Capítulo 14: O Funeral

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O dia era chuvoso, como se chorasse acompanhando a emoção do local. Vários guarda-chuvas negros escureciam ainda mais aquele dia deprimido, as pessoas também vestiam negro, trazendo à tona a falta de cor necessária a remeter as emoções de vazio do momento. Era como se a sensação de plenitude, os raios do sol no verão, as cores felizes, tudo fosse enterrado com Bruno. Ao centro seu caixão se encontrava, ao redor as pessoas choravam. Sua mãe estava debruçada sobre o recipiente de madeira, banhando-o com suas lágrimas, a irmã e a cunhada do falecido com seu sobrinho nos braços à direita, perto do Padre que dizia palavras de conforto e de despedida do jovem.

- Ele era tão jovem: tinha minha idade! Não consigo compreender... Não consigo aceitar... – Murmurava Gabriele em um tom muito triste. Camila afagou o ombro da mulher, o braço passava atrás de suas costas. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar os últimos dias. Agora era como se ela não tivesse mais lágrimas, mas seus olhos doíam muito. Seu rosto moreno estava pálido, ela também havia ganhado alguns quilos: emoções fortes afetavam seu metabolismo e também seu apetite.

Algum tempo depois, o caixão era colocado na cova. Elise se apegava ao morto, gritando que não o levassem dela ainda. A dor fazia-se aguda em seus gritos estridentes, quando Camila soltou Gabriele e caminhou até lá, abraçou a mãe, arrastando-a da beirada, de onde parecia prestes a se jogar. Quando trazia a mãe junto de si para onde sua esposa estava, notou uma presença estranha, que não estava ali antes. Não podia dizer se era homem ou mulher, sua silhueta estava coberta por um grande sobretudo de moletom, seu rosto estava coberto com um capuz. A jovem mulher fitou por uns segundos enquanto andava arrastando a mãe, quando uma brisa afastou um pouco o tecido do rosto, deixando a mostra algo como duas safiras muito brilhantes. Passou uma pessoa com seu guarda-chuva em frente ao ser em trajes negros e num piscar de olhos este sumiu. Camila achou estranho, mas decidiu não pensar, não tinha cabeça para aquilo.

As pessoas agora jogavam flores no buraco, cada uma com seu olhar de tristeza e uma a uma ia deixando o local. A pobre mãe desolada teve de ser arrastada para fora do cemitério, aos gritos e lágrimas entrou a contragosto no táxi e foi para casa com o restante de sua família.

As sombras da tristeza e engano tomavam aquela família, sobretudo o

casal que agora ao invés de uma traidora continha duas, cada uma com sua respectiva traição. E por falar em traição, na noite daquele mesmo dia, Camila sentiu vontade, na verdade uma necessidade de encontrar Elizabete. Há alguns dias ela ligava para a mulher, mas só dava caixa postal. Onde ela estaria? Teria viajado? Estaria fazendo joguinhos de indiferença? Camila sentia que precisava checar.

Gabriele ficava impaciente quando a mulher saía, mas agora já não fazia tanta questão. Na verdade, aquela era a ocasião que esperava há tempos: Sua sogra dormia, o bebê dormia, a esposa saiu... Parecia um convite do destino, uma conspiração do universo e ela decidiu acatar. Tomou o celular em suas pequenas mãos e discou o numero, pouco depois a voz amorosa atendeu do outro lado da linha:

- Oi, meu amor! Ansiava por sua ligação. – Aquilo era tão bom de ouvir... Karla sempre fazia questão de ser atenciosa e carinhosa, fazendo-a sentir-se amada e também desejada, como há tempos esquecera que poderia ser.

- Preciso que me busque... Não quero ficar sozinha hoje, amor. – Sua voz era triste e manhosa.

- Ok, chego em poucos minutos.

Em poucos minutos Karla chegou para buscar a mulher e Camila ainda estava em seu caminho, já que a casa de Elizabete ficava um pouco longe da cidade.

Chegando em seu destino, a casa de Karla, Gabriele sentou no sofá. Karla perguntou se ela desejava beber ou comer alguma coisa, seguida de uma resposta negativa, então se sentou ao lado da mulher. Tomou-lhe o rosto entre as mãos, erguendo seu olhar e perguntou:

Teu Karma Sou EuOnde histórias criam vida. Descubra agora