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Os olhos negros de Nicolas me encaravam, e neles podia ver todas às vezes que fui negligenciada, sempre que precisei de ajuda. Sentia Maite, Gusta e Henrique em minhas costas.

Não tinha como fugir da proteção deles, e dessa nunca quis fugir, Maite era a única que realmente sabia o que tinha acontecido, e mesmo assim todos estavam ali para me apoiar, um apoio que nunca tive com mais ninguém.

- Precisa de ajuda, Alissa? – a voz forte de Henrique atravessa meus pensamentos enquanto ainda encaro meu pai.

- Não, é só um cliente...

Posso ver algo passando por seus olhos, não consigo identificar o que é, porém duvido que seja dor, ele é incapaz de sentir remorso. E mesmo que fosse, passei anos com o mesmo olhar e ele não fez nada por mim.

- Alissa, posso conversar com você a sós? – vejo seus olhos percorrer cada um dos meus amigos.

- Não

- Sim – falamos ao mesmo tempo, Maite e eu. – Tudo bem, Maite – digo baixinho em seu ouvido – eles não têm mais o poder de me machucar.

- Você só pode estar louca de acha que eu vou te deixar com esse velho caquético – ri escondendo o sorriso, era impossível não rir, mesmo sendo um homem terrível, meu pai era bonito, como uma cobra que prepara seu bote.

Nicolas continuou nos encarando, conversei através dos olhos com Maite, pedi que ficasse calma e que eu a chamaria se precisasse de ajuda extra. É claro, que eu logo a vi se juntar com Rique e Gusta perto do balcão, acho que nem se estivéssemos lotados eles me deixariam sozinha.

- Você quer sentar? Ou prefere conversar de pé?

- Podemos sentar? – meu pai perguntou, olhei para o salão e eram poucas as mesas o ocupadas, então aceitei.

- Tudo bem, mas você tem que ser rápido, eu não posso perder muito tempo.

- Eu sei que sua mãe já tentou falar com você, mas você é tão cabeça dura quanto ela e bom, por isso eu vim.

Eu odiava quando me comparavam com ela, e ele sabia, sempre fazia isso e acho que era seu jeito de mostrar que tudo sobre meu comportamento o desapontava, mas que ainda tinha coisas em mim que vinha dos dois. E que eu nunca poderia fugir daquilo. Agarrei o pano que estava em minhas mãos, tentando voltar para o agora, para o momento que Nicolas estava falando comigo.

- Vai acontecer um grande evento na empresa esse ano, pessoas de vários lugares virão e tentaremos fazer algumas boas alianças, sei que você odeia tudo isso, mas precisa ir. Um dos possíveis novos parceiros é um homem muito ligado a família, ele tem dois filhos com idade próxima a sua e precisamos dele. Você entende? Eu preciso desse nome na minha empresa.

- E você me quer para brincar de filha perfeita? Você quer que eu esteja lá para fingir ser algo que eu não sou.

- Ora, Alissa, você gostava muito de fingir.

- Eu nunca gostei, vocês sempre me fizeram de boneca, os vestidos perfeitos, os cabelos, a maquiagem. "Se comporte desse jeito, Alissa, se eu perder essa oportunidade...", "Não faça graça, Alissa, do contrário pode ser que nunca mais veja seu violão.", era tão bom ser ameaçada.

- Eu vou pagar.

- O que? Você quer que eu vá até a sua festa maldita por dinheiro?

- Sim, se não é em consideração...

- Consideração ao que, Nicolas? Aos anos que fui podada dentro da minha casa? Diminuída?

- Se você for, eu compro o apartamento em que mora com a sua amiga, passo pro seu nome.

Encontro ao Acaso - Série ao Acaso [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora