Cheguei em casa carregando a pasta cheia de papéis, relatórios, estudos, pesquisas, propostas, contratos. Minha mulher, jogando paciência na cama, um copo de uísque na mesa de cabeceira, disse, sem tirar os olhos das cartas, - você está com um ar cansado.-Os sons da casa: minha filha no quarto dela treinando impostação de voz, a música quadrifônica do quarto do meu filho.
-Você não vai largar essa mala?, perguntou minha mulher, tira essa roupa, bebe um uisquinho, você precisa aprender a relaxar.-
Fui para a biblioteca, o lugar da casa onde gostava de ficar isolado e como sempre não fiz nada. Abri o volume de pesquisas sobre a mesa, não via as
letras e números, eu esperava apenas.-Você não para de trabalhar, aposto que os teus sócios não trabalham nem a metade e ganham a mesma coisa,- entrou a minha mulher na sala com o copo na mão-, já posso servir o jantar?-
Meus filhos tinham crescido, eu e a minha mulher estávamos gordos. É aquele vinho que você gosta, ela estalou a língua com prazer. Meu filho me pediu dinheiro quando estávamos no cafezinho, minha filha me pediu dinheiro na hora do licor. Minha filha menor estava ocupada demais com seu tablet e minha mulher nada pediu, aliás nós tínhamos conta bancária conjunta.
-Vamos dar uma volta de carro?, convidei.- Eu sabia que ela não ia, era hora da novela.
Peguei as chaves do carro enquanto me aproximava da saída, quando paro congelado em frente a porta ao ouvir a voz da minha esposa.
- Eu te amo!-
Largo as chaves no chão e me viro preocupado.
- Você está bem? Realmente? O que está acontecendo?!-
Ela ri alto, então me dá as costas em direção à cozinha, pega sua tão amada taça e a enche de vinho, senta na bancada e finalmente me responde.
- Estou ótima.- de pernas cruzadas, escorregando o indicador pela borda da taça. - Por que não se junta a mim?
- Claro.- sento na bancada e me sirvo. -Eu não sei o que fazer.
-Pode começar me contando o que você tanto faz ao sair pela noite-. Bebe rápido e olha na direção da garrafa, dizendo... - Preciso de mais.
- Não, você não precisa. - tomo a garrafa de suas mãos. - Eu também te amo e não posso te ver assim, não mais. Toda noite eu saio, para fugir da realidade, pego meu carro e ando sem rumo, às vezes até choro por não poder te ajudar, não poder mudar o que está acontecendo com você, o que está acontecendo com a gente.-
Baixo minha cabeça por um tempo e quando levanto avisto minha esposa em lágrimas, nos abraçamos fortemente e ela me diz.
- Você tem que me ajudar, eu quero mudar. Deixar essas bebidas e focar no amor que ainda temos.-
- Vamos! Que tal assistirmos a novela?- proponho me levantando e pegando sua mão.
- Vou preparar algo, podemos ver um filme. Chame as crianças, Miguel. - assim ordenou a mulher com quem me casei.
Subo as escadas num salto e abro a porta do quarto de Thomas e desligo aquela música.
- Reunião de família, já para a sala garoto!
- Pai? O que aconteceu?- ele me pergunta apavorado, pois estava viajando ouvindo aquele rock pauleira.
- Susana, Agustina?- grito ao corredor.
- Papai? Paizinho você ficou.- a minha caçula diz pula nos meu braços, gritando.
Eu desço com a Agustina no colo e os mais velhos me seguem.
- Que cheiro bom. - comenta Susana, sobre o milagre de sua mãe estar cozinhando.
- Thomas vá ajudar sua mãe!- ele vai até a cozinha e eu fico com as meninas, escolhendo o que assistir.
A ideia era um filme, mas acabamos por um seriado da Netflix.
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Passeio Noturno Final Alternativo
FanfictionComeça com o conto literário "Passeio Noturno" de Ruben Fonseca e eu mudo o enredo e dou um final feliz 💞