Meu pesadelo se repetia pela centésima vez, ou até mais. Já perdi a noção do tempo e das vezes que ele se passou em minha mente. E o problema é que ele sempre parece real, eu consigo sentir a dor física e psicológica, em todas as vezes. O pesadelo se passava sempre em uma estrada, ela não parecia ser tão nova e isso era possível perceber pelas faixas na estrada, já um pouco apagadas pelo tempo, quando eu olhava para a esquerda conseguia ver apenas um grande campo liso, com a terra seca, uma arvore ou outra perdida que se você não olhasse com cuidado não conseguiria ver, já que ela se misturava com a escuridão da noite. No lado direito a paisagem tinha um pequeno contraste, as árvores, ao contrário das outras, essas árvores tinham seus topos cheios e aparentavam estar muito saudáveis, talvez eu pudesse estar errada, já que estávamos de noite. Eu estava dentro de um carro, junto com meus pais. Em momento tudo está calmo, mas no outro tudo gira por um motivo que eu desconheço, ouço gritos, uma voz feminina gritando pelo meu nome, provavelmente minha mãe. E no fim tudo se apaga. E o pesadelo se repete novamente. Mas dessa vez foi diferente, no final do pesadelo tudo ficou claro, senti que tinha controle sobre meu corpo. Era como se eu voltasse a ter consciência depois de muito tempo.
Com os olhos ainda fechados senti que estava deitada sob uma cama, mexi meus dedos das mãos e depois os dos pés, tudo para mim aparentava estar certo, mesmo com dores terríveis que senti no pouco que me movi. Eu tinha medo de abrir meus olhos então concentrei minha atenção nos sons, eu conseguia ouvir uma respiração mais forte, como se alguém estivesse dormindo ali no mesmo ambiente que eu, mas ainda distante, alguns barulhos como se fossem um ponto, não consegui identificar o que era esse, e havia também, um barulho mais distante de vozes, mas mesmos com elas ali o ambiente continuava, calmo. Nada daqueles sons me pareciam familiares, era óbvio que eu não estava em casa, mas então onde eu estaria?
Quando eu pensei em abrir meus olhos ouvi uma porta se abrir e o som das vozes que estavam baixas agora aumentaram, mas a porta foi fechada em seguida voltando a diminuir o som. Assim que a porta se fechou senti alguém se aproximar de mim em passos rápidos e segurou meu braço com precisão, o que me assustou e fez abrir os olhos na hora o puxando de volta para mim, foi um movimento automático. A mulher que antes parecia estar calma agora me olhava estática. Eu sentia meu corpo doer, meus olhos ficaram semicerrados por conta da luz e minha cabeça, que parecia estar prestes a explodir naquele mesmo segundo em que abri os olhos. E logo a mulher andou em passos largos até a porta e disse:
- Enfermeira, chame o médico dela, ela acordou! – A mulher gritou, mas eu não entendi direito o que ela tinha dito por estar desorientada, só entendi a parte em que ela disse "ela acordou".
- O que aconteceu comigo? Onde eu estou?! – Perguntei assustada e com a voz um pouco falha, por conta da minha garganta estar seca. Ela permaneceu quieta, mas tinha um sorriso no rosto, acho que foi na tentativa de me ajudar, mas só piorou meu desespero. Será que eu morri? Pensei.
- Fique calma, vamos lhe explicar logo – ela disse paciente, depois disso me esforcei ao máximo para observar tudo ao meu redor caso precisasse fugir dali, mesmo sentindo que meu corpo não seria capaz disso.
Olhando para tudo ao meu redor reparei que estava em um quarto, com paredes brancas, uma mesinha com muitas flores, cartas e cartazes com fotos, que naquele momento não fiz questão de prestar atenção em quem estava nelas, alguns aparelhos e no fim consegui encaixar as peças, estava em um hospital. Mas a partir deste momento, chegou a pergunta que assombrou pelos próximos dias, o que aconteceu para mim estar aqui?
- O que aconteceu? – Eu disse para a médica quando ela começou a se aproximar da porta.
- Nós iremos esclarecer tudo, não se preocupe. – Disse simpática e eu lancei um olhar de negação para ela enquanto soltava o pouco ar que tinha dentro de meus pulmões.
Como ficar calma? Não sei direito quem sou, onde estou, não faço ideia do dia que é hoje, o que aconteceu para mim estar nessa cama de hospital, o porquê desses fios no meu nariz, as agulhas em meu braço e ela nem ao menos responde a minhas perguntas, não tem como ter calma em um momento desses, pensei. Mas como doía para falar, fiquei quieta a encarando e criando minhas teorias do que estaria acontecendo. Alguns longos minutos depois o médico chegou, o médico começou a explicar sobre a minha condição e ele só disse o básico, que eu havia sofrido um grave acidente e entrado em coma. E quando eu perguntava sobre o acidente ele dizia que não era o momento para falar ou até mesmo mudava o assunto. Ele também fez alguns testes comigo para ver como meus reflexos estavam e também como minha memória estava, e ao contrário dos meus reflexos minha memória não estava tão boa. Ele me fez perguntas do meu passado das quais eu não consegui responder, foram perguntas do tipo: Qual nome do seu gato? Qual nome dos seus melhores amigos? E com exceção da pergunta do gato, não consegui responder nenhuma. Aliás, o nome dele é Loki. Eu estava preocupada, não sabia quem eu era direito, perguntei para ele se era normal esquecer de tudo e ele disse que em partes sim, pelo impacto do acidente e do coma, mas só saberíamos ao certo com o passar do tempo. Pedi mentalmente que fosse algo passageiro.
- Quando tempo eu fiquei dormindo... ou sei lá, em coma? – Perguntei.
- 52 Dias – ele respondeu – Foi tempo suficiente para você se recuperar da maioria das cirurgias e até de alguns ferimentos.
- Tem alguém cuidando de mim? – Perguntei receosa – Eu digo, da família.
- Sim – E ele começou a se aproximar e pediu que eu fechasse a mão introduzindo a agulha em meu braço.
- Quem? – Perguntei já sentido meu corpo amolecer.
- Agora não é hora para isso, queremos que você descanse, outra hora falaremos sobre isso – disse com firmeza, mas também com cautela.
Mesmo cheia de perguntas e com a mente a mil tentando entender, meu corpo não seguia o mesmo ritmo, ele foi repousando mais sobre a cama e quando me dei conta os olhos só tinham uma pequena brechinha, que em milésimos, foi fechada. E logo adormeci, me perguntando dela vigésima vez, o que aconteceu?!
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Comprando estrelas
RomanceQuando Amélia acorda em um quarto de hospital, sozinha e com apenas uma lembrança clara de um pesadelo que a rodeou durante todo período descordada, ela precisa reunir toda sua coragem para procurar as respostar e preencher as lacunas, mas será que...