Escuridão. Poeira, cinzas, tristeza, desespero, sangue, corpos, trevas. O que antes seria uma floresta agora não passava de terror, algo sombrio e macabro que dominava tudo, se alimentando das lágrimas que brotavam da área obscura do coração de cada silhueta ajoelhada ou vagando sem esperanças pela planície pontilhada com tocos de madeira podre.
O céu nublado trovejava ferozmente, causando arrepios selvagens a quem escutasse seu grosso rugido. Frequentemente, grandes luzes ofuscantes cortavam o céu, deixando um feixe prata azulado se mesclando com o laranja queimado vindo do incêndio que tomava Allegar, engolindo a madeira e as folhas, o lustre flutuante de cristais, os desenhos históricos..., caindo no chão e causando, mesmo sem intenção, outra raiz flamejante que se alastrava mais ainda pela grama morta.
A fonte dos estrondos era a pequena ruiva, largada sobre um cadáver conhecido, derramando inúmeras gotas salgadas sobre sua face. Deixando que suas emoções controlassem seus poderes, causando desastres naturais enquanto, a cada segundo, pavor, saudade e culpa florescia em seu interior. Tudo fora desnecessário, tudo fora em vão, nada compensara os esforços pelo qual ela e os outros foram submetidos, em um piscar de olhos, viram-se em um abismo, despencando, aos olhos do encapuzado.
– Não, não, não, não! – murmurava para si mesma – É apenas um sonho, nada disso é real... é apenas um sonho! – e beliscou os braços, pernas, tudo isso na esperança de acordar em sua cama, deitada e suando frio, mas a única coisa que conseguira fora acumular sangue em certas áreas.
Perdida em emoções terríveis, viu-se em um beco sem saída, convidada a ir em direção a um lugar trevoso onde não havia luz, guiado para um lugar onde não havia vida, lugar onde nem mesmo a sua própria, era existente.
Um grande tufão desceu do céu, concentrando-se num único ponto, fazendo com que milhares de grãos de areia voassem para cima, uma parte misturando-se com as cinzas do incêndio e outra sendo levada pelo vento, causando uma tempestade áspera e seca. Uma rápida cena passou por sua mente, uma garota de cabelos castanhos, com olhos verdes, de óculos simples e bochechas enrubescidas, sorrindo para ela enquanto conversavam em uma banheira de água fervente.
– Trix. – o curto nome se formou em seus lábios enquanto suas pupilas se dilatavam por medo, ela não suportaria perder outro companheiro, não poderia, ela tinha que impedir. Focando-se nesse pensamento, seguiu adiante, as íris adquirindo um toque elétrico e deixando com que a tempestade de raios tomasse mais intensidade.
Grande luminosidade partia do interior do ciclone de areia, seguido de um grito de fúria e vingança, quase apagado pelo zunido dos ventos que corriam numa velocidade incrível.
– TRIX! – a ruiva gritou desesperadamente, devia impedir aquilo, ela sabia que a garota não conseguiria apesar de, finalmente, estar utilizando, em força total, o seu poder – PARE! É INÚTIL! NÃO PODEMOS DERROTA-LO! – mas as palavras foram levadas em consideração, a menina continuou, aumentando ainda mais a força de sua dominação. –TRIX!
Mas era tudo fútil, por mais que tentasse, gastar a sua voz só a deixaria com a garganta dolorida depois... isso se houvesse um depois. Então partiu para cima, criando uma espécie de rombo ao pular para fora do tornado, que rapidamente fora reconstituído após sua silhueta escapar para o exterior. Trix ergueu as mãos, invocando um grande pilar maciço e arenoso em direção ao encapuzado que a encarava fixamente com os olhos frios, dessa vez sem o capuz, no entanto, seu rosto ainda era distorcido, tornando impossível identificar quem quer que estivesse por trás do manto negro, flocos de energia pairavam em torno da cabeça do ser, escondendo suas características.
Facilmente desviou, porém aquela não fora o único, ela invocava cada vez mais, escolhendo sempre o lugar onde o vulto estava, fruto da habilidade acrobática ao não permitir que a coluna anterior o acertasse. Pela primeira vez a ruiva, mesmo de longe, percebeu um lampejo incógnito no rosto do outro, e tinha a mesma impressão de que Trix também identificara isso. Era algo parecido com fúria, mas ao mesmo tempo, havia certa bondade mesclada a isso, algo misterioso e pacífico, até mesmo... amigável.
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RAPUNZEL A HISTÓRIA NUNCA CONTADA
FantasiaE se ao invés do velho conto de fadas, a verdadeira história de Rapunzel envolvesse algo mais sombrio, ao invés de fadas, demônios, ao invés de alegria, tristeza, ao invés de amor... morte.