Pilot

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Hoje foi um dos dias mais merdas e tranquilos da minha vida, como sempre. Depois que eu comecei a me forçar a parar de usar as drogas, meu corpo implora por mais e eu simplesmente o ignoro. Tem dias que não dá, como na madrugada, surtei demais no meu quarto, queria gritar, mas sem deixar minha família preocupada, então soltei gritos de lufadas de ar, era apenas o som da minha respiração bem alta. Bem, aquilo aliviou um pouco, mas eu ainda queria gritar, então saí do meu quarto pela janela, peguei minha bicicleta e fui em direção ao lago da cidade. Oh! Sim, é exatamente isso que vocês estão pensando.

Logo em que cheguei em todo aquele espaço aberto, gritei, mas gritei muito mesmo. Sabe quando você está na montanha russa e tem umas partes "assustadoras" que nos fazem gritar como crianças? Era eu naquele momento. A diferença é que a montanha russa era minha cabeça e os gritos funcionavam com pedidos de socorro. Mas, tudo o que faço tem consequências, gritei tanto que perdi o ar dos meus pulmões e isso me fez ter um sensação de desmaio mediana, me fazendo cair no gramado molhado pelo orvalho da madrugada. Meu olhar bambeava de um lado pro outro, o parque do lago estava girando na minha cabeça, tudo estava embaçado e minha audição indo pro saco, eu já não escutava nada pela hora, ainda mais agora meus ouvidos abafando.

— Rue? — Uma voz angelical e suave ressoou na minha cabeça.

Fiz um esforço grande pra olhar ao redor, confesso, e quando olhei pro meu lado direito vi uma pessoa bem branca e alta, usava um casaco azul bebê escrito algo na frente, sua calça era rosa e aparentemente usava tênis.

— Jules... — Soltei baixo, com a voz meio rouca por ter gritado.

— O que é que você está fazendo aqui a essa hora? — Perguntou abraçando o corpo. Minha visão ainda embaçada e confusa.

— Não sei, eu só... Só vim — Ri da minha própria situação.

— Você tem que voltar pra casa, aqui não é seguro, não pra uma mulher — Praticamente sussurrava olhando em volta.

— Eu vou voltar sim, já fiz o que tinha de fazer aqui — Fui me ajeitando pra levantar, na hora que estiquei minhas mãos para segurar as dela, fui ao chão de novo.

Virei meu rosto lentamente pro meu lado esquerdo e não havia nada ali, não tinha aquelas longas pernas cobertas pela calça rosa. Olhei pra direita e nada, pra trás e nada. Eu não entendia. O que aconteceu agora foi um delírio meu ou um aviso? Acredito que tenha sido os dois.

Lutei contra a minha vontade de passar no Fezco agora que desenrolar um Fentanil, nunca gozei de verdade até usar aquela merda. Porém, Jules apareceu e eu prefiro ela ao Fentanil, já que não vai ficar comigo se eu continuar me drogando, quer dizer, ninguém vai continuar comigo se eu continuar me envenenando.

Eu já estava há quase Vinte dias limpa, e dessa vez eu nem estou mentindo. Não estou marcando em calendário, ou qualquer outra coisa, está tudo na minha cabeça, e nas das pessoas ao meu redor. O que me mantém sóbria e em pé é a Jules, e claro, minha irmã, Gia. Infelizmente ela teve a pior cena da vida dela no começo do verão, e aquilo a traumatizou, eu não queria que me visse daquele jeito, mas eu não tive muita opção.

Subi na minha bicicleta novamente e fui pilotando sem rumo pelo parque, até que avistei uma dupla suspeita, o que me fez desviar rapidamente meu curso sem rumo e ir direto pra casa, sem nem olhar pra trás. As ruas nas quais passei eram bem calmas e silenciosas, até mesmo durante o dia, eu não me sentia em perigo naquelas ruas porque sempre tinha algum conhecido meu por ali, até se eu precisasse de ajuda eu gritaria o nome da pessoa que eu conheço. Mas, eu espero que não aconteça, nunca me perdoaria por ter saído às Três da manhã apenas pra dar um surto no parque do lago da cidade.

Euphoria: Rules.Onde histórias criam vida. Descubra agora