Nada Em 110 Dias

11 1 0
                                    


1° dia

Sinto como se eu fosse capaz de matar nesse exato momento. Minhas alucinações estão cada vez mais fortes e penso em me desligar totalmente, com uma dose cavalar de tarja preta.

Minha mãe diz que isso me faz bem, não sei se ela está falando a verdade, mas gosto de acreditar que sim.

Um certo dia ela me achou jogado no banheiro. Minha cabeça estava com um sangramento que não parava, e eu só a escutava a dizer coisas absurdas, como dizer que eu ainda iria matar ela, mas como assim? Era eu que estava a sangrar, e não ela. Mas logo me veio à cabeça – há! Ela deve estar se referindo ao sentimento que ela tem por mim, de amor verdadeiro, mas foi tudo um pensamento longínquo da realidade.

Quando acordei do desmaio que veio logo após ela dizer aquelas palavras, estava preso em uma cama de hospital, com ataduras em volta da cabeça e totalmente imobilizado. Estava amarrado a cama, com várias fitas, tanto minhas pernas e braços estavam em total congelamento involuntário. A única coisa que podia fazer, era virar o pescoço para as laterais. A sala do hospital nada parecia como nos filmes - acho que essas coisas de querer que tudo seja igual aos filmes, é uma tremenda falta de senso crítico. Acho que já deveríamos saber ou apenas deixarmos escapar que os filmes só estão alí para iludir.

Do lado direito havia um homem gordo de barriga pra cima, com máscara de oxigênio e um protetor de pescoço, não sei o nome correto, então que se foda. O seus braços estavam sobre a barriga e estavam os dois enfaixados por ataduras. A parte do quarto em que ele se encontrava era tão deprimente quanto ele, mas e eu? Estava na mesma situação, e o pior de tudo é que não avisto minha por perto, pelo menos do lado direito ela não estar. Sempre pensei que nesses casos, sua família nãó te deixaria por nenhum momento, mesmo se fosse para dar uma transada no bar da esquina.

Fiz o possível para acreditar que ela tinha saído a pouco tempo para comer algo, ou então ela apenas está do meu lado esquerdo, isso me deixou em uma situação de estase, pois e se eu vira e ela não estiver lá? O que eu faria?

Provavelmente nada, pois não me sinto seguro ainda em tentar virar. Pode até parecer besteira, mas se você está em um leito de hospital totalmente amarado, isso é de te deixar preocupado, a ponto de pensar em virar e ver um cara mascarado tentando de enfiar uma agulha de 2 metros nos seu país de baixo traseiro. Depois de imaginar todas as loucuras possíveis que poderiam acontecer, resolvi virar o pescoço. Me deparo não com minha mãe, mas com uma linda garota de logos cabelos negros lisos e brilhantes, como se o carvão estivesse cheio de luz. Os olhos dela estavam ao encontro dos meus, mas com um detalhe. Se encontravam fechados. Sua boca perfeitamente delineada com uma cor tão apática quanto o seu rosto, branco, mas pálido. Dormia tão profundamente, que seus peitos inflavam repetidas vezes em um compasso perfeito. Sua pele branca parecia ter sido pintada a mão, seu rosto perfeito desenhado pelos deuses. Suas mãos estavam cobertas por luvas e o resto do corpo abaixo da cintura por um cobertor branco. Usava um moletom de malha fina, que deixa seu busto em perfeita colagem com a roupa.

- Lucas!

Uma voz me tirar do deslumbre que estava sofrendo a pouco.

- Lucas Sanches?

Me viro com a cabeça para cima em busca da voz. Me espanto pelo doutor a me chamar.

- Lucas Sanches?

- Sim, repondo.

- Lucas, sou Doutor Henrique. Estou cuidando do seu caso.

Minha cara de susto só piorou e o nervosismo me fez falar besteira.

- Suponho que o senhor seja o idiota que me amarrou nessa maca, estou certo?

O médico fingiu não ter escutado nada do que eu disse, pois não me deu nenhuma resposta.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: May 29, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Nada Em 110 DiasOnde histórias criam vida. Descubra agora