O fone de ouvido apertava minha orelha, mas não me preocupei com isso. Queria apenas continuar ouvindo a música alta, porém reconfortante que me fazia pensar na vida. Meus olhos se mantinham fechados, me privando de participar do que estava acontecendo em minha volta.
Meu braço direito é cutucado três vezes seguida, o que me faz abrir os olhos e perceber Clára falando comigo. Por conta da música alta em meus ouvidos, eu percebia apenas seus lábios se moverem, sem emitir nenhum som.
Quase sorri achando graça da situação, só até a irritação começar a tomar conta do rosto de Clara. Sua pele branca estava começando a tomar um tom de vermelho, o que me fez tirar o fone imediatamente dos ouvidos.
ㅡ Até que enfim! Você já estava me irritando, e eu ponderei deixá-la aí.
Reviro meus olhos pegando minha bagagem antes de me levantar. Clara não fez questão de me esperar, saiu do avião apressadamente e eu tentei alcançá-la para não ser deixada de lado.
ㅡ Para que tanta pressa? ㅡ Pergunto tentando acompanhar seus passos rápidos.
ㅡ Se você não percebeu, estamos há um mês sem ver mamâe. Estou morrendo de saudades!
Depois de mais alguns minutos caminhando, consigo ver minha mãe nos esperando. Ela mantinha um sorriso alegre e não escondia a felicidade que sentia em nos ver novamente. Ou melhor… Ver Clára.
As duas se abraçaram fortemente e eu podia escutar murmúrios. Elas estariam dizendo uma para a outra o quanto estavam com saudades. Assim que se separaram, me surpreendi por ser puxada para um rápido abraço. Ele não durou muito tempo como o abraço que Clara recebeu, mas do mesmo jeito era um abraço.
Nos afastamos, e foi aí que me caiu a ficha. A decepção poderia ser tão notàvel em meu rosto que qualquer um que esteja me olhando perceberá o quanto estou decepcionada.
Meus amigos estavam ali e nos observavam, Apolo também estava, e matava a saudade de Clára com um beijo quase sem fim. Fico me perguntando se toda sua pressa de alguns minutos atrás era mesmo vontade de reencontrar nossa mãe.
Mas o fato importante era que minha mãe não me abraçou por vontade própria e sim para manter a boa impressão de uma mãe com saudades de suas duas filhas. Mas era tudo fingimento.
Forço-me para abrir um sorriso e caminho até meus amigos. Dou um abraço apertado em Marina e fico sem jeito ao chegar em Sérgio, mas lhe dou um abraço rápido. Nossa amizade não poderia ser desfeita apenas pelo que aconteceu antes de minha viagem, até porque, não tinha sentido desfazer uma amizade de anos por conta de sentimentos indesejados.
Sérgio e Marina eram uma dupla inseparável na infância. Isso só até eu chegar e transformar aquela dupla em um trio. Eu tinha apenas sete anos quando minha mãe resolveu mudar drasticamente nossas vidas, tudo isso apenas para manter as aparências de família perfeita, teria que ir par longe antes que as pessoas descobrissem como nossa família tinha diversos problemas.
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Com Muita Dor, Cléo
SpiritualitéPara Cléo, a pior coisa que existe é ver as pessoas que mais ama duvidar de seu caráter, e isso acontece quando ela mais precisa, no momento em que ela se sentia fraca, sozinha, despedaçada, abandonada. Cléo nunca iria tirar aquelas imagens da cabe...