Capítulo 1

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"Cada qual é artífice da própria fortuna."

Júlio César


Tudo está bem quando acaba bem.

A grande batalha que esperavam por semanas, aquela para qual tinham preparado seus corpos, mentes e espíritos, enfim acabou em uma reviravolta muito anti climática. Leah estava aliviada e feliz por todos do bando, de sua família e o resto de La Push estarem ilesos e vivos milagrosamente.

Contudo, ela não conseguia conter a frustração de sua loba, bem como a sua própria. Ambas passaram semanas cercadas de vampiros, negando seu instintos de matá-los. A perspectiva de batalha iminente junto com o medo havia criado em Leah uma mórbida antecipação de se entregar aos seus instintos e descarregar toda essa raiva engarrafada em um ataque de fúria aos vampiros "malvados".

Mas isso não aconteceu e agora Leah tinha que lidar com sua loba arranhando suas paredes mentais e bufando de raiva dentro de sua cabeça. Meses atrás ela já teria atacado o primeiro incauto que aparecesse em seu caminho, fosse com palavras ou punhos, o que viesse primeiro. Curiosamente, o fato de ter sido obrigada a conviver com vampiros por tanto tempo de forma pacífica, ou melhor, de forma não agressiva havia feito coisas miraculosas com seu controle.

Ela tinha aprendido na marra a controlar mais sua loba e seus próprios instintos, isso, no entanto, não mudava a forma como se sentia no momento. Sua melhor aposta nesse instante foi ir para a floresta para esfriar sua cabeça. Leah estava no lado Cullen e não pensava em cruzar a linha do tratado, já que estava com zero paciência para encontrar qualquer um da matilha de Sam.

A ideia de virar se transformar e correr pela floresta, uma das poucas coisas que amava em ser uma loba, tinha passado pela sua cabeça, afinal a mudança era sempre o jeito mais rápido de acabar com a frustração e energia raivosa correndo em suas veias. No entanto, Leah não estava disposta a aguentar ninguém na sua cabeça agora, isso acabaria por inflamar ainda mais sua raiva ao invés de apaziguá-la.

Apreciando um pouco da solidão que apenas a sua forma humana conseguia proporcionar, Leah andou até uma clareira e deitou no chão. A terra misturada a gelo enchia suas mãos, esfriava um pouco seu corpo constantemente aquecido. O vento uivava uma canção triste e bela. Ao longe roedores de algum tipo voltavam para a toca. Embalada pela melodia da floresta e o silêncio em seu peito, poderia encarar a verdade.

Não foi apenas sua raiva, frustração ou sua loba que a trouxeram até aquele lugar. Era bem mais que isso, algo que ela tinha dificuldade de até admitir para si mesma e que, no entanto, não tornava o real motivo menos verdadeiro.

Ela fugiu.

Havia fugido das comemorações de fim da batalha que estavam acontecendo na mansão do terror. Fugindo da alegria nauseante de todos a sua volta. Fugindo de ver todos eles juntos e felizes. Fugindo de suas próprias emoções sobre isso.

Leah não suportava a acidez que borbulhava em seu estômago quando os via. Se sentia como uma criança sozinha no frio assistindo através de um vidro embaçado, uma família feliz abrindo seus presentes aos pés de uma árvore de natal.

Ela era amarga, sabia disso. Mas era difícil não ser assim depois de perder tanto em tão pouco tempo. Gostaria de ser resiliente, positiva ou afundar menos em auto piedade. Às vezes a raiva ajudava, mas em momentos como esses se sentia fraca e tola e cansada demais para fazer algo, além de sentir pena de si mesma e odiava isso.

Embora Leah tinha que admitir que, comparado há alguns meses, as coisas tinham melhorado muito. Ter cortados os laços com a matilha de Sam e seguido Seth, algo que ela fez não só para proteger seu irmão como também para se salvar, foi a melhor decisão que ela tinha tomado. Poucos momentos depois que a conexão de Seth com a matilha tinha sido quebrada, Leah soube que era sua chance, uma oportunidade única de deixar seu passado para trás e tirar Sam da sua cabeça, literalmente.

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