Todos haviam o convidado para o happy hour daquela sexta, bem, nem todos, mas ele recusou os convites que recebeu de seus colegas que se importaram em convidá-lo.
"Preciso adiantar meu trabalho para semana que vem, talvez eu precise faltar, tenho dentista marcado. "
"Você nunca falta, Eduardo. "
Realmente, ele nunca faltava e era o primeiro a se candidatar para fazer horas extras. Eduardo era um cara legal, todos da empresa gostavam dele, e por isso se esforçavam para convencê-lo a sair um pouco, para se divertir e ser legal de outras formas, como amigos ou algo parecido com bons colegas de trabalho desses que se cumprimentam com sinceridade quando de se encontram, por exemplo, nos corredores de um supermercado.
Mas por que Eduardo recusava todos os convites? Porque ele não queria. Ele sabia que se decepcionaria se tentasse se divertir do modo que não está acostumado, e ele também decepcionaria as outras pessoas que esperavam algo dele, a curto e médio prazo.
Ele era jovem, de boa aparência, de bom coração, gentil e educado, com o olhar de que tudo no mundo era justo com ele. E isso o tornava inapto para divertir-se como as outras pessoas.
Ele preferia chegar em sua casa o mais cansado possível, comer sua salada de maionese e macarrão frio, jogar com seus amigos online que não o convidavam para sair, jogava mais alguma coisa sozinho, assistia algo em seu tablete que substituía uma TV perfeitamente bem (Eduardo não gostava de ver TV e polegadas não importavam muito para ele) e então ia para a cama, dormindo quase que imediatamente após fechar seus olhos e sentir a coberta começando a aquecê-lo. E então pela manhã do outro dia, ele acordava, tomava um banho quente, comia seu iogurte, vestia seu blazer e ia trabalhar, e isso se repetia todos os dias, ou na maioria deles, a quase cinco anos.
Ele, claro, sentia-se mal com isso, desejava mudar, mas ele sabia que não podia, sabia que se deixasse sua mente desocupada por um minuto, ele teria um minuto de pensamentos ruins, sobre seus fracassos, seus medos, sua insatisfação, seus relacionamentos frustrados, talvez por sua indiferença ou pela indiferença da outra pessoa, e como seus relacionamentos, mais especificamente os namoros, acabavam com ele sendo deixado de lado, chorando na cama e pensando aonde ele havia errado, se perguntando em qual momento disse a palavra que fez com que ele deixasse de ser amado, ou se ao menos um dia ele o havia sido, porque para ele o amor não era algo tão difícil e milagroso quanto as séries e animações que assistia, o amor era simples, bastas que se pense na pessoa com carinho, que por mais que você esteja zangado ou magoado com a pessoa, o sentimento de carinho não desapareceria, ele estaria ali atrás dos sentimentos ruins, pronto para tomar a frente e perdoar.
As pessoas esperam muito, muito do amor, esperam sentimentos loucos, e quando percebe que a outra pessoa não pode fazer estas tais loucuras, quando percebe que nem si próprio deseja fazer algo assim, começa então a apenas puxar as notificações das mensagens de seu "amor" para o lado e não se importam em responder, como as coisas triviais e insonsas que elas podem ignorar durante todos os dias, para viver trivial e insossamente, deixando de se importar.
Carinho e empatia, isso era o amor para Eduardo, e era por isso ele havia desistido naqueles cinco anos de se sentir amado e amar.
E ele também estava ciente que estava jogando parte de sua vida pela janela, vivendo naquele círculo vicioso. "Só se vive uma vez", ele estava cansado de ouvir isso dos amigos que o deixaram, mas ele sabia que um dia esse círculo se quebraria, no dia que fosse, ele saberia quando esse dia chegaria, e sabia que era preferível jogar anos de sua vida pela janela do que se jogar da janela. Ele tinha planos, viajar, comprar jogos novos, conversar com pessoas aleatórias que ele nunca veria novamente, ver sorrisos surgirem em si e nos outros. Eduardo não era exigente, desde que o círculo se partisse e ele estivesse livre dos sentimentos e pensamentos ruins, ele aceitaria tudo.
E naquela noite não seria a noite em que o círculo se quebraria, ele não estava pronto ainda, mas ele saberia, ele vai saber, ele terá certeza.
Esses momentos de certeza que surgem do nada, nos empurrando sem piedade para o primeiro passo, tampando nossos olhos para desistirmos de tentar fugir novamente para uma zona segura, nos fazendo aceitar o que existe pela frente, tornando nula a possibilidade de qualquer arrependimento.
Eduardo saberá quando esse momento lhe trouxer de volta a sua coragem.
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Circulo trincado
Short StoryConto curto sobre a vida de um rapaz que espera pela mudança em sua vida.