Capítulo importante pra uma virada. Sem me xingar, hein, queridas Juliantinas!
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Malditos barulhos de bip. Repetição insuportável que só deixa a gente mais aflito. Entendo agora o que Val e minha mãe passaram comigo nas vezes que fui hospitalizada. É de uma agonia, como se a gente não estivesse nervosa o suficiente, ainda fica aquele barulhinho marcando o tempo de tortura que você está passando com um ente querido deitado em uma cama. E era ali que ela, o ser mais lindo do universo, se encontrava agora. Seu rosto pleno, sua pele lisa, sua respiração estável e aquele maldito curativo em sua cabeça, me relembrando o fim de noite que tivemos.
Depois que consegui abrir a porta do banheiro, a ambulância chegou rapidamente. Não esperamos nem 10 minutos e Val já estava sendo levada do nosso apartamento, não totalmente consciente, mas na maior parte do caminho respondendo à perguntas. Algumas leves apagadas a deixavam confusa, mas eu fiquei com ela o caminho inteiro, para que não se assustasse.
Daquele momento até agora, havia se passado 7 horas. Nesse tempo, eu liguei pra minha mãe para avisa-la, roí todas as minhas unhas, liguei também para seus sócios no instituto, falei com todas as enfermeiras do andar e gastei minha sola de sapato, já que andava pra lá e pra cá no quarto, sem conseguir nem sentar de tão aflita. Já havia falado com o médico que acompanhada Valentina, o Dr. Ricardo, que foi o primeiro a nos atender e passou a ser um entusiasta do caso. Resumi o que tinha acontecido por telefone mesmo.
- Juliana, eu tento não ser um cara pessimista, mas estou preocupado com a piora rápida de Valentina. Pedi que o hospital me mandasse o exame de sangue dela, para eu já ir adiantando seu prognóstico...
- Eu não estou preparada pra ouvir nada que o senhor vai me falar.
- Talvez tenhamos que agir de outra forma. Mas você não obteve nenhuma resposta dos laboratórios?
- Obtive. Todas negativas. Nada é compatível com o sangue de Val. Pedi para que minha mãe e Panchito fossem testados. O resultado sairia amanhã. Esse sendo o prazo mais rápido que conseguiram me dar.
- Juliana, posso te perguntar porque você não se testou primeiro?
Essa era uma pergunta que eu sabia que iria acabar me assombrando. Valentina já tinha me feito e eu consegui sair da encruzilhada respondendo que minha mãe e Panchito queriam muito ser os primeiros a terem essa honra, a honra de talvez salvar a vida de Valentina. Porque eu não fui a primeira? Porque o meu medo era exatamente o de não ser a pessoa que a salvaria. Não queria admitir, mas meu passado de derrotas não era algo que eu me esquecesse em momentos difíceis. Ele na verdade voltava com uma bomba em meu subconsciente, me dizendo que eu não prestava pra nada, que era uma doentinha mental, que nada do que eu fazia ia dar certo. Crescer sendo hostilizada por ser diferente nunca é fácil e ter conhecido a normalidade e o amor pleno ao ter encontrado Valentina, me tornou totalmente dependente daquela sensação e consequentemente, dela. Ela era a minha razão de vida e eu morria de medo de não poder ser a razão dela viver. Mas o que responder ao homem do outro lado do telefone? Essa era uma questão psicológica profunda, que mesmo depois de anos ainda me impedida de ser a pessoa que Val acreditava que eu era. Eu era fraca, mas não poderia responder isso também.
- Não sei. Mas acho que posso ser a próxima, né?
- Não quero pressionar você em nada, mas se eu pudesse ser a salvação de alguém, a sua cura, eu gostaria de saber imediatamente.
"A sua cura." Tanto eu quanto Val ouvimos essa frase algumas vezes. Seu pai, que apesar de louco, acreditava que eu poderia ajudar Valentina com seus episódios e meu médico, Dr. Mateo, também foi convencido de que ela era a minha. Mas nós duas achávamos aquilo apenas um exagero para o que nós considerávamos uma ligação de almas, não de cromossomos e DNA. Mas hoje, olhando pra minha namorada, a mulher dos meus sonhos e da minha realidade, deitada naquela cama de hospital, ficando cada dia mais fraca, eu desejava que seu pai estivesse certo. Desejava que eu, a garota erradinha, problemática e inútil, tivesse o poder da cura total daquele anjo desacordado em minha frente. O que eu estava esperando? Eu tinha que saber se eu era ou não, já que eu havia prometido que a salvaria, custe o que custar.
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O que ficou pra trás
FanfictionSabe quando a gente acha que tá pronto pra seguir em frente? Que o que passou ficou no passado e não nos afeta mais? Que quem um dia foi importante, hoje é apenas a sombra de uma antiga realidade? Então, esquece. Quando o tempo não importa, passado...