Juliano:
- Eu apenas estou trabalhando como cabeleireiro, pai! Qua mal há nisso?
- O QUE QUE VOCÊ ACHA EM!? Filho meu... - ele aparenta se acalmar, mas volta a gritar - ...TRABALHANDO COMO UMA BICHA, PASSANDO A MÃO EM CABELO DE HOMEM, TU ACHA ISSO BONITO, JULIANO?
- Você vai entender mesmo né!
- E a faculdade de Medicina, filho? - minha mãe me perguntou aflita.
- Larguei no início do primeiro período. Eu já sabia que não me encaixa ali mãe.
- AÍ VOCÊ RESOLVEU IR PRO MUNDO DOS "CABELINHOS E VIADINHOS", NÉ? - meu pai grita ironicamente, meu deixando até com vontade de rir, mas eu segurei.
- Tá, pai, tá bom. Agora que vocês já sabem né, o secador é meu, eu trabalho num salão e não sou gay tá. - digo isso guardando o secador na minha bolsa e continuo - Agora dá licença, por favor, porque amanhã eu trabalho e não quero me atrasar.
- Essa conversa... ela ainda não acabou, Juliano! - minha mãe sai de forma silenciosa e meu pai joga essa no ar antes de sair do meu quarto e bater a porta.
Eu não estava acreditando no que tinha acontecido, e nem sabia o que ia fazer. Me esqueço que estava falando com Adriana e rodeio meu quarto, como um pinto no galinheiro. Fiquei pensando no meu pai furioso e minha mãe tentando acalma-ló. Não ouvi nenhum sinal de discussão, olhei pela porta e vi que eles devem estar já no quarto.
Eu penso tanto, rodopio tanto que acabo dormindo. Minha cama já estava meio bagunçada, ficou mais ainda. Assim como tão dificilmente dormi, parecia que a noite havia passada bem lenta também.
- Ai meu Deus! Já são oito horas...
Me levantei sem qualquer vontade de sair da cama. Olhei para meu lençol amarrotado e minha bolsa com os equipamentos do salão. Mexi no cabelo cortado e reto, decidi encarar meus pais e abri a porta. Minha mãe esta arrumando a mesa e meu pai lendo seu jornal diário. Chego, fico totalmente sem jeito, e me sento para tomar café.
- Bom dia, pai! Bom dia, mãe!
- Bom dia, meu filho! Preparei um cafezinho para você. - diz minha mãe, enquanto coloca a bebida em uma xícara.
Pego um pão, abro e passo manteiga e coloco um pedaço de queijo nele. Meu pai nem sequer me olha ou come, apenas lê seu jornal com cara de antipatia. Não consigo suportar e pergunto:
- Pai, quanto mais você vai me ignorar, em?
- Até quando... você continuar com essa história de cabelerero...cabeloreo...
- CABELEIREIRO, PAI!!! - falo mais alto de forma mais zangada - E pode tirar seu cavalinho da chuva porque eu não deixar minha profissão por orgulho e preconceito seu!
Ele se levanta com uma cara de deboche irritante.
- É uma pena sabia, porque esse vai ser seu castigo eterno! Já que não posso te demitir a força ou te mandar pra fora dessa casa, se não vai virar até notícia no Jornal Nacional, né! - diz ele.
- Ai, pai! Quando o senhor vai aprender que isso que estou fazendo não é nada demais.
- Filho meu... não lava cabelo de outro homem!!!!! - diz ele, todo cheio de posse e sai de casa para trabalhar.
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Adriana:
Estou em plena atividade em meu trabalho. Nosso serviço tem mandado inúmeros casos da vara familiar para serem analisados. "Analisados" por mim, só pra deixar claro. Chris e eu trabalhamos muito, mesmo porque nosso chefe José não para de pegar no nosso pé.
- Sabe, Chris, eu fico aliviada de você estar aqui pra me ajudar com essa papelada toda.
- Eu também, Adri. Só que tem algo que eu preciso de contar.
Nessa hora, viro a cara e faço expressão de espanto.
- Nossa... falando assim parece até que vai sair da empresa.
- Bingo! - fala ele.
- Peraí... O QUE!? - Nessa hora, parece que parei de raciocinar por um segundo.
- Isso aí! Recebi uma proposta melhor em outro estado e acabei por acertar.
- Nossa, Chris... mas isso é bom né. - digo, mas pensando ao contrário - Vai alavancar a sua carreira né, salário melhor e tal...
- A empresa é da minha tia distante, que ofereceu uma vaga pra mim. É no estado vizinho, mais de duas horas de avião.
- Ai, amigo!
O abraço forte. Eu já sabia que isso poderia acontecer. Ele estava meio avoado esses dias e cada vez menos com processos na mão. Nesse abraço, parecia que ia perder-lo para sempre.
- Calma, Adri, calma. Eu vou vir passar férias aqui e também sempre vamos conversar. - diz ele, enquanto rio e enxugo minhas pequenas lágrimas.
- Você é a melhor coisa que esse trabalho poderia ter feito, sabia?
- Sabia, sua boba! - Após dizer isso, o abraço de novo.
Só que nesse instante, José, nosso chefe, aparece e fala:
- Sem agarramentos aqui, principalmente, você: Chris!
Chris me diz que já avisou a família e a empresa de sua mudança. Acabamos por passar o dia todo falando de memórias, futuro, nossa amizade e... alguns processinhos também. Não posso deixar o "chefão" achar que eu não sou uma boa advogada familiar.
Depois que acabou nosso turno, Chris e eu saímos juntos até a porta do escritório. Comecei:
- Esse é o seu ótimo dia aqui, não é?
- Sim, Adri!
- Me promete que isso não é um "adeus"?
- Claro que não! - Voltamos a nós abraçar - Esse é um famoso "até logo"!!!!
Esse abraço foi muito bom. Me viro e lembro que tenho um encontro com Juliano. Vou até meu carro, coloco o cinto e começo a dirigir. Mesmo avoada como estou após essa notícia "impactante", consigo dirigir bem.
Acabo por chegar no restaurante. Juliano já esta lá, eu o vejo, mas ele não me vê. Chego perto, ele se levanta e me abraça bem forte. Fico surpresa e pergunto:
- Nossa..., Juliano! A-aconteceu alguma coisa!?
- Sim, Adriana! O que eu mais temia aconteceu...
- Ai meu Deus! - fiquei preocupada instantaneamente - O que houve, menino? Fala!
- Meus pais descobriram que eu menti para eles sobre o emprego de médico... - Juliano para, abaixa a cabeça e continua - ... e também descobriram que sou cabeleireiro. Eles não aceitaram nem um pouco.
Fico pasma com tal revelação. Isso faz parecer meu motivo de desanimo fútil e irrelevante. Tento conforta-lo, dizendo:
- Calma, meu amigo! Eu sei que vai ficar tudo bem. Seus podem... podem... só estar chocados com a novidade, né? Só... tenha calma.
- Eu estou tendo calma, mas... isso não é legal sabe!? - Juliano possui uma lágrima em cada olho e consigo imaginar uma coisa para que ele possa melhorar.
- Sabe... eu acho que posso tentar de ajudar.
- Como? - questiona Juliano.
- Isso! - respondo Juliano, logo após lhe dou um beijo.
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Puro Amor
RomanceO que acontece quando duas famílias problemáticas acabam fazendo dois apaixonados se cruzarem pela vida? Juliano, um rapaz aplicado pressionado pelo pai para seguir a carreira de médico, e Adriana, uma menina alegre e brincalhona que se vê num mun...