando chegavam, escolhiam casas para pegarem dinheiro, obrigando as pessoas a pagarem pelos postes de energia que eles mentiam ter colocado ali, só para recolherem propina. E eles faziam toda e qualquer barbaridade possível por dinheiro, mesmo que não fossem levar nada...
─ Peguem a criança! ─
Disse o rapaz que apontava a arma para o pai.
─ Não, por favor... ─
A moça, com o rosto lavado em lágrimas dizia com a voz trêmula e, assim que um dos rapazes se moveu em direção ao pequeno o pai reagiu, tentando tomar a arma do criminoso.

O barulho de cinco disparos ecoou pelo quarteirão, seguido de um grito feminino indescritível, de arrepiar qualquer um...

A criança chorava e se debatia nos braços do rapaz, que arrastava a mulher pelo chão abraçada a uma de suas canelas em lágrimas e súplicas enquanto andava em direção à porta de saída, até a abrir e fechar três vezes contra os braços que o agarravam, os obrigando a lhe soltarem pela dor, a batendo contra a cabeça da moça ao fechá-la de vez, que se encolheu no chão, aos prantos.

O carro passava por algumas mulheres na calçada a uma velocidade na qual seus cabelos voavam, se jogando contra suas faces, assim como alguns papéis que estavam no chão aos ares, não as dando tempo nem de resmungarem pela velocidade que estava. Dentro dele, discussões em voz alta, todos tentavam falar mais alto que o choro daquela criança:
─ Cara... Você é maluco, o que você tem na cabeça de sequestrar uma criança!? Viemos atrás de dinheiro!!! ─
O motorista e chefe daquele grupo dirigia as pressas, calado, como se nem estivesse ali, seus pensamentos o consumiam, buscava em seu íntimo uma forma de acabar com aquela situação. O carro começou a quicar e pular, sem frear, todos apoiavam as mãos contra o teto para que não batessem a cabeça, entravam agora na trilha da floresta da cidade.
─ Aonde você está indo cara!? ─
Perguntou um dos acompanhantes, sem obter respostas.

Minutos depois, ainda naquela trilha esburacada...

─ Jogue a criança. ─
Disse o motorista, friamente, como se desenroscasse aquilo de sua garganta como um ouriço.
─ Você tá maluco cara!? ─
E antes que pudesse falar mais algo.
─ Jogue a criança!!! ─

E todos ali foram obrigados a escutar o som daquele choro diminuindo cada vez mais em seus ouvidos, até desaparecer.

"...e o silêncio que a muito tempo não se fazia dentro daquele carro se fez daquela vez, por longos minutos..."

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jul 17, 2019 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Historia De Tairo AkagamiOnde histórias criam vida. Descubra agora