10. Você É Fraca!

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    Lamar acompanha-me para fora do Santuário após eu controlar minha crise emocional. Ele não solta uma palavra, segue-me em minha caminhada desorientada até chegarmos a uma praia. O gato senta-se ao meu lado na areia e aproveitamos juntos a vista para o mar aberto. Eu não sei quanto tempo passei com Erisyr, mas eu estou exausta como se um monumento pesado houvesse caído cima mim, esmagando cada um de meus ossos.
    Olho para a bolsa marrom que guarda a pelugem de lobo de Hyrom, tiro-a cuidadosamente e acaricio. Onde ele está a uma hora dessas? Está bem? Ao menos está vivo? Uma pequena dúvida interrompe minha preocupação ao lembrar o que ouvi dos lábios do Deus da Natureza: Hyrom também é filho dele? Ou apenas eu sou a bastarda?
    Ninguém pode saber disso. Talvez Hyrom possa, no entanto ninguém além dele deve saber.
    Lamar levanta-se e espreguiça-se.
    — Vou procurar o Asgardiano, não irei demorar.
    Concordo com a cabeça. Esqueci de Loki. Tenha cuidado com o asgardiano, disse Erisyr. Ele fez um alerta óbvio, mas... Se fez, é porque sabe que algo acontecerá. É um Deus! Um planeta! Deve saber o que passou, o que passa e o que passará. É o dom dos verdadeiros Deuses.
    Passo a mão em minha cintura e então percebo algo diferente. Cutuco com a ponta dos dedos para ter certeza e pá! O ferimento em minha cintura não dói mais.
    Desfaço todo o curativo de Loki e confirmo incrédula. A pele está lisa e macia como seda. Não existe nenhuma cicatriz.
    Magia...
    Foi Erisyr, é claro!
    Meu "pai" curou-me para que eu seguisse seus planos. Curou-me apenas para recuperar aquela droga de Cristal. O homem que diz ser meu pai só revelou-se porque precisa de mim. Ele nunca importou-se com a filha como Coriander e Sikar.
    Respiro fundo tentando não criar raiva de um ser divino, eu deveria agradecê-lo, infelizmente. Volto meu pensamentos para meu irmão. Fico repetindo meus mantras recém-criados para ganhar um pouco de positividade, mas algo espeta minha costa, o que causa um arrepio.
    Perigo. A palavra desperta meu corpo exausto.
    — Levante bem de vagar — ordena a mulher. Sua voz é aguda demais, o que estraga sua tentativa de demostrar força. Levanto-me sem protestar — Põe as mãos para cima e vire-se para mim — Obedeço. Eu não tenho nada valioso para ser roubado.
    Quem assaltaria o Berço de Erisyr? Que ideia besta, Astarte!
    Meus olhos encontram os de uma forte mulher da mesma idade que eu. Cabelos louros trançados para trás; roupas velhas e sujas de lama e em sua mão, agora apontando para meu coração, uma espada bem afiada. Ela está aparentemente estressada.
    — Responda minhas perguntas com cuidado e eu não a machucarei — alerta ela. Permaneço quieta aguardando — Quem te contou sobre o Syran?
    Um animal pequeno tagarela que dá bananas para o dragão de estimação. Que resposta maravilhosa, fácil de acreditar... Prefiro escolher melhor as palavras antes.
    — Vim com um amigo.
    — Que amigo? — pergunta em seguida.
    Agora não tenho escapatória. Olhei para os cantos tentando encontrar ajuda, mas eu estou sozinha em frente à uma possível assassina. Mordo os lábios até ferir minha boca.
    — Um gato preto. Lamar.
    — Lamar? — ela franze o cenho.
    Droga. Droga. Droga.
    A ponta da espada dela chega a tocar minha pele. Eu tento invocar minhas chamas, porém como minha mãe sempre dizia: se você conseguiu esgotar suas energias positivas, elemento algum vai querer lhe ajudar. Eu estou um lixo; cansada, destruída desde que voltei do Santuário. O elemento fogo claramente não está ao meu favor.
    Eu nunca fiquei tão feliz por ver Loki. Ele surge da Floresta e imediatamente fixa os olhos no que considera ameaçador. Invoca suas lâminas e aponta para a mulher.
    Obrigada, pessoa irritante que nunca critiquei.
    — O que você deseja? — questiono arrumando minha postura e aderindo o olhar intenso que Coriander usava em negociações.
    — Eu faço as perguntas por aqui — a mulher com os olhos semi-serrados sobe a espada para meu pescoço. Loki dá um passo à frente. A lâmina gelada faz-me engolir a saliva — Quem são vocês?
    — Loki Odinson — o Deus chama a atenção dela para si — Príncipe de Asgard.
    Ela bota novamente os olhos em mim, esperando minha resposta. Olho para Loki, ele balança a cabeça negativamente.
    — Sigyn Aesir — digo com clareza.
    A mulher ergue uma das sobrancelhas. Eu não sou ninguém importante. Não pareço ser.
    — O que está acontecendo aqui? — Lamar está sentando no galho de uma árvore como se fosse um pássaro. Ao notar aqueles fios louros, abaixa um pouco para enxergar melhor e pergunta: — Radina?
    Na mesma hora ela vira-se para trás procurando pelo gato.
    — Lamar Adonizier? — Radina larga a espada e corre até a árvore para alcançar o pequeno animal, que pula em seu peito e é preso num longo abraço — Você está vivo! VIVO!
    Adonizier.
    Coço meu queixo revirando nas minhas lembranças as páginas dos livros que li. Reinos. Famílias reais. Sobrenomes.
    Belshazar; Tanishirah; Amidabar; Geturinyr; Adonizier. Os cinco sobrenomes mais importantes de Erisyr. Cada sobrenome corresponde a um elemento, que também corresponde a um reino.
    Lamar Adonizier. O gato preto que esteve comigo todo esse tempo é um membro da família real do reino de Turmahlia; é um herdeiro do elemento terra.
    Como assim? Que porra é essa? É loucura...
    Eu procuro o rosto de Loki e depois o do gato, que muda sua feição de repente. Ele entende que foi descoberto, que sua história embaraçosa terá que ser contada mais cedo ou mais tarde.
    Um gato herdeiro da terra. Um gato. Um animal... Que sabe falar... Meus ouvidos param de funcionar para o mundo.
    Enquanto o gato e a mulher conversam eu forço meu corpo a sair daquele lugar. São descobertas demais para apenas um dia e eu nem quero imaginar como Lamar foi feito.
    Após um tempo seguida por uma sombra muda e perdida no meio das plantas, eu encontro as ruínas do Palácio dos Lordes e entro.
    Desabo no chão da sala do trono e observo o teto rachado implorando que ele caia sobre mim. Minha cabeça pesa por um instante. Sinto uma leve ardência nos olhos antes de uma lágrima correr pela minha bochecha, uma após a outra e eu concedo sua liberdade até Loki sentar-se comigo sem muito o que fazer. O dever dele é me proteger, talvez me auxiliar em problemas políticos e não bancar a babá de uma princesa.
    Você é fraca igual aos seus pais — disse o Deus em Asgard e poderia muito bem falar agora que está presenciando meu choro, mas ele fica quieto, o que deveria ser bom para mim. Algo está errado, quer dizer, além de todas as coisas na minha vida.
    — Você não precisa fingir que se importa, Loki. Eu vou resolver isso tudo. Vou conseguir. E você voltará para o luxo de Asgard.
    — Eu sei — diz ele observando-me do mesmo jeito que fazia quando éramos menores. Com aqueles olhos azuis-esverdeados repletos de confiança e ansiosos por uma travessura.

Astarte e o Cristal da Criação | fanfic loki (PAUSADA) #RaposaDeOuroOnde histórias criam vida. Descubra agora