Um Milagre Parte 5

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Após comerem e deliciarem-se com a companhia um do outro, de conversas bobas sem o cunho rígido dos assuntos dramáticos da fazenda. Rogério e Ana Paula foram até um dos pátios da cabana a pedido dele. Ela achou que seria somente para desfrutarem da brisa cálida que soprava do lago, mas se viu boquiaberta a ver os mariachis à espera dos dois. O violão começou no dedilhado manso de uma canção antiga

"Peregrina, de ojos claros y divinos y mejillas encendidas de arrebol. Mujercita de los lábios purpurinos y radiante cabellera como el sol."

Ana Paula olhou para Rogério e sorriu maravilhada.

— Gostou? – Ele perguntou.

— Me encanta! – Ela segurou na mão dele e apertou. – Amo cada um dos teus detalhes.

— Eu não posso dançar contigo... – Ela suspirou já se preparando para responder que isso não a importava. – do modo convencional, como talvez fosse mais bonito, porém, posso tê -la em meu colo.

Rogério puxou a mão de Paula e ela surpresa e sem palavras sentou-se no colo do marido e apoiou as mãos no pescoço dele. Rogério começou a girar a cadeira de rodas devagar, ela não se conteve e sorriu.

— Você não existe. De onde vem essas tuas ideias?

— Eu pesquisei na internet. – Ana Paula soltou uma gargalhada. – Mentira. Você me fizeste querer ser uma pessoa melhor. Tudo que eu faço por ti, ainda é pouco. Se eu pudesse e minhas limitações deixassem eu faria mais.

— Rogério, o que tu estás me proporcionando agora...isso tudo que preparaste com tanto carinho. Isso, eu sei, que é o seu melhor. É mais do que especial para mim. É perfeito. – Ele continuou girando na cadeira de rodas. Agora sorrindo e um pouco mais aliviado de saber que para Paula estava sendo uma experiência ótima.

— Você sabia que foi aqui que nos beijamos pela primeira vez? – Ele perguntou travesso. Ana Paula sacudiu a cabeça em negativa.

— Não, já havíamos nos beijado antes.

— Se está falando do beijo do casamento... eu tenho que te dizer que até hoje sinto a raiva expressada em seus lábios naquele dia. – Ana Paula sorriu. – Falo de nosso primeiro beijo de verdade. Eu estava nos seus braços...

— Que coisa maluca! Agora eu estou nos seus. – Ela beijou os lábios dele rápido e disse olhando-o nos olhos. – Eu também lembro desse dia perfeitamente. Lembro que fiquei muito nervosa com esse beijo porque não conseguia entender o que querias.

— Pensou bem que eu estava mal intencionado. – Ele retrucou faceiro. – Pode falar, Paula. Não me poupe de sua indignação. Pensava que eu ia ficar no teu pé, querendo que fosses minha esposa de verdade, como fiz na nossa noite de "núpcias".

— Vaya! E não estavas querendo algo mais, Rogério? Ou vai mentir na minha cara dizendo que não?

— Claro que eu sempre te quis como minha esposa... em todos os sentidos da palavra. Mas fui paciente porque sabia que irias se apaixonar por mim.

— Água mole em pedra dura...

— Por isso mesmo não desisti de ti, minha chiquita hermosa. Eu sabia que lá no fundo, eu estava metido dentro dos teus pensamentos.

— Convencido!

— Eu? – Rogério gargalhou. – Eu sei das coisas, mi amor.

— Ah, sabe? – Ela se ajeitou no colo dele e com ar brincalhão perguntou. – O que estou pensando agora, sabichão?

— Qual dos dois pensamentos o que posso dizer em voz alta ou o outro que os mariachis não podem ouvir? – Ela soltou uma risada folgada e Rogério a acompanhou.

Um Milagre - A Que Não Podia AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora