ANTUN

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O gigantesco Castelo Lianes era uma colossal e tenebrosa estrutura. Erguido na pequena Ágata do século XII, a edificação conta com quatro torres secundárias que formam uma espécie de quadrilátero em volta da torre principal, os campanários são ligados por altos muros de pedra bruta e abraçam a alterosa torre principal. No centro da cidadela um caliginoso obelisco eleva-se do carminado e úmido solo numa magnifica estrutura cilíndrica e rotacionada de beleza e fausto sem igual. Com uma única entrada, o Cidadela dos Lianes é a mais segura das fortalezas de Galigun, ninguém adentra aqueles muros, ou sai deles, sem o precedente de seus senhores.

Os Lianes haviam chagado á Ágata no fim do século de XI. Eram reservados, austeros, nunca saiam dos domínios do castelo, apenas o patriarca da família fora visto nas raríssimas vezes em que deixava sua fortaleza rochosa. Um senhor barbudo, de pele branca e longos cabelos preados. Tinha uma estatura media, nem muito, nem muito baixo. Sempre que era avistado era por entre as janelas da sua magnifica carruagem negra, adornadas com prata e cobre, e que era puxada por quatro garanhões robustos.

O restante da família nunca era vista, eles nasciam, morriam e eram enterrados dentro dos muros da cidadela. Um costume comum aos mais abastados da época, ser sepultado num campo-santo particular, longe de desvalidos. Nunca nenhum agatano entrou naquele castelo, todos os subordinados daquela excêntrica família eram trazidos de fora dos domínios de Caligun, vinham de além do mar de mármara.

Para o povo de Ágata era nítido que algo de insólito se passava atrás das muralhas daquela umbrosa estrutura, contudo, a cidade tinha uma incumbência moral com aquela família para questionar quaisquer façanhas obscuras que se passassem atrás daqueles paredões. Diferente de uma divida comum, em que se paga com prata e cobre, uma incumbência moral se paga com reconhecimento. Gratidão. Sem contestação.

Antes da chegada dos misteriosos forasteiros, a pequena Ágata era considerada a cidade mais improlífera de toda Galigun. Fome e miséria reinavam sobre aquelas terras. O solo tinha se tornado estéreo, seco e duro, quase nada germinava ali e o que rebentava era devorado por pragas ou findava com a falta de água. Os animais, os poucos que ainda restavam, eram cadavéricos, magros demais para o abate, pouco se sustentavam em pé. Tudo que havia nas estreitas ruas de Ágata era a dor e o sofrimento de um povo que já tinha revogado sua própria existência. A cidade era uma pólis infecunda de desgraças e penúrias. Para muitos agatanos, Deus tinha virado as costas para aquele pedaço amaldiçoado de terra. A ínfima Ágata tinha se tornado o sepulcro do seu próprio povo. O orco de sua escória.

E então eles chegaram, erigiram sua fortaleza no centro da cidade e trouxeram sua prole para aquela terra de desgraças e infortúnios. E como um milagre, pouco tempo depois da chegada dos Lianes, Ágata principiou de forma sobrenatural seu período de louros. As lavouras deixaram de sofrer com as pragas e com a seca. As arvores floresciam novamente, mais fortes e vigorosas a cada primavera, concebendo belos e doces frutos. Os rios, antes valas de lama e pedregulhos, agora ostentavam a mais cristalina e pura seiva da vida. Os rebanhos cadavéricos e minguados de outrora deram lugar a enormes bandos de corpulentos animais. O que tinha acontecido a cidade era surreal. Inexplicável.

A exígua Ágata, que um dia fora considerada uma terra de infortúnios e lamentos, agora prosperava como nenhuma outra graças aos Lianes.

"Eles trouxeram A Sorte com eles."

Gritava o velho Rafhor todas as manhãs, pelas estreitas ruas de Ágata.

Todo ser vivo inteligente o bastante para não beber a própria urina já tinha ouvido falar das maravilhas que cercam aqueles que conseguem tocar uma Sorte. Para muitos, era inegável que eles tinham alcançado uma. E agora partilhavam dela com povo de Ágata.

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⏰ Última atualização: Jul 19, 2019 ⏰

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