Há uma pequena neblina sobre a esquina da Rua Rockfeller com a Avenida Hercule Poirot. E talvez seja pela frente fria chegando à cidade ou talvez seja só para caracterizar todo um cenário furreba de um suspense hollywoodiano meia boca. Até porque também há possas entre o meio fio e o asfalto, vapor saindo dos bueiros e um cheiro ruim característico do centro da cidade.
E eu até falaria de como as ruas parecem estranhamente desertas hoje, mas logo me lembro de que o relógio marca três horas da manhã e uns quebrados minutos cretinos.
E é terça-feira.
Ou quinta?
Enfim, isso não é lá muito importante...
O importante é que os vidros da loja estão intactos, os alarmes desligados e não há sinal algum de polícia à vista. Também pudera, devo mesmo ter gastado todos os meus restantes neurônios em hackear todo o sistema de segurança dessa loja cretina. Quem iria adivinhar que um comerciozinho meia boca de instrumentos musicais poderia ter três sistemas diferentes? Com IPs diferentes?
Eu que não. Até porque já entrei em lugares muito mais valiosos por menos.
Bem menos.
Essa merda de piano precisa mesmo ser importante pra ele.
Confisco a tela do celular mais uma vez. Mas não existe nada por ali. O que faz com que eu pense que, dessa vez, Yoongi deve mesmo estar chateado. Não é por menos, afinal. Foram sete dias desaparecida. E eu até mandaria uma mensagem ou arriscaria fazer uma ligação, mas eu estava ocupada demais recebendo choques no meu cérebro ou trepando em árvores para me esconder quando fugi daquela gangue maldita.
Não estava nos meus planos ficar tanto tempo fora, obviamente. Mas o lance todo com o decodificador deu errado e o alarme soou forte pela residência inteira. E, bem, se existem dias em que as coisas não podem dar errado, esse era um deles. Até porque era mesmo a casa do chefe do tráfico do sul da cidade. E, levando em consideração sete dias sumida, nenhum esforço foi poupado em tentativas de arrancar alguma informação útil de mim.
Não que tenha valido de algo, mas as tentativas foram boas, preciso admitir.
Volta e meia eu ainda sinto meu cérebro sofrer espasmos...
Respiro fundo e cruzo os braços, impaciente. Tenho-me apoiada contra o prédio histórico, minhas costas na parede fria e suja. E se fosse em outros tempos - e se não fosse Yoongi -, eu já teria dado o fora daqui. Mas nem preciso dizer que ele tem certa vantagem e que mereço essa espera vagabunda nessa esquina molambenta. Até porque foi uma semana inteira. Tanto sei do fato que ainda estou aqui. Que planejei por dois dias invadir a sua loja de instrumentos musicais favorita. Que hackeei a merda do sistema de segurança só por causa de um piano branco que ele namora já tem meses da vitrine.
Ok. Eu sei. Sei bem que eu poderia ter feito algo mais profundo e sentimental. Que poderia mesmo ter roubado o piano e entregue em sua casa. Mas vamos por partes. Yoongi mora em um apartamento tão pequeno que a cama é também sua mesa de jantar. E se esse não fosse o problema, me diga como eu levaria um piano de, sei lá, vinte mil toneladas para o seu apartamento? Um piano roubado?
Eu sou ladra, sou uma ótima hacker e tenho certeza que ninguém me bate no lance de arrombar portas de primeira. Mas eu ainda não consegui desvendar o mistério por detrás do teletransporte.
Ainda.
Sem contar que não quero enfiar meu namorado nesse mundo imundo. Até porque ele realmente acredita que presto assistência a novos franqueados. Cafés. Lojas de café. Trabalho com elas. Ele acredita nisso desde a primeira vez que nos encontramos.
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Thieves of Dario • Yoongi
Romance[CONCLUÍDA] A namorada de Yoongi era especial. Uma mescla de qualidades e defeitos contraditórios que o deixava intrigado. O garoto não entendia exatamente o porquê, mas se sentia assim. Ela tinha um humor excêntrico, um comportamento meio torto e...