Capítulo 2 - Uma nova amizade

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Por um momento eu fiquei em reação.

Quero dizer, quem não ficaria? Eu estava com uma arma apontada contra mim.

- Se me desobedecer, morre. Ouça com atenção. - sussurrou ao meu ouvido. Sua voz rouca e nada atraente me deixando trêmula e aterrorizada. Seu hálito era tão fedorento quanto o de um gambá pútrido. - Você vai...

Mas eu nunca soube o quê ele queria que eu fizesse.

Porque no instante seguinte, um garoto apareceu bem na frente do acento do malfeitor, magicamente.

Seus cabelos eram tão negros quanto uma ônix, suas bochechas estavam levemente coradas e pude perceber sardas sutis sobre elas. O formato do rosto era simplesmente perfeito e sua pele era um pouco mais corada que a minha. Os olhos eram de um azul luminoso, um dos mais bonitos que já vira.

Vestia uma camisa de manga comprida azul - que destacava ainda mais seus belos olhos - , jeans surrados e tênis vermelho. Parecia um cara por quem a maioria da população mundial se apaixonaria de cara. Eu arriscaria dizer que ele poderia até ser modelo da Calvin Klein se o encontrasse na rua, era realmente muito gato.

Então ele esticou sua mão direita, lançando um olhar furioso para o cara de preto. Na parte interna de seu pulso, pude perceber uma marca, uma tatuagem.

E não qualquer marca.

Era o meu pássaro, o meu símbolo. E eu sabia disso por causa do formato incomum das asas e das cerdas que haviam no final de cada uma, exatas seis. Era idêntico, exceto que a cor do pássaro em seu pulso era preta.

Mas o que faria meu pássaro no pulso de um garoto que nunca havia visto?

E fora numa rapidez impressionante que ele sumira magicamente, exatamente como havia vindo.

Com uma exceção de que, pelo que pude entender, o gato surreal havia levado o sujeito de bafo de peixe consigo.

Subitamente soltei a respiração, que no momento não tinha noção alguma de ter prendido durante todo esse tempo.

O que foi isso?

***

Desci do ônibus e segui para minha sala, com passos tão rápidos que parecia estar correndo, sem me importar se estava esbarrando em alguém ou não.

Abri a porta, ofegante.

- Então, os espanhóis chegaram e... - o professor me percebeu, quando adentrava o recinto apressadamente. Imediatamente ele parou de apontar para a região do atual México e adquiriu a mesma postura de sempre: coluna ereta, queixo erguido, insolência e ar de superioridade. - Posso saber o motivo do atraso da senhorita? Ou pela sua falta de educação em entrar sem pedir licença, dar boa tarde nem nada? - ele me fuzilou com o olhar, batendo sua grande régua na palma esquerda de suas grandes e desgastadas mãos.

Me sentei na primeira fileira da direita pra esquerda, última carteira. Já estava tão acostumada com isso, que simplesmente me sentei e lançei um olhar indiferente ao professor.

- Desculpe-me senhor Smith, não acontecerá novamente. - Peguei meu livro de história e o coloquei sobre a mesa. - Mas, se quer saber, aconteceu uma cois... - Mesmo que ele não acreditasse, eu estava falando a verdade, certo? Era uma opção dele julgar minha verdade como uma mentira.

Não que eu fosse falar sobre o garoto, claro. Ser ameaçada por um cara armado dentro de um ônibus já era um motivo e tanto.

Além do mais, quem me garante que eu não posso estar ficando louca? Quero dizer, não é nada normal ver pessoas se materializando bem na sua frente do nada.

Iced and FeverishOnde histórias criam vida. Descubra agora