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Sabe quando você sente que realizou o sonho de subir no prédio bem alto e foi empurrado pela janela com 828 metros de altura? Foi o que aconteceu quando comecei a ler a carta dos meus pais, eu não estava acreditando que aquilo era real. Não pode ser real.

Sempre que eu quisesse meus pais estariam aqui disponível para me abraçar, me dá bronca, conversar. isso não é real, não pode estar acontecendo. Minha vontade é acordar desse terrível engano. Pois o aperto no meu peito faz com que eu sinta isso. Estou imóvel sem saber o que falar, o que fazer, isso é como um choque elétrico e tudo que mais quero é que alguém desligue a energia. Já estou no meu quarto, olhando para o teto e não querendo compreender nada, nada, isso é um pesadelo, só pode ser um pesadelo. Tem algo por baixo do meu travesseiro e aqui está a canção da Lawren, ela pode até dizer que não é uma canção, mas para mim é.

" Loucura é eu não enlouquecer
Loucura é você está tão longe
E o seu cheiro tão perto.
Loucura é essa saudade matar-me
E eu não conseguir lutar.
Loucura é você perder tanto tempo ocupada com apenas letras e números.
E agora não servirem de nada.
Quando você tentar compreender minha loucura vai descobrir que só um louco faria o que eu fiz.
E se o céu falasse...
E se as estrelas gritassem... E se os pássaros falassem minha língua...
Me diriam que eu não estou aqui para... perder tempo..
O certo já não faz mais sentido
A vida já não tem significado
E os cantos dos pássaros Já não são tão lindos.
E tudo em minha volta me diz que perdi tempo mesmo com todo tempo do mundo.
E se o céu falasse
E se as estrelas gritassem
E se os pássaros falassem minha língua
Me diriam que eu não estou aqui para perder tempo. "

Nada agora faz mais sentido que essas palavras, sinto que estou perdendo meus pais para sempre. Sinto que eu os afastei dos meus olhos. Ultimamente eles vinham querendo conversar e eu adiando, adiando porque achei que fosse alguma besteira dos meu pais. Justo hoje que queria dizer o quanto eu amo eles.

Pego meu telefone e mando mensagem para minha mãe:

- Onde estão?

- Vocês viajaram para onde? Eu amo vocês.

- Porquê estão fazendo isso comigo?
A mensagem é enviada mas não é visualizada. Me bloquearam?
Meu quarto está uma bagunça, assim como minha cabeça. Ultimamente minha mãe não estava arrumando e eu nem notei.
Será que vou ficar aqui sozinho? Eles vão demorar a voltar?

Não. Vão voltar rapidinho.

Meu telefone toca:

- Lin? Era a Meline.

- vamos a um sarau literário hoje a noite?

- Não sei Meline.

- Vamos! Vai ter leitura de poesia, autoral e não autoral. Não quero ir sozinha por favor.

- Realmente não vai dá. Você já chamou seu namorado?

A Meline ama poesia, poesia define-a. Ela sempre me chama para esses tipos de eventos e eu nunca vou, ainda não sei como ela me chama.

- Sim. Ele não deu certeza se iria, mas sei que ele não vai. vamos Lin... Sei que no fundo você é sensível e gosta.

- é que...

Queria dizer o quanto eu estava me sentindo sozinho. Por conta da ausência dos meus pais. Que não faz mais de 24 horas. Mas o choque ainda é intenso.

- O que foi? - parece perceber meu tom de voz. - Sua voz não está normal... você sabe que pode contar comigo né?

Meline parece suspeitar da minha voz.

- Tá certo... Eu vou hoje a noite com você. - Afirmo que vou com ela, sei que ela não vai me deixar em paz agora até eu ir. É melhor dizer que vou ou então ela não largará o meu pé.

- Isso. Logo estarei ai. - Diz e desliga o telefone.

Agora não sei o que fazer sozinho aqui nesse imenso escuro.

Agora entendo a dor da Lawren mesmo meu caso não sendo igual ao dela, meus pais ainda podem voltar. A mãe dela não.

E isso de alguma é igual.

Agora estou sozinho nessa casa que só é completa com eles.

A solidão deixa o homem forte e ela é precisa. - A voz do meu pai soa no meu ouvido.

Tem alguém batendo na minha porta. Tomo um susto e volto a realidade.

- Fala cara! Era o Josh, veio me buscar para irmos a praia provavelmente.

- então cara não vai dá... - Falo já esperando o Josh desanimar.

- Porque não? Que aconteceu? Tem alguma gatinha na área?

- Josh tenta adivinhar o motivo pelo qual estou com cara de triste. Tudo ele inclui mulher é impressionante.

- Meus pais... Viajaram sem ao menos me dizer o motivo e também não me mandam notícias.

- então... Você quer dizer que está sozinho nessa casa?

- O Josh abre um sorriso, parece feliz com a ideia de morar em uma casa sozinho.

- Sim. - Calmamente digo.

- Desculpa minha empolgação cara, é que pensei que você ia gostar da idéia de morar sozinho...

- Josh tenta se explicar.

- É que...eles nem me avisaram para onde ia, nem o motivo. Queria pelo menos me despedir deles.Tudo que eu queria...

- Fica frio! já eles estão de volta. Qualquer dia você acorda e eles estarão aí. O tio Otávio não colocaria você nesse castigo.

- Josh tenta me animar-me.

- Então, vamos a praia? Vai ser bom pra esfriar sua cabeça.

O rosto de menino fofinho do Josh não consegue me convencer.

- É... Que já marquei com a Meline de ir a um sarau literário. Ela insistiu tanto que aceitei... não sei onde esconder minha cabeça.

- com a Mel? - O semblante do Josh muda quando falo na Meline.

- É. Ela é minha amiga esqueceu? E por falar nisso o que vocês conversaram no Quiosque?

- Nada de mais cara! Ela realmente me esqueceu. Me falou que eu não mereço ela. E que ela está super feliz com o meu primo, o otário do Eduardo. Sério! Eu faria a Mel feliz se ela me desse outra chance.

Queria saber quando ele vai aceitar que perdeu a Meline de vez. O Josh é daqueles caras que demora para entender a situação. Quando ele mesmo faz a merda.

- Você já teve sua chance! E o que você fez com ela?

- A Meline parece que ouviu tudo atrás da porta. Mas a cara de surpresa do Josh é a melhor coisa que eu possa ver no momento.
O Josh fica imóvel como sempre fica quando está contra a parede. Todo seu sarcasmo some.
- Vamos Lin? Já estamos atrasados.
Meline finge não ver o Josh e me chama apressadamente.

Estrela BináriaOnde histórias criam vida. Descubra agora