Capítulo 3: Caindo na real

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Karma não podia acreditar no que aconteceu. Elizabete tirara sua vida! Ela a matara! Aproveitou que a moça estava vulnerável e sozinha e tentou a extinguir do mundo! Por quê? Por que ela fez isso? Por que viu nela o rosto de sua própria mulher? Por que a moto da víbora se encontrava no quintal de sua antiga casa? Essas e outras perguntas rondavam a cabeça de Karma enquanto ela seguia, voltando para a porta do quarto de Camila, quarto que fora também seu. Estava tudo fechado, mas a janela se encontrava aberta, na lateral esquerda do cômodo. Teria Camila voltado de viagem?

A jovem seguiu em direção à janela, quando pôs se de frente a ela e não pôde acreditar no que seus olhos viram. A traição fora mais longe do que ela jamais imaginara. Não! Como tudo pôde acontecer assim?! Como pôde ser tão ingênua?!

No cômodo a frente de sua visão estavam deitadas no que costumava ser a sua cama, Camila e Elizabete dormindo abraçadas! E pareciam estar nuas, com um fino lençol cobrindo-lhes.

Karma afastou-se, ficando tonta. Uma dor mais dilacerante que antes rasgou-lhe de dentro pra fora. E se Camila soubesse do que Elizabete tinha feito? E se ela tivesse sido cúmplice? A possibilidade disso tudo fazia ela se sentir afogada, sufocada por tamanha tristeza, pouco a pouco se tornando ódio. Não havia palavras para expressar o que ela sentia. Aquela mulher que ela dera seu amor, sua proteção, seu dinheiro! Aquela mulher por quem ela largara tudo em sua cidade natal, deixando sua família em prantos quando decidiu, aquela por quem lutara contra tudo e todos, que defendia veemente a inocência e fidelidade, diante de tantas acusações que já a haviam feito.

Houve até rumores de coisas sujas dela com homens mais sujos ainda, o que Karma negava até o ultimo segundo, brigava para defendê-la e punha sua mão no fogo pela mulher, mas que agora ela já não sabia. Agora a ultima gota havia enchido o copo. Ela não podia mais, já não dava. Ela não sabia o que fazer, o que pensar, tudo havia colidido tão depressa... Então correu, na esperança de desaparecer do mundo.

Segurava um nó na garganta, nos pés o desespero de tentar fugir da realidade era o que a guiava. Para onde? Ela ainda não sabia. O fôlego para um grito quase rugido se formava em seus pulmões, sentia necessidade de extravasar a fúria que ela tinha em si, queimando e destruindo tudo.

A jovem passava pela autoestrada agora: tudo era vazio, as ruas eram escurecidas pela ausência da lua, coberta por nuvens densas assim como seu coração estava escurecido de ódio. Sentia-se vazia, como se quem ela fosse ontem e hoje fossem duas pessoas diferentes, com histórias diferentes, uma estava feliz e a outra profundamente desiludida e amarga. Parou de correr, precisava pensar no que fazer. A uma altura passou um carro esporte vermelho, dentro dele um homem loiro sozinho, provavelmente voltando de alguma festa. Ele viu a menina sozinha na estrada e parou, desceu do carro. Demonstrava que era um sujeito vaidoso: Camisa social xadrez vermelha com as mangas dobradas até o cotovelo, bermuda bege e um tênis que aparentava ser muito caro. Ele tinha estatura pequena para um homem, mas tinha um porte físico malhado. Tinha uma tatuagem de cobra dando voltas em seu braço direito, terminando com a cabeça desenhada na parte superior de sua mão.

- Ei? Precisa de ajuda, gatinha? – Ele falou, mascando chicletes. Seu tom de voz era interesseiro.

- Não, obrigada. – Ela respondeu, identificando o interesse. Ele se aproximou mais, as feições arrogantes e maliciosas.

- Não fique com medo, vamos eu te dou uma carona.

- Não estou com medo, eu só não quero ir! – Ele chegou mais perto tentando segurá-la e ela se afastou, mas ele insistia. As emoções da mulher estavam abaladas, ela começava a se irritar com ele. O homem desabotoou alguns botões de sua camisa e tentou tirar a blusa dela, a pouca distancia de seus corpos se encontrarem.

- Vamos, amor, você está com a roupa suja. Deixe-me ajuda-la, vista essa aqui. Seu namorado deve ser um merda, como deixa uma gata dessas sozinha assim?

- Eu não tenho namorado!

- Então eu posso ser seu namorado. – Ele disse, sorrindo presunçoso. A raiva tomou conta dela por completo, exaurindo seu ultimo esforço de autocontrole e ela partiu para cima dele sem pensar duas vezes, este tentou reagir. Ela estava agarrada ao corpo do sujeito agora, enfiava seus polegares nos olhos do homem que gritava muito. Então levantou e correu para o carro ainda aberto na beira da rua, procurou algum objeto pontiagudo no porta luvas. Achou um pequeno canivete, enquanto o

loiro tentava se levantar, tateando apavorado pelo chão, nos lugar dos olhos buracos sangrentos. Ela desceu e chutou-o, fazendo ele se deitar no asfalto e sentou em cima do rapaz bruscamente, dizendo:

- Quer ser meu namorado, amor? Eu vou querer seu coração.

Começou uma chuva forte quando ela abriu totalmente a camisa do sujeito estourando os botões, deixando o peito nu com os pequenos pelos loiros molhados pela chuva. Passou a mão pela extensão da pele, sentindo o calor e os batimentos cardíacos e rasgou com o canivete. Os gritos se intensificaram até cessarem, quando o homem atingiu a inconsciência. Jogou de lado o pequeno objeto e enfiou a mão dentro do buraco sob a pele branca, arrancou o órgão ainda palpitando e deixou-o morrer aos poucos em sua palma, enquanto lambia o sangue escorrendo. Sorriu satisfeita ao dar uma bela mordida, como uma maçã. Os poucos minutos que ficou ali parada deu-lhe margem para o começo de um plano, o suficiente para poder terminar sua estratégia depois. Ela se levantou e entrou no carro, as chaves estavam na ignição. Ligou o rádio deixando o som inundar seus ouvidos, a música por ironia do destino era Don't Dance With The Devil – Rachel Taylor. Ela arrancou com o automóvel bruscamente, marcas de pneus ficaram sobre o asfalto. Karma agora estava determinada a cumprir o que julgava ser o seu destino.

Teu Karma Sou EuOnde histórias criam vida. Descubra agora