A Barraca do Beijo 2

CAPÍTULO 1 - A espera

Havia meses que não nos víamos. E embora nós nos falássemos quase todos os dias, sempre que possível pelo Skype, nossos encontros virtuais não se comparavam ao pessoal.

Eu sentia falta do seu olhar, do seu toque. Apenas ouvir e imaginar não era suficiente, e a distância e o tempo, com toda essa virtualidade, às vezes me faziam, inclusive, questionar se eu realmente ainda me lembrava com nitidez do seu rosto... seu cabelo castanho levemente caindo sobre sua testa e olhos, os pelos grossos e bagunçados da sua sobrancelha, seu nariz levemente torto e com algumas sardas suaves, seu boca macia e fina, seu queixo estreito e aquelas covinhas.

Quando ficamos muito tempo ser ver alguém ao vivo, temos a sensação de que a nossa lembrança nos falta em detalhes. Como quando perdi a minha mãe. Depois de algum tempo, toda vez que eu pegava uma foto, sempre estranhava o fato de que a minha lembrança do seu rosto não era mais tão perfeita como na foto. O tempo faz os traços sutis e únicos de alguém dissipar-se, restando, ao fim, apenas uma ideia do contorno concreto daquela pessoa, a sua essência. E, de repente, aquelas características físicas já não importam mais, apenas os sentimentos.

Não era como se Noah e eu não víssemos há anos, ele não morreu, como minha mãe. Graças a Deus. Mas havia meses e, quando o via na tela do celular ou do computador, eu já estava começando a ter aquela mesma sensação de quando via uma foto da minha mãe.

De qualquer forma, era melhor eu não ficar remoendo isso, afinal de contas, ele chegaria em apenas duas horas. Caramba... duas horas. Eu nem acredito que vou vê-lo. Me pergunto: será que ele vai vir correndo e me abraçar? Vai me beijar? Eu nem sei como devo me comportar. Quer dizer, eu estou muito ansiosa e não quero que ele se assuste com o meu nível de saudade dele. O que significa que eu terei que me conter um pouco e deixar ele se ambientar e tomar a atitude primeiro, certo? Ah, droga... seja o que tiver de ser.

Enquanto a minha cabeça fervia em um turbilhão de aflição e ansiedade, eu continuei a me arrumar. Terminei de secar o meu cabelo, coloquei uma calça jeans escura, uma blusa azul clara, uma jaqueta verde musgo e, claro, meu allstar preto... mas esse não estava furado na sola – era o novo, que ele me dera de presente no último outono, antes de se mudar para Boston e iniciar suas aulas em Harvard.

Foi quando eu estava quase terminando de me arrumar, quando já havia me maquiado um pouco (só para tirar aquela cara de doente pálida, típica de donzela renascentista de romances antigos), no momento em que estava borrifando um pouco do perfume que ele gostava, que eu ouvi a campainha tocando lá embaixo. Devia ser o Lee, pois ele ficou de me buscar para irmos juntos receber o Noah no aeroporto. Meu estômago revirou de ansiedade, mas eu decidi ignorar.

Então peguei a minha bolsa e saí do meu quarto a passos largos, descendo as escadas rapidamente, apenas acenando para o meu pai, que esteva tirando a mesa do café da manhã. Ele já sabia aonde eu ia. Quando cheguei ao carro do Lee, June e Mathew estavam atrás.

- "Oi, Lee. June. Mathew. Como vocês estão? Ansiosos?" – Eu disse com a voz um pouco entrecortada, tentando parecer descolada e totalmente no controle da minha própria ansiedade, mas falhando miseravelmente.

- "Oi, querida. Estamos surtando aqui... não vemos a hora de abraçar o nosso pequeno grande universitário. Ele faz tanta falta."

Mathew também me cumprimentou.

Lee, como sempre muito atento, e me conhecendo como ninguém, disparou:

- "Elle, você está uma bagunça. Não continue com essa cara de cachorro sem dono ou o meu irmão vai se assustar e sair correndo, hein!"

- "Ah, deixa de ser panaca, Lee. Você perde a amiga, mas não perde a graça, não é mesmo?" – Eu retruquei, mas dessa vez eu não completei com um sorriso. Eu estava muito nervosa.