Sentei no banco do avião e lentamente uma animação estranha tomou meu peito. Era a segunda vez que fazia aquela viagem, mas, dessa vez seria acompanhado.
Olhei para o lado e lá estava ele, Makoto Hanamiya, em um silêncio que eu definitivamente não esperava. Nenhuma reclamação, nenhum deboche e nada de humor negro com ninguém que tivesse passado por nós no momento do check in. Isso era, definitivamente, muito raro.
— Tá tudo bem, Makoto? — perguntei, chamando a atenção dele, que antes tinha o olhar perdido no banco da frente, imóvel e agora me olhava, como se tivesse acordado de um transe. — Ei.
— Sim... — respondeu baixo, parecendo retornar e se ajeitando no banco.
— Certeza? — continuei olhando para ele, que suspirou. — Você tá quieto.
— Tá tudo bem, Teppei! — ele afirmou, arqueando as sobrancelhas e retornando a sua cara emburrada costumeira, me fazendo rir.
— Você não ta pensando naquilo que o Hara falou, está? — questionei divertido, recebendo um olhar horrorizado dele, que agora pareceu irritado, porém, um certo rubor tomou seu rosto. — Não fique assim, não precisa ter medo. — eu disse, tentando tranquilizá-lo. — Já fiz essa viagem antes e é tranquila.
— Eu sei. — ele afirmou, soltando um longo suspiro. — Eu não cairia nas brincadeiras do Kazuya!
— Claro.., claro... — ri, vendo-o arquear uma sobrancelha em aviso. — Eu acredito.
Ele voltou a ficar emburrado, olhando para as costas do banco da frente. Por mais que dissesse que tudo estava bem, eu não conseguia acreditar. Ou melhor, nem tinha como acreditar. Depois de três anos vivendo na mesma casa que Makoto, você começa a perceber algumas coisas. Por exemplo, como ele definitivamente não consegue manter sua expressão imparcial quando alguém o desagrada, ou como fica irritado quando o barulho do vizinho não o deixa ler. E por último, você aprende a perceber o quanto algumas coisas afetam seu humor. Não sei se ele percebe, mas a mudança é nítida aos olhos das pessoas com quem convive.
Me pergunto o motivo disso. Será que seria medo de altura? Não sei... Makoto não parece alguém que se deixa abalar por coisas assim. Ou, ao menos, até hoje nunca havia acontecido nada que o fizesse demonstrar tal coisa. Uma cena um tanto cômica e curiosa vem a minha mente, me fazendo segurar o riso.
Hara retornou da cozinha numa alegria que não me lembrava de ter visto. Parecia que o rapaz tinha aprontado algo, ou que uma ideia magnífica brilhava em sua mente.
— Hana-chan! — ele chamou, se sentando no tapete da sala, ao lado de Yamazaki e Seto. Me sentia estranho às vezes, mas, a cada dia a presença daquele time ia se tornando mais normal em nossa casa. — É verdade que vocês vão visitar a América?!
— Sim. — Hanamiya, que repousava a cabeça em meu colo, respondeu, ainda olhando a TV, sem dar muita atenção à empolgação do rapaz de cabelos lilás. — Vamos.
— Quando? — continuou ele, nem mesmo se importando de ser praticamente ignorado pelo outro. Isso parecia já ser algo comum, inclusive.
— Nas férias.
— Vão de avião? — a curiosidade estranha de Hara nem parecia abalar o moreno, que não tirara seus olhos da tela, assim como os outros dois ex-membros do Kirisaki Daiichi presentes.
— O que você acha? — pela primeira vez, Makoto desviou o olhar encontrando o amigo, que soltou uma risadinha percebendo a pergunta óbvia que havia feito.
— He,he! — ele riu, pegando um pouco de pipoca. — Pensei que iriam mesmo. — deu os ombros olhando para a TV que passava um filme qualquer. Sequer pensávamos que havia mesmo alguém prestando atenção. — Aliás, vocês deviam tomar cuidado.
— Com o que? — perguntou Hanamiya, cerrando os olhos, enquanto o outro ria.
— Ainda não bateu o número da média de aviões que caem por ano. — explicou, gesticulando, enquanto um sorriso um tanto sacana brotava em seus lábios. — Pode não ser seu dia de morrer, mas, se for o do piloto, todos morrem.
— Você é idiota? — Seto se manifestou pela primeira vez, olhando para Hara com uma expressão de riso contido. Makoto pareceu ficar sério, ainda o encarando.
— Tsc... cala a boca, Kazuya.
Após isso, não se tocou mais naquele assunto aquela noite, porém, uns dias depois, tive a impressão de ver Hanamiya no celular, tendo uma conversa aparentemente muito séria sobre aviões com Seto.
— Ele tava te provocando. — lembrei, fazendo um breve carinho em seu braço, vendo-o cerrar os dentes. — Não se preocupa com isso.
— Eu não tô preocupado. — sussurrou, fechando a expressão.
— Vai ser divertido. — sorri, tentando passar confiança.
— Seu conceito de diversão é bem diferente.
— É sério, Makoto.
— Teppei Kiyoshi... — ele rosnou em tom de aviso e me recolhi, me ajeitando na poltrona.
— Tudo bem... já calei... — suspirei, ouvindo a voz do piloto preencher o espaço.
— Senhoras e senhores, bem-vindos ao voo número 183, partindo do aeroporto... — a voz soava por todo o local, ao mesmo tempo que pude perceber uma espécie de arrepio tomar o corpo de Makoto, que tinha seu corpo imóvel naquele banco.
— Tem certeza que tá tudo bem? — insisti, recebendo um olhar semelhante aos anteriores, logo entendendo o que aquilo queria dizer. — Tá bem... mas, se precisar de uma mão pra segurar... — eu disse, dando os ombros e olhando para a janela. Não conseguia mais ver seu rosto, mas sentia que ainda me encarava.
Pouco tempo depois, o avião estava preparado para decolar. Podia sentir a aflição do rapaz ao meu lado, que mesmo tentando disfarçar seu nervosismo, não havia tido muito sucesso. Quem diria que o ex-capitão do Kirisaki Daiichi se abalaria por algo tão comum, pensei comigo, segurando um riso baixo. Não achei uma boa ideia deixar escapar para o outro que estava me divertindo com aquela situação, ainda presava pela minha vida após aquela viagem, não é?
Aquela movimentação típica da decolagem iniciou e podia jurar que Makoto estava se concentrando ao máximo que podia para não expressar nenhum medo. Coloquei uma das minhas mãos sobre a sua, que agarrava o encosto da poltrona como se sua vida dependesse daquilo. Ele me olhou, ainda com uma expressão assustada e, sem que eu esperasse, virou sua mão, encontrando sua palma com a minha, me apertando no lugar do objeto de antes.
E assim se passaram as horas de voo, marcadas por algumas turbulências, mas nada preocupante.
***
— Você tá verde. — eu disse, vendo-o descer do avião. — Eu disse que seria divertido. — ri.— Continue falando e eu vou me divertir acertando sua cara com um soco. — ele respondeu, com o humor costumeiro, ainda um pouco pálido pelos sustos do voo.
— Não faz assim, Makoto. — ri, vendo-o soltar um suspiro aliviado. — Ainda tem a volta.
— Não quero nem pensar nisso. — ele se arrepiou, balançando a cabeça. — Me lembre de nunca mais conversar com o Kazuya antes de uma viagem de novo. — pediu ele, me olhando sério, enquanto caminhávamos para pegar as bagagens. Eu ri, fazendo um breve carinho em seu ombro. — É sério!
— Tá bem, Mako-chan! — afirmei, ainda rindo, assistindo a expressão emburrada costumeira tomar seu rosto.
Depois disso, Hanamiya retornou ao normal, exalando veneno por onde passava, com seus comentários sarcásticos e sua percepção rápida... e eu sabia que estava tudo bem.
Claro... até o voo de volta.
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Avião...
FanfictionOlhei para o lado e lá estava ele, Makoto Hanamiya, em um silêncio que eu definitivamente não esperava. Nenhuma reclamação, nenhum deboche e nada de humor negro com ninguém que tivesse passado por nós no momento do check in. Isso era, definitivament...