Prólogo (amostra)

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        Estacionei o carro próximo ao hotel. Conferi meu rosto no espelho retrovisor, tentei mante-lo confiante, respirei fundo e sai. Caminhei pela calçada decidida a não desistir do meu plano. Armei meu melhor, e mais simpático, sorriso e atravessei as portas de vidro. A recepcionista que estava atendendo não era nenhuma que das que eu já conhecia, o que, provavelmente, era melhor.

          — Boa noite senhora, posso ajudá-la? — perguntou a moça sorridente por de trás do balcão escuro.

         — Boa noite! — respondi. — Eu sou a Renata, assistente pessoal do senhor Joah Fernandes que estava hospedado no quarto 221. Eu vim encerrar a conta dele — falei com convicção, utilizando um pouco das minhas habilidades para convencê-la da história.

          Eu usava a roupa mais formal que encontrara na minha cômoda. Uma social preta, que eu provavelmente dominei de alguém, calça jeans escura e um scarpin vermelho que eu nem lembrava que tinha.

           — O Sr. Fernandes não irá retornar ao hotel? — perguntou a recepcionista, com uma falsa e educada tristeza.

           — Não. Infelizmente o Sr. Fernandes teve uma reunião de última hora e precisou viajar as pressas. Vim a pedido dele apenas para retirar seus pertences e fazer o check-out.

            A moça me olhou com desconfiança. Olhei direto em seus olhos castanhos e alarguei meu sorriso, torcendo para que meu estado emocional não interferisse no quesito influenciar humanos.

         — Poderia ver o documento da senhora?

          — Eu já lhe mostrei, se lembra?— eu nunca havia conseguido implantar uma memória em alguém e não sabia se seria capaz. Esperava apenas que ela ficasse confusa, o que felizmente pareceu funcionar.

         — Ah sim, claro! Me desculpe! — disse ela após pensar por alguns segundos.

          A jovem, que o crachá dizia chamar-se Marina, demorou algum tempo digitando algumas informações no computador antes de voltar a falar comigo.

         — A senhora tem as chaves do quarto? — prosseguiu Marina.

          — Tenho sim. — por sorte, Joah me entregara uma copia semanas antes de morrer.

         — Precisa de ajuda com as malas? — ela já levantara o braço para pedir auxílio do mensageiro.

         — Não será necessário! — interrompi — Mas agradeceria se você pudesse me passar à senha do cofre. Eu sou uma desmiolada e esqueci de anotar. Se eu ligar mais uma vez para meu chefe para perguntar qualquer coisa, vou ouvir um sermão daqueles... Eu sei que você pode me ajudar, não é mesmo? — forcei ainda mais meus poderes sobre ela.

         Ela olhou novamente ressabiada para mim, o que me preocupou. Mantive o contato visual durante todo nosso período de silencio, sem desviar um segundo sequer. Então, ela finalmente voltou a digitar no computador e em seguida anotou a informação em um papel.

          — A conta será paga no cartão que já está em nosso sistema, senhora Renata?

           — Sim, obrigada!— E então eu peguei o elevador, sem olhar para trás.

           Conhecia o ascensorista, mas fingi que não, ignorando o sorriso de reconhecimento do rapaz. Só queria sair logo daquele lugar.

          Ao chegar em frente a porta do quarto precisei parar alguns minutos antes de abri-la. Não queria entrar ali e perceber que ele não estava, e que a culpa disso era minha.

A Noite de um Imortal II: A Ameaça.Onde histórias criam vida. Descubra agora